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Disputas de poder e o debate político-cultural brasileiro

Opinião | Petrobras: parte do governo Lula é tão atrasada que até o Centrão de Lira soa como modernizante

Perto das ideias intervencionistas, reestatizantes, antimercado do presidente, defeitos dos parlamentares tornam-se até uma vantagem

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Foto do author Fabiano Lana
Atualização:

Existe uma crítica recorrente ao Parlamento brasileiro, sobretudo ao Centrão. Nosso Congresso seria formado por políticos paroquiais, fisiológicos, conservadores (ou mesmo reacionários) que atrasariam o desenvolvimento do País. Isso tudo pode ser verdade. Mas frente às ideias intervencionistas, reestatizantes, antimercado, algo anos 50 do século 20, do presidente Lula e parte de sua turma, os defeitos dos parlamentares tornam-se até uma vantagem. Com a configuração hoje representada na Câmara e no Senado, a intenção nostálgica de um Brasil aos moldes de um mundo pré-queda do muro de Berlim tem muito menos chance de prosperar.

Veja o caso da Petrobras. A queda de braço no governo é para que a empresa distribua menos os lucros e invista mais no País. A intenção parece até ser graciosa. Mas a triste verdade é que revela um sonho de trazer de volta para o Brasil a ideia de que o desenvolvimento se dá sobretudo a partir de investimentos estatais conduzidos pelo presidente da República, que levaria os louros. Junto a isso, sonha-se com fechamento de mercado para proteger a burguesia nacional – mesmo que à custa de produtos mais caros e piores para o pobre consumidor.

Debate de parte do governo sobre a questão da Petrobras demostra visão atrasada na pauta econômica Foto: Pedro Kirilos / ESTADAO CONTEUDO

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O fascinante é que esse mesmo conceito foi reimplantado recentemente no Brasil e o resultado foi a fantástica recessão de Dilma Rousseff (lamento dizer que a crise não foi criada pela operação Lava Jato ou por alguns irresponsáveis que resolveram fazer oposição sistemática a partir de 2014 – teve origem muito mais profunda, que envolve ideologia e, talvez, sonhos megalomaníacos).

A ideia de um Estado conduzindo a economia em direção ao desenvolvimento funcionou razoavelmente bem entre o pós-Segunda Guerra e meados nos anos 70. O Brasil surfou nesta onda seja com o capitalismo de Estado de Juscelino Kubitschek ou mesmo com o milagre econômico dos governos militares. Sim, existe toda essa polêmica aí sobre se a atual gestão deve ou não condenar o golpe de 1964, mas o pensamento econômico do PT e dos generais da ditadura são, em alguns aspectos, indiferenciáveis. Relembremos que a bancada do PT e o tal deputado Jair Bolsonaro, por muitos anos, votaram da mesma maneira contra modernizações propostas na era FHC. Eram convictos quanto a isso.

O modelo de desenvolvimento gestado nos anos 50 começou a colapsar quando os sucessivos gastos em expansão dos governos e o aumento da dívida provocaram inflação, recessão, desemprego, juros e tudo mais que o brasileiro se acostumou a ver por décadas. Frente às dificuldades, muitos países mudaram para modelos mais abertos ao mundo, com ênfase em marcos jurídicos e facilidades para empreendedores. Retomaram a rota do desenvolvimento. Inclusive essa mudança foi conduzida até mesmo por governos de esquerda europeus, que fizeram as correções de rota. Caso de Felipe González, na Espanha ou Tony Blair, na Inglaterra, que buscou reformular as ideias do Partido Trabalhista.

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Lula e parte do PT, entretanto, continuam a buscar o desenvolvimento de olho no retrovisor. E, no terceiro mandato, querem viver ainda mais no passado. Rejeitam, por exemplo, essa economia onde um trabalhador prefere atuar por várias empresas de aplicativos ao mesmo tempo, optando por uma ou outra a partir de sua conveniência diária. Ficam perplexos quando motoboys não querem ver o setor onde atuam regulado.

Ainda possuem um ranço aos investidores, ao equilíbrio das contas e, sobretudo, ao capitalismo. Uma prova dessa tese é o bombardeio interno enfrentado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Ah, e como sabemos, acham que tudo que se opõe aos EUA é bom, mesmo que seja um grupo terrorista, mesmo que seja um ditador sanguinário e reacionário, mesmo que seja um país quer busca se expandir por meio de guerras, mesmo que seja um protoditador que fez 7 milhões de pessoas deixarem seu país.

O grupo conduzido atualmente por Arthur Lira no Congresso é o que é. Aparentemente, além de cargos, parece só ter interesse de arrancar nacos maiores do Orçamento para distribuir para suas bases. Além disso, é um empecilho e tanto para pautas que envolvem direitos individuais, como a liberação de drogas leves e outras questões que o mundo já evolui. Por nossa sorte, na pauta econômica, esse mesmo Congresso tão criticado foi quem aprovou matérias complexas como as reformas da Previdência e tributária.

Centrão comandado por Arthur Lira tem se mostrado mais moderno economicamente que parte do governo Foto: WILTON JUNIOR/ESTADÃO

Um detalhe triste é que o centro programático está sem relevância política no País, tanto por erros e covardias de seus integrantes, como pela tendência mundial de voto em setores mais radicalizados e estridentes, entre outras razões. Logo, hoje não se pode falar nem que ajudam, nem que atrapalham.

O Congresso, sobretudo o Centrão, parece só se mover quando os interesses pessoais de seus integrantes são atendidos. Mas essa paralisia, paradoxalmente, pode ser benéfica quando no poder há um grupo que possui ideias tão mofadas que, caso implantadas, poderiam levar o Brasil para outra grande crise e trazer de volta um novo aventureiro de ocasião. Nesse sentido, de ser uma barreira à besteira pretendida, o atrasado Centrão merece sim ser elogiado – não pelo que pretende fazer, mas por algumas barreiras que impõe ao que sobrevive do saudosismo nocivo.

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Opinião por Fabiano Lana

Fabiano Lana é formado em Comunicação Social pela UFMG e em Filosofia pela UnB, onde também tem mestrado na área. Foi repórter do Jornal do Brasil, entre outros veículos. Atua como consultor de comunicação. É autor do livro “Riobaldo agarra sua morte”, em que discute interseções entre jornalismo, política e ética.

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