Ainda é uma tendência, mas, nas três maiores cidades do Brasil, as primeiras pesquisas do segundo turno mostram que o eleitor opta por candidatos com propostas menos radicais ou com uma trajetória política menos beligerante.
Diante de postulantes marcados por uma conduta ideológica mais aguerrida, o votante parece ter feito um cálculo pragmático. Decide por quem em tese, na sua visão, é o mais capaz de fazer o que um prefeito precisa fazer: cuidar da zeladoria, da mobilidade urbana, de postos de saúde ou da iluminação.
Essa deliberação eleitoral pode ser capaz de neutralizar a “extrema” direita, no caso de Belo Horizonte ou no Rio, e a esquerda tida como mais radical, no caso de São Paulo.
Analisemos caso a caso. Eduardo Paes, um político que já migrou por diversos partidos sempre ao centro, derrotou um delegado ligado a Jair Bolsonaro no Rio de Janeiro. Em São Paulo, por mais que esteja com camisas bem alinhadas, barba bem feita e fala ponderada, Guilherme Boulos não conseguiu se livrar da pecha de “invasor”, adquirida dos tempos em que liderava o Movimento dos Trabalhadores sem Teto (MTST).
Em Belo Horizonte, até há poucas semanas poucos conheciam o atual prefeito, Fuad Noman, com 77 anos e longa trajetória nos bastidores da administração pública. Mesmo assim, até agora, preferem o mandatário a um político de 27 anos, Bruno Engler, que carrega em sua trajetória uma pauta bolsonarista ortodoxa, incluindo defesa da hidroxicloroquina e armar a população.
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É cedo para dizer que tal fenômeno se repetirá em 2026. A Presidência tem um sentido simbólico maior do que uma prefeitura, e o eleitor se guia mais, nos pleitos nacionais, por valores intangíveis do que por interesses concretos aferíveis em seu cotidiano.
Mas algo pode servir para reflexão: o centro poderia ter chances se apresentasse um candidato com potencial. A verdade, entretanto, é que neste momento não há nenhum à vista.
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