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Disputas de poder e o debate político-cultural brasileiro

Opinião | Moro, Moraes, criminosos da Lava Jato e golpistas: todos errados ao mesmo tempo

É fundamental que o processo de investigação e punição contra os autores de uma tentativa de golpe de Estado sejam investigados e julgados de maneira transparente

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Foto do author Fabiano Lana

O Brasil parece viver um período histórico em que todo mundo discute entre si, mas ninguém realmente tem razão. São casos, não necessariamente simétricos, que envolvem a existência de crimes de um lado e juízes acusados de cometer abusos de outro. Mas a questão é que no ambiente em que vivemos, a visão dos acontecimentos se torna fantasticamente maniqueísta e sem sutilezas. Como se o erro de um juiz levasse à absolvição imediata dos acusados. Não é o caso.

A verdade é que a hipótese de o ex-juiz Sérgio Moro ter provavelmente extrapolado suas funções não significa que os desvios bilionários descobertos no âmbito da Lava Jato não tenham ocorrido. Isso vale também para o último episódio dessa série de desencontros: a revelação da Folha de S. Paulo das ordens algo heterodoxas do ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes, nos inquéritos que apuram o uso das fake news e dos antidemocráticos. O fato de Alexandre de Moraes ter exacerbado de seus poderes não tem como consequência que os movimentos golpistas do ex-presidente Jair Bolsonaro e de parte de seus assessores e apoiadores sejam uma mera elucubração.

Alexandre de Mores, ministro do Supremo Tribunal Federal, é alvo de polêmica por conta de mensagens Foto: Antonio Augusto/STF

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Entretanto, por mais que sempre haja juristas, políticos, militantes e colegas a defender as ações de Alexandre de Moraes, houve a impressão – e nesse caso a intuição vale muito – de que o juiz é bastante seletivo e mesmo subjetivo na condução dos inquéritos. Ficou comprovado que ele escolhe os alvos a bel prazer, investiga e pune – em alguns casos, por mera opinião, por mais repugnante que seja. E mesmo o pior criminoso merece ser ouvido e ter algum grau de proteção do Estado. Atualmente há uma condição assimétrica. Se a lei ou mesmo o regimento interno do STF permite as ações do ministro, deveriam ser corrigidos, para melhor balanceamento da democracia.

Mas na prática o que temos hoje, com a existência desses inquéritos presididos pelo STF, é a reinstaurarão da censura prévia no Brasil e mesmo, em algum nível, perseguição política. Hoje, o limite da liberdade de expressão no Brasil é a cabeça do ministro Alexandre de Moraes. O resultado deletério disso – reforçado por quem omitiu ou apoiou – é que uma extrema-direita golpista, hipocritamente, tem se colocado como bastião da luta pelo livre expressar – causa de grandes pensadores liberais como John Locke ou Stuart Mill. Não ajuda nada terem se passados quase dois anos das eleições e os inquéritos continuarem por aí, como uma assombração.

É fundamental que o processo de investigação e punição contra os autores de uma tentativa de golpe de Estado sejam investigados e julgados de maneira transparente, objetiva, impessoal. Até também para não oferecer argumentos jurídicos e políticos para o campo que tentou cometer os crimes. Da maneira como os inquéritos têm sido conduzidos, são um presente para os seguidores de Jair Bolsonaro alegarem que são perseguidos políticos.

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Como sabemos, quando alguém consegue se posicionar como vítima, ganha empatia, ganha militância. Nesse caso, o maior exemplo foi o próprio presidente Lula, que soube transformar sua condenação num dos maiores exemplos de ir do inferno de uma prisão em Curitiba para o céu do Palácio do Planalto em apenas quatro anos – após a revelação das conversas pouco republicanas de Sérgio Moro com os deslumbrados procuradores da Lava Jato. Curioso como quem aplaude a revelação contra Moraes vaiou quando era contra Moro e a recíproca é verdadeira.

Bolsonaro já sabe qual caminho trilhar: se fazer de vítima, tentar deslegitimar a Corte, eleger o máximo de senadores possível para pressionar ainda mais o STF e buscar sua absolvição. Os atos revelados de Alexandre de Moraes só ajudaram nesse caminho. Se vai dar certo é outra história, provavelmente não, pela configuração da Corte suprema, mas terá elementos para tentar fazer prevalecer a sua visão da história.

Opinião por Fabiano Lana

Fabiano Lana é formado em Comunicação Social pela UFMG e em Filosofia pela UnB, onde também tem mestrado na área. Foi repórter do Jornal do Brasil, entre outros veículos. Atua como consultor de comunicação. É autor do livro “Riobaldo agarra sua morte”, em que discute interseções entre jornalismo, política e ética.

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