PUBLICIDADE

EXCLUSIVO PARA ASSINANTES
Foto do(a) coluna

Disputas de poder e o debate político-cultural brasileiro

Opinião|Investidores egoístas podem ajudar a sociedade, mas Lula segue com visão socialista da economia

Com a debacle de Bolsonaro, envolto em golpes e conspirações, Lula deve se imaginar como sem concorrentes na disputa pelo poder

PUBLICIDADE

Foto do author Fabiano Lana

Que capitalistas e investidores são pessoas gananciosas e muitas vezes prisioneiras de seus auto interesses é um consenso mesmo entre os defensores do sistema de livre mercado. Ficou de certa forma célebre o aforisma de Adam Smith, escrito no século 18, de que não é a boa-intenção do padeiro que faz o pão tornar-se melhor e mais barato, mas a concorrência que o obriga a aprimorar seus produtos. Caso não o faça, os consumidores irão preferir comprar o pão na padaria vizinha e ele irá a falência.

Smith, inclusive, não era favorável nem mesmo às associações de capitalistas. Quando estariam reunidos, em busca de algum acordo para evitar a competição, conspiravam contra o povo. O que favoreceria o cliente é a competição. O capitalismo seria o sistema amoral que aproveitaria o pior das pessoas e reverteria para os interesses da sociedade.

O presidente Lula parece adepto de visão socialista dos sistemas econômicos. FOTO: Pablo Porciúncula / AFP 

Já o socialismo não renuncia às intenções morais dos donos do meio de produção, como faz o capitalismo. Para se ter o poder, num regime socialista, é fundamental que se procure também o bem comum, em busca de uma sociedade próspera e igualitária. Em resumo, no capitalismo os objetivos individuais podem se dissociar dos interesses da sociedade. No socialismo, não. Daí que em regimes comunistas, os burgueses, inimigos do povo, foram banidos ou mortos. Mas, na verdade, mostra a história, que o socialismo real não conseguiu obter o melhor das pessoas nem mesmo trazer o desenvolvimento econômico almejado.

PUBLICIDADE

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em seu terceiro governo, parece ter deixado cada vez mais claro que possui uma visão realmente socialista dos sistemas econômicos. Quer atacar o lado voraz dos investidores como se fosse um mal em si para a sociedade. Disse Lula 3, literalmente, em entrevista ao SBT onde questionou a distribuição de dividendos extras da Petrobras: “Se eu for apenas atender a choradeira do mercado você não faz nada. Porque o mercado, vou contar uma coisa para vocês, mercado é um rinoceronte, dinossauro voraz. Ele quer tudo para ele, nada para o povo. Será que o mercado não tem pena das pessoas que passam fome?”.

Sim. Com relação às intenções dos agentes de mercado, Lula pode estar coberto de razão. Podem ser pessoas vorazes que não têm pena das crianças famintas. O que eles querem é que os recursos de investimentos se transformem em lucros. Não seriam movidos pelos melhores sentimentos na hora de decidir onde alocar recursos. Como eles reagirão ao suspeitarem que uma empresa como a Petrobras voltará a ser guiada pelos interesses de um governo refratário ao capitalismo e ao lucros? Provavelmente irão buscar outras companhias para colocar seu dinheiro. Há muitas ao redor do planeta e a Petrobras compete com elas na busca pelo aumento de seu capital.

Publicidade

Na prática, então, falas como a de Lula farão com que a nossa principal empresa estatal tenha menos recursos para investir, pelo simples fato de que pode espantar as pessoas que estavam dispostas em colocar seu dinheiro lá. Sem considerar os minoritários e gente que optou em apostar na Petrobras ao invés de colocar suas parcas sobras em outras opções como a poupança ou um fundo qualquer. Mais dinheiro de investidores na Petrobras pode significar mais obras necessárias, mais empregos e mais desenvolvimento.

Quem pode perder com essa compreensão algo equivocada dos detentores de poder sobre o funcionamento do sistema capitalista é a própria sociedade. Por ser privada, a Vale escapou da sanha moralizadora de Lula. A Petrobras talvez tenha menos chance. Com a debacle de Bolsonaro, envolto em golpes e conspirações, Lula deve se imaginar como sem concorrentes na disputa pelo poder, por isso, talvez, não procure mais se aprimorar como o velho padeiro personagem de Adam Smith.

Opinião por Fabiano Lana

Fabiano Lana é formado em Comunicação Social pela UFMG e em Filosofia pela UnB, onde também tem mestrado na área. Foi repórter do Jornal do Brasil, entre outros veículos. Atua como consultor de comunicação. É autor do livro “Riobaldo agarra sua morte”, em que discute interseções entre jornalismo, política e ética.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.