Ao longo de 2018, a Polícia Federal não deu tréguas um único dia para as organizações criminosas que se instalaram na máquina da administração pública. Multiplicaram-se as operações de grande envergadura e impacto político, em parceria com o Ministério Público Federal, a Receita e a Controladoria-Geral da União.
'Sem Fundos', 'Skala', 'Integração', 'Cartão Vermelho', 'Buona Fortuna', 'Prato Feito', 'Trato Feito', 'Ross', 'Furna da Onça' e tantas outras missões da PF levaram para a prisão ou colocaram sob suspeita empresários, doleiros, servidores públicos e políticos, inclusive o presidente Michel Temer (MDB), o senador Aécio Neves (PSDB/MG), o governador Pezão (MDB) e o ex-governador do Paraná Beto Richa (PSDB).
Fortunas em dinheiro vivo brotaram dos armários e guarda-roupas de investigados. Na casa do então prefeito de Mongaguá, litoral paulista, Artur Parada Prócida (PSDB), alvo da Operação Prato Feito - desvios da merenda escolar - os federais recolheram em maio incríveis R$ 4.613.610 e mais US$ 216.763. Em dinheiro vivo!
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Lava Jato nas Estradas
A primeira fase da Lava Jato em 2018, a 'Integração', mirou esquema de corrupção e lavagem de dinheiro em concessão de rodovias federais no Estado do Paraná que fazem parte do "Anel da Integração". Por ordens do então juiz federal Sérgio Moro, a PF prendeu o diretor-geral do DER, Nelson Leal Júnior, e o diretor-presidente da Econorte, Helio Ogama. Ambos se tornariam delatores meses depois e confessaram o esquema datado desde 1999.
O Gabinete da Casa Civil do ex-governador do Paraná, Beto Richa (PSDB), localizada na sede do governo estadual, foi alvo de busca e apreensão da 'Integração'. O tucano, que se candidatou ao Senado nas eleições 2018 e recebeu 377.872 votos, entrou novamente na mira da Lava Jato mais duas vezes em setembro, nas fases 'Piloto' e 'Integração II'.
Richa foi preso por quatro dias em outra operação, a 'Radiopatrulha', desta vez conduzida pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), braço do Ministério Público em Curitiba. Ele foi solto pelo ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes.
O tucano nega enfaticamente ligação com malfeitos em sua gestão.
PF dá Cartão Vermelho
Ainda em fevereiro, a Polícia Federal deflagrou a 'Cartão Vermelho' contra irregularidades na contratação dos serviços de demolição, reconstrução e gestão do estádio Arena Fonte Nova, em Salvador. O ex-governador da Bahia, Jaques Wagner (PT) teve a casa e seu gabinete vasculhados durante busca e apreensão. A investigação acusa o petista de ter levado R$ 82 milhões em propina e caixa dois das empreiteiras Odebrecht e OAS durante as obras, conduzidas em sua gestão. Wagner nega as acusações.
Durante as eleições, Jaques Wagner foi cogitado como possível substituto do ex-presidente Lula, condenado e preso na Lava Jato, na disputa presidencial. Em agosto, o ex-governador rejeitou a possibilidade de buscar a Presidência e disse que Fernando Haddad (PT), que eventualmente se tornaria o candidato petista, seria a escolha 'natural' do PT.
Jaques Wagner disputou uma vaga no Senado e foi eleito com 4.253.331 votos.
Belo Monte e a 'Buona Fortuna' Até o 'ministro do milagre econômico' da ditadura militar, o economista Delfim Netto, foi alvo da Polícia Federal em 2018. Ao deflagrar a fase 49 da Lava Jato, a 'Buona Fortuna', os agentes foram até a casa do ex-ministro da Fazenda para cumprir mandado de busca e apreensão. O motivo: recebimento de propina mediante contratos fictícios de consultoria sobre a construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, no Pará.
Os investigadores afirmavam que haviam sido rastreados pagamentos em valores superiores a R$ 4 milhões de um total estimado em R$ 15 milhões. O ex-ministro da ditadura nega.
Em depoimento prestado em agosto de 2016 ao delegado da Lava Jato Rodrigo Luís Sanfurgo de Carvalho, Delfim Netto, de 89 anos, afirmou que recebeu R$ 240 mil em espécie da Odebrecht em outubro de 2014 por 'motivos pessoais, por pura conveniência', devido a um serviço de consultoria que ele teria prestado à empreiteira. Ele alegou ainda 'não ter tido ideia' que o valor pago veio do setor responsável pelo pagamento de caixa dois da Odebrecht.
Os amigos do presidente
Por determinação do ministro do STF Luis Roberto Barroso, a Polícia Federal deflagrou a Operação Skala para prender temporariamente amigos muito próximos do presidente Michel Temer (MDB), entre eles o empresário e advogado José Yunes, o presidente da Rodrimar, Antonio Celso Grecco, o ex-ministro da Agricultura (Governos Lula/Dilma) Wagner Rossi e o coronel da reserva da Polícia Militar João Batista de Lima, o Coronel Lima.
O grupo, junto com Temer, é investigado em inquérito instaurado em setembro de 2017 para investigar suposto benefícios à Rodrimar em decreto editado por Temer para o setor portuário. O emedebista e seus aliados próximos negam envolvimento com esquema de propinas.
Operador do PSDB, ex-diretor da Dersa é preso duas vezes
A Polícia Federal não prendeu apenas uma, mas duas vezes o ex-diretor da Dersa (Governos José Serra/Geraldo Alckmin), Paulo Vieira de Souza, apontado como operador do PSDB e acusado de desvios de recursos, em espécie e em imóveis. Na primeira ordem de prisão, em 6 de abril, a juíza federal Isabel do Prado também decretou o bloqueio de R$ 113 milhões em quatro contas atribuídas a Paulo Vieira de Souza na Suíça.
O ex-diretor da Dersa ficou sob custódia até 11 de maio, quando foi solto pelo ministro Gilmar Mendes, do Supremo. No fim do mesmo mês, a PF prendeu Vieira de Souza pela segunda vez para 'assegurar a instrução criminal' após supostamente ele ameaçar uma testemunha. Dias antes, ele havia dado entrevista ao Estado no qual afirmou 'não ter ninguém para entregar' em delação.
'Câmbio, Desligo' caça os maiores doleiros
Em maio, delação dos doleiros Vinícius Vieira Barreto Claret, o Juca Bala, e Cláudio Fernando Barbosa, o Tony, revelaram a existência de esquema que movimentou pelo menos US$ 1, 6 bilhão em três mil offshores em 52 países. A informação resultou na 'Câmbio, Desligo', que mirou doleiros em vários Estados do País.
Um dos alvos foi o doleiro Dário Messer, o 'doleiro dos doleiros', que tinha residência no Brasil e no Paraguai. O ex-governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (MDB), também foi mirado pela operação. Ambos foram denunciados junto com 60 doleiros, empresários e agentes públicos. A Lava Jato carioca imputa a todos lavagem de dinheiro, evasão de divisa, corrupção passiva e operação financeira não institucionalizada.
Mensalão na 'Furna da Onça'
A passagem da Operação 'Furna da Onça' pela Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), no início de novembro, levou à prisão dez parlamentares estaduais: André Correa (DEM), Edson Albertassi (MDB, nova ordem de prisão, mas já estava custodiado em Bangu), Chiquinho da Mangueira (PSC), Coronel Jairo (MDB), Jorge Picciani (MDB, nova prisão, continuando em domiciliar), Luiz Martins (PDT), Marcelo Simão (PP), Marcos Abrahão (Avante), Marcus Vinícius "Neskau" (PTB) e Paulo Melo (MDB), que já estava preso em Bangu.
O grupo é suspeito de integrar esquema de corrupção, lavagem de dinheiro e loteamento de cargos públicos e mão de obra terceirizada em órgãos da administração estadual, em especial a Assembleia Legislativa. Em troca, recebiam um 'mensalinho' durante o mandato obtida a partir de sobrepreço de contratos federais e estaduais. Todos negam as acusações.
Pezão preso
Na manhã de 29 de novembro, a Polícia Federal se deslocou até o Palácio Laranjeiras, sede do governo do Rio de Janeiro, e de lá saiu com o governador Luiz Fernando Pezão (MDB), preso na 'Boca de Lobo', desdobramento da Lava Jato na capital fluminense.
A procuradora-geral Raquel Dodge alegou ao ministro Félix Fischer, do Superior Tribunal de Justiça, ter registros documentais de suposto pagamento em espécie de R$ 39 milhões (valores atualizados) a Pezão entre 2007 e 2015, frutos de propina. Segundo a PGR, se continuasse solto, Pezão poderia dificultar a recuperação do dinheiro e dissipar o patrimônio em prática criminosa.
Pezão foi encaminhado para a Sala de Estado-Maior do Batalhão Especial Prisional devido à prerrogativa do cargo. O espaço não se assemelha a uma cela tradicional. Na última semana de 2018, o ministro Dias Toffoli, presidente do Supremo, autorizou a permanência do governador na unidade prisional militar mesmo após o fim de seu mandato. Desde a prisão de Pezão, o governo do Rio segue nas mãos do vice-governador, Francisco Dornelles.
PF vasculha casa de Aécio
As investigações sobre suposto pagamento de propinas do Grupo J&F levaram a Polícia Federal até o apartamento da família do senador Aécio Neves (PSDB-MG) em Ipanema, no Rio de Janeiro. Agentes da Operação Ross, deflagrada em dezembro, vasculharam endereços do tucano, de sua irmã Andréa Neves e do deputado Paulinho da Força (SD-SP). A investigação também aponta para os deputados Cristiane Brasil (PTB-RJ) e Benito Gama (PTB-BA) e aos senadores Agripino Maia (DEM-RN) e Antonio Anastasia (PSDB-MG).
Os investigadores rastreiam R$ 110 milhões em supostas propinas em troca de favorecimento em eventual governo presidencial de Aécio Neves, que disputou e perdeu as eleições de 2014 para a ex-presidente Dilma Rousseff (PT). A segunda fase da Ross, deflagrada na semana retrasada mirou a outros endereços de Aécio em Belo Horizonte.
A defesa do tucano nega irregularidades e afirmou que delações dos executivos do Grupo J&F querem 'transformar as doações feitas a campanhas do PSDB, e devidamente registradas na justiça eleitoral, em algo ilícito para, convenientemente, tentar manter os generosos benefícios de seus acordos de colaboração'. Neste ano, Aécio se candidatou a deputado federal e foi eleito com 106.702 votos.
R$ 1 milhão!
Na Operação Trato Feito, desdobramento da Prato Feito que prendeu pela segunda vez no ano o prefeito de Mauá, Átila Jacomussi (PSB), a Polícia Federal apreendeu no dia 13 de dezembro R$ 1,087 milhão em dinheiro vivo em poder de investigados - a dinheirama em dólares (US$ 150,3 mil), euros (EUR 29,4 mil) e reais (R$ 372,1 mil) foi confiscada de empresários e políticos.
A PF descobriu o que acredita ser o 'mensalão' do prefeito de Mauá e 22 dos 23 vereadores da cidade situada na Grande São Paulo.
Jacomussi já havia sido preso em maio, por suspeita de desvio de dinheiro de contratos da merenda escolar, mas na ocasião acabou solto por ordem do ministro Gilmar Mendes.
Também é alvo da Trato Feito o ex-secretário de Governo de Mauá João Eduardo Gaspar.
Quando Átila foi preso pela segunda vez, seu advogado, o criminalista Daniel Leon Bialski reagiu com veemência. "Este novo e arbitrário decreto de prisão nada mais faz do que requentar fatos que já eram conhecidos e tinham motivado o decreto anterior que foi revogado pela Suprema Corte. O prefeito não descumpriu qualquer das medidas impostas. Essa decisão afronta e desafia a autoridade da medida antes concedida. Não é admissível dar uma nova roupagem para fatos pretéritos e conhecidos para se renovar o pedido de prisão. A medida além de ilegal, não possui lastro empírico e nem idônea motivação."
Por seu lado, a Câmara de Mauá, em nota, afirmou 'mantém-se, como sempre esteve, à disposição da Justiça, bem como das demais instâncias de poder, para prestar esclarecimentos que se fizerem necessários'.
PF ataca desvio de merenda com 'Prato Feito'
Em maio, a Polícia Federal prendeu no âmbito da Operação Prato Feito - investigação sobre desvio de recursos da merenda escolar - o então prefeito de Mongaguá, no litoral sul de São Paulo, Artur Parada Prócida (PSDB). Na residência do tucano, empilhadas organizadamente em um armário, cédulas de dinheiro vivo que perfaziam o montante de R$ 4.613.610 e mais US$ 216.763.
Prócida foi preso em flagrante por crime de lavagem de dinheiro. Ele alegou que a fortuna tinha origem em herança do pai. Em agosto, a Câmara de Mongaguá o tirou de vez do cargo.
Lava Jato 'Sem Fundos'
Em novembro, a PF deflagrou a Operação Sem Fundos, fase 56 da Lava Jato que derrubou esquema de corrupção instalado na construção da Torre de Pituba, sede da Petrobrás em Salvador. Empreiteiros foram presos.
O ex-presidente do Petros (Fundo Petrobrás de Seguridade Social) Wagner Ribeiro e empresas ligadas a ele foram alvo de buscas. Marice Correa, cunhada do ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto e o marqueteiro ligado ao PT Valdemir Garreta foram presos em regime temporário por suspeita de ligação com propinas de R$ 68 milhões ao partido.
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