BRASÍLIA – O nome favorito da cúpula do PT para comandar a Procuradoria-Geral da República (PGR) sempre diz que a música o faz uma pessoa melhor. Trata-se do subprocurador Antonio Carlos Bigonha, pianista e compositor que já teve canções gravadas por Nana Caymmi.
Intitulado “Azulejando”, o CD de estreia de Bigonha, lançado em 2004, traz na capa azulejos de Athos Bulcão feitos especialmente para a fachada de sua casa, em Brasília, onde um piano de cauda ocupa lugar de destaque. Mestre em música, o subprocurador não se furta a dar uma ‘palinha’ para os amigos, do clássico ao popular.
Bigonha ganhou apoio, nos últimos dias, na disputa pela cadeira hoje ocupada por Augusto Aras na PGR. O movimento ocorre ao mesmo tempo em que o ministro da Justiça, Flávio Dino, também se fortalece na corrida pela vaga de magistrado no Supremo Tribunal Federal (STF).
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve decidir os nomes que vai indicar para a PGR e para o Supremo após voltar de sua viagem a Nova York, onde participa, nesta terça-feira, 19, da abertura da 78.ª Assembleia-Geral da Organização das Nações Unidas (ONU).
Sem riscos
Sob o argumento de que o governo não pode correr riscos em julgamentos e ações, Lula quer alguém de sua inteira confiança para os dois cargos. Em 2018, o petista foi preso no âmbito da Lava Jato, acusado pelo Ministério Público de receber propina da empreiteira OAS no caso do tríplex do Guarujá. A condenação foi anulada pelo Supremo, em 2021.
Embora ainda se fale no meio jurídico sobre o possível aparecimento de outro nome na última hora, a competição para a PGR, no cenário de hoje, está entre Bigonha e o vice-procurador-geral eleitoral Paulo Gonet, que foi sócio do ministro do Supremo Gilmar Mendes no Instituto Brasileiro de Ensino, Desenvolvimento e Pesquisa (IDP). Nenhum dos dois, porém, consta da lista tríplice entregue pela categoria a Lula.
Ao contrário do que ocorreu em outros mandatos, o presidente disse que, desta vez, não pretende seguir a lista, composta por Luiza Frischeisen, Mário Bonsaglia e José Adonis Callou. Na prática, o chefe do Executivo não é obrigado a respeitar essa votação e pode escolher qualquer subprocurador na ativa para o comando do Ministério Público Federal.
Desde o primeiro mandato de Lula, Bigonha é amigo de José Dirceu, que foi ministro da Casa Civil, e de José Genoino, ex-presidente do PT. Ao lado dos atuais deputados e senadores do partido, Dirceu e Genoino – que foram condenados no processo do mensalão e estão de volta à cena política – têm feito campanha para ele.
O subprocurador que agrada aos petistas se aproximou mais do mundo político quando foi presidente da Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR), de 2007 a 2011. Na década de 90, Bigonha atuou no caso dos anões do Orçamento e propôs uma ação judicial que pedia o bloqueio dos bens do então deputado João Alves, pivô daquele escândalo.
Enquanto o comando do PT defende o subprocurador, Gilmar Mendes e o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Alexandre Moraes – que também integra as fileiras do STF –, pregam o nome de Paulo Gonet. Os dois já conversaram com Lula sobre o assunto. Saíram do Palácio da Alvorada, no entanto, sem nenhuma pista.
Aliados do presidente dizem que ele dá sinais trocados sobre o que pretende fazer. Tanto é assim que, antes de viajar para Nova York, disse que estava aberto a novas indicações para a Procuradoria-Geral da República.
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