Os ataques pessoais do presidente Lula ao presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, em pleno dia de reunião do Copom, são uma evidência de que frente ao ceticismo dos mercados quanto à política econômica do governo, o petista, junto com seu partido, volta ao seu curso natural de fazer política: nomeando os inimigos e os colocando como nefastos ao País.
Funcionou contra os tucanos por mais de uma década. FHC, hoje com 93 anos, era o responsável pela “herança maldita”. Hoje o PSDB, partido do ex-presidente, está sem relevância política e nem é ameaça eleitoral. Não faz sentido colocá-lo como inimigo do povo. E é sempre preciso achar um culpado externo, nem que seja para próprios erros.
Jair Bolsonaro, outro que governava indicando desafetos, está inelegível. É ainda o nome mais forte do País no campo reacionário, capaz de comandar derrotas do governo no Congresso. Mas não têm mais ferramentas de poder concretas na mão. É inimigo, mas não serve mais para se colocar a culpa de certos problemas que vivemos – como a falta eminente de dinheiro.
Roberto Campos Neto sim. Seria um “homem do bolsonarismo” a boicotar o País. A nos impedir que consigamos a tal almejada prosperidade. Nessa fábula que Lula e o PT querem nos contar, nem mesmo crise fiscal o País vive. Tudo invenção da mídia – pelo jeito, a depender de figuras como a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, a trégua com os meios de comunicação precisa acabar. Voltaram a ser os suspeitos de sempre. Até mesmo o pessoal liberal do centro, que votou em Lula para afastar Bolsonaro, já voltou a apanhar.
Leia também
Independentemente das qualificações técnicas do presidente do Banco Central, Campos Neto veste bem o figurino de algoz do Brasil. Banqueiro rico, foi nomeado por Bolsonaro, está à frente de um órgão autônomo ao governo (algo que o PT tem horror) e cometeu sérios erros políticos como votar em 2022 de camisa amarela, além de ter participado de encontros públicos questionáveis com políticos do campo oposicionista, como com o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas. Ou seja, ele também tem sua responsabilidade ao se colocar como alvo preferencial do petismo.
Além disso, o jogo de cena petista tem sua lógica política – apesar de parecerem que eles não acreditam muito na aritmética das contas públicas. No momento em que os ministros da Fazenda, Fernando Haddad, e do Planejamento, Simone Tebet, propõem cortes de gastos, eles vão em direção contrário, numa espécie de boicote a um setor do governo. Ou, mais cinicamente, querem mostrar à população que não tem nada a ver com que o próprio governo faz quando a pauta não é favorável.
O problema é a estratégia não traz ganhos palpáveis, ao contrário. Um presidente e seu partido em guerra contra uma instituição como o BC só traz mais turbulência, menos confiança ou elevação dos juros futuros. Não fará o dólar cair ou a bolsa subir, ao contrário. Mas há horas em que é melhor apostar no jogo de cena de caçar as bruxas do que tomar as difíceis medidas de ajuste. Isso se chama populismo.
Frente às declarações de Lula hoje, de ataque ao BC, quem terá confiança de que o novo presidente da instituição, a ser indicado por Lula em alguns meses, terá de fato independência? Até porque já vivemos essa história com a ex-presidente Dilma Rousseff. Houve a suspeita de queda forçada dos juros em sua gestão e as consequências sabemos: inflação, desemprego, elevação da dívida/PIB recessão, crise política, impeachment e uma crise que até hoje não superamos. Lula e o PT na verdade querem dos brasileiros o direito de errar novamente.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.