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Disputas de poder e o debate político-cultural brasileiro

Opinião|Debate: cada candidato quis criar seu próprio personagem, mas vai ficar a baixaria

Candidatos à prefeitura que se apresentaram em debate do Estadão quiseram se mostrar em figurinos bem específicos

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Foto do author Fabiano Lana

Com seus mais de 12 milhões de habitantes, São Paulo é uma cidade indecifrável. Uma capital mundial com sua combinação de opulência, miséria, concreto, asfalto, tráfego e tráfico. À diferença de uma cidade múltipla e enigmática, os candidatos à prefeitura que se apresentaram hoje em debate promovido pelo Estado de S. Paulo em parceria com o portal Terra e a Fundação Armando Alvares Penteado quiseram se mostrar em figurinos bem específicos, fechados, para serem identificados pelo eleitor. Entre momentos muito baixos, de brigas de bar, o que ficou de cada candidato:

Para quem esperava ideias arejadas e liberais da candidata do Novo, Marina Helena, deparou-se apenas com uma linha auxiliar do bolsonarismo mais caricato. Repetia expressões “como (sou) mãe”, falou em proibir celulares nas escolas, bradou contra o “comunismo”, contra o “Taxad” e o “desgoverno Lula”. Também disse que lugar de bandido é na cadeia. Marina também, aparentemente, fez uma suposta acusação fake sobre ideologia de gênero contra o prefeito, a conferir. O Novo parece ter ficado reduzido a velhos clichês.

Pablo Marçal de costas enquanto Tabata Amaral e Guilherme Boulos debatem Foto: Pedro Augusto Figueiredo/Estadão

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Guilherme Boulos, do PSOL, chegou no debate para combater o que pesa contra ele. A fama de radical. Estava bem barbeado e com um blazer bem cortado, para evocar ponderação. Repetiu algumas vezes que foi professor como vacina para a acusação de que não teria trabalhado para valer na vida. Lembrou que dialoga com prefeitos de vários lugares do mundo. Por outro lado, chamou o outsider Marçal de Padre Kelmon da eleição e recebeu de volta que será exorcizado num dos momentos mais vergonhosos da história dos debates para a prefeitura. Ganhou no troféu vestimenta elegante, melhor do que ser acusado de invasor de residências.

O bicho-papão das eleições municipais brasileiras, o ex-coach (?) Pablo Marçal, do nanico PRTB, ficou rico com cursos em que ensinariam os outros a ganharem dinheiro, mas que na prática só o tornou mais um milionário. Já se sabe que utiliza dos debates para fazer cortes e jogar nas suas potentes redes sociais. Com certeza utilizará a pergunta a Tabata na qual questiona o fato dela não ter uma candidata negra para depois exaltar sua própria vice “mãe, negra e mulher”. Também chamou Boulos “de PT Kids” e voltou a insinuar sobre uso de drogas (desnecessário dizer que não apresentou provas). Para evitar as acusações de superficialidade, disse que também é “jurista” e professor, no caso “o mais bem pago do país”. Foi com certeza o melhor no critério ex-coach de moralidade duvidosa.

Tabata Amaral, PSB, é tida como a “menina prodígio” entre os postulantes da prefeitura – houve uma insinuação misógina neste sentido por Marçal. Estudiosa e bem-informada, é a que melhor parece ter decorado scripts, regras. “Acho muito bonito que todo mundo virou professor nesse debate”, afirmou. Com tanto preparo, ganha o título de melhor aluna enfadonha. A caxiona mostrou as garras ao chamar o prefeito de “rouba mas não faz”, depois de ouvir que passa muito tempo fora de São Paulo (numa referência às idas de Tabata a Recife para visitar seu prefeito, João Campos.

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O candidato tucano, José Luiz Datena, claramente sente a dificuldade de ficar sob regras rígidas. Agora não conduz, não manda, mas precisa se submeter. Para afastar a acusação de ter feito tabelinha com Boulos, o cutucou sobre a posição de seu adversário contra o programa que zerou a fila de creches em São Paulo. Afirmou que o prefeito Ricardo Nunes tem medo de tirar o grupo criminoso PCC do sistema de transporte da prefeitura. Mas sem dúvidas tem a melhor locução.

O prefeito Ricardo Nunes, do MDB, tentou vestir o figurino de “prefeito”. Como dono da máquina, quis falar das conquistas da cidade e evitar confusões. Ficou com o título de vereador desconhecido que se tornou prefeito acidental de uma das maiores cidades do mundo.

Opinião por Fabiano Lana

Fabiano Lana é formado em Comunicação Social pela UFMG e em Filosofia pela UnB, onde também tem mestrado na área. Foi repórter do Jornal do Brasil, entre outros veículos. Atua como consultor de comunicação. É autor do livro “Riobaldo agarra sua morte”, em que discute interseções entre jornalismo, política e ética.

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