Caiu o penúltimo dominó. Do ponto de vista da hierarquia, o próximo da lista a ser preso é o ex-presidente Jair Bolsonaro. A não ser que sejamos cínicos, absolutamente ingênuos, ou terrivelmente mal-informados, toda a trama golpista, em investigação pela Polícia Federal, tinha como principal beneficiário o então candidato derrotado nas eleições de 2022.
Tudo indica que o longo período, após o pleito, em que ficou isolado no Palácio da Alvorada, a residência oficial da presidência, Bolsonaro gastava seu tempo, junto com os comparsas, a imaginar conspiratas golpistas, planos mirabolantes, e até mesmo imaginar justificativas jurídicas para colocar em ação suas ideias criminosas, patéticas e estapafúrdias. Está na dúvida? Escute os áudios já divulgados pela PF de militares de alta patente em que se discute abertamente a rebelião contra a democracia – Fausto Macedo, do Estadão, trouxe vários. Aliás, nem os envolvidos negam mais suas intenções – estão a dizer algo como “fumamos mas não tragamos”.
O general Braga Netto era uma espécie de capitão desse time da subversão. Atuava desde buscar apoio na cúpula das Forças Armadas para o golpe, na deslegitimação do processo eleitoral, e mesmo junto aos lunáticos que se plantaram na frente dos quartéis à espera de uma intervenção – militar, divina, dos extraterrestres. Quem estava ali, na chuva e no sol, instigados por gente poderosa, aparentemente não obedecia aos ditames da racionalidade.
Se o fluxo for lógico, a prisão de Bolsonaro é questão de tempo (fora alguns personagens intermediários que também podem ir para o cárcere, como o general Heleno). Não sabemos ainda se o ex-capitão vai para a cela no decorrer das investigações ou após o julgamento. Nesse caso, além de fazer justiça, é preciso também pacificar o Paíss. O ex-presidente, desde sempre golpista, obteve mais de 49% dos votos dos brasileiros. Se as eleições fossem hoje teria mais de 30%. É um exército e tanto, ainda, disposto a defendê-lo.
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Cabe às instituições terem todo o cuidado devido para mostrar que apenas seguem as leis. A manutenção do ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes na frente do processo em nada ajuda, pois qualquer coisa que sai da caneta dele é apenas perseguição política para um gigantesco contingente de pessoas para os quais não importam os fatos.
A verdade é que milhões de brasileiros de fato acreditam que as eleições de 2022 foram fraudadas e a ação golpista de Bolsonaro era para evitar a consumação de uma fraude que levaria o “corrupto” Lula de volta à presidência da República mesmo após as descobertas da Lava Jato. Para muita gente, ainda, esse foi o principal crime: deixar o Lula subir a rampa.
Uma coisa é prender Bolsonaro. Outra é não alimentar ressentimentos dos que apostaram tudo na liderança de uma pessoa que revelou o que sempre foi: um delinquente político. Em tempos de ajustes fiscais, valores abusivos de emendas parlamentares, crise entre os poderes, talvez esse seja o grande desafio das instituições brasileiras nos próximos meses.
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