Boa Vista, capital de Roraima, onde se encontra este colunista, é uma cidade com 413 mil habitantes que recebeu cerca de 150 mil refugiados do regime de Nicolás Maduro. Há venezuelanos que vivem nos campos da ACNUR, a agência da ONU para refugiados, no âmbito da Operação Acolhida. Outros já começam a se integrar à comunidade brasileira e estão em profissões como garçonetes, atendentes de farmácia, ajudantes em supermercados ou na construção civil. Algo os une: a enorme preocupação com os que ficaram e o desejo de que os brasileiros compreendam que o País é vítima de um governo ditatorial, opressor, e quem mais sofre com os desatinos de seus governantes é a população mais pobre.
Hoje, no país vizinho, portar um celular com imagens de alguma ação violenta perpetrada pela Guarda Nacional Venezuela é considerado crime. Por isso, muitos têm enviado registros da brutalidade do regime para amigos e parentes no Brasil na esperança de que as imagens se espalhem para o mundo. Também têm criado canais no Telegram para a propagação de imagens. Um dos casos é o https://t.me/sosvenezuela/132, mas há muitos outros. As imagens são chocantes.
“O povo está ameaçado, basicamente isso. A realidade que a população tem nos seus celulares eles não podem publicar. Se colocam nas redes sociais, o governo vai atrás deles”, relata um desses imigrantes de Boa Vista. “A realidade do que acontece hoje na Venezuela, lá dentro, não tem chegado nos outros países, e o governo fala que é mentira. Se eu estivesse na Venezuela e simplesmente te falasse isso, eu já estaria preso, por terrorismo, sei lá, por qualquer coisa que eles inventam apenas por falar com você”, continuou.
Os venezuelanos se comunicam por áudios de Telegram. Pedem e mostram ao “periodista” um relato em tempo real dos acontecimentos. Chega rapidamente uma mensagem: “Antes saía muita coisa no TikTok, mas agora te buscam a polícia e até te matam. Tudo que publiquei, eu apaguei. Em Maracaibo tinha um vídeo de um menino de 15 anos que foi assassinado. Há uma menina, não sei se adolescente ou mulher, que dispararam no seu peito e a levaram”, diz uma voz masculina e jovem de um áudio.
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“Em outros países acham que é coisa de oposição, de extrema direita que querem agarrar o poder, mas a verdade é que não veem a realidade. Após o resultado das eleições começaram os distúrbios e começaram a disparar contra o povo, muitas coisas, coisas”, diz uma voz em áudio. Havia, nos acampamentos do Brasil, uma tênue esperança de que a vitória da oposição seria a possibilidade de voltar para a casa. Uma ilusão.
Talvez seja o momento em que as autoridades brasileiras que possuem algum poder de alterar o rumo dos acontecimentos, além das reuniões de cúpula, venham a Roraima dialogar com as maiores vítimas da ditadura e levem em consideração o ponto de vista deles sobre o assunto. Muitos querem voltar. Mas sabem que não têm nenhuma chance enquanto Maduro estiver na Presidência.
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