Febraban assina manifesto e endossa reação da sociedade em defesa da democracia

Entidade que reúne instituições financeiras decide assinar manifesto em elaboração pela Fiesp; Caixa e BB não aderem e Bolsonaro ironiza carta da Faculdade de Direito da USP

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Atualização:

Às vésperas do início do período eleitoral, a reação a ataques ao sistema de votação avança com a adesão de entidades representativas de setores econômicos e a participação da sociedade civil. Nesta terça-feira, 26, a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) decidiu assinar um manifesto em defesa da democracia em elaboração pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). Em 24 horas, outro documento – a “Carta às Brasileiras e aos Brasileiros” –, da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, ganhou mais de 165 mil signatários.

A Caixa e o Banco do Brasil não endossaram o documento intitulado “Em Defesa da Democracia e da Justiça”. Em tom mais moderado que o texto já assinado por juristas, empresários, banqueiros e artistas, o manifesto das entidades será publicado em jornais em 11 de agosto. No mesmo dia, dois atos serão realizados na unidade da USP – uma homenagem a ministros de Cortes Superiores, no salão nobre, e a leitura da carta, nas arcadas.

A sede da Fiesp,na Avenida Paulista; entidade elaborou texto pró-democracia Foto: Julia Moraes/Divulgação

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Após reiteradas declarações infundadas sobre fraudes nas urnas, o presidente Jair Bolsonaro (PL) disse ontem que não precisa de “nenhuma cartinha” para dizer que defende a democracia.

O manifesto da Fiesp que ganhou o apoio da Febraban terá ainda a assinatura de entidades da sociedade civil, como a Comissão Arns e o Geledés. Há a expectativa de que a Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústria de Base (Abdib) também endosse o texto, assim como parte do agronegócio. Com o apoio aos tribunais, a ideia é se antecipar a atos de apoiadores do presidente, previstos para o 7 de Setembro.

No ano passado, a possibilidade de assinar um manifesto semelhante diante das investidas de Bolsonaro contra o Supremo Tribunal Federal (STF) dividiu a Febraban. Houve atrito interno, e Caixa e BB ameaçaram deixar a entidade. A crise foi apaziguada após a federação retirar o endosso ao documento. Agora, a Febraban, “no âmbito de sua governança interna, por maioria, deliberou por subscrever documento encaminhado” pela Fiesp. A Febraban é a principal entidade representativa do setor bancário. Tem 119 instituições financeiras – de um total de 155 em operação no Brasil – que representam 98% dos ativos totais e 97% do patrimônio líquido das instituições bancárias.

Carta

O site da Faculdade de Direito registrou 11 mil acessos por hora, um recorde – a página já teve seis milhões de acessos. A carta foi lançada com 3 mil assinaturas. Um dos novos signatários foi o ex-presidente do STF Joaquim Barbosa – nove ex-ministros já haviam assinado o texto, que pretende repetir, simbolicamente, a leitura da “Carta aos Brasileiros” pelo professor Goffredo da Silva Telles, em 1977, durante a ditadura militar.

Na virada da noite de terça para quarta, a adesão já chegava a 30 mil. No manifesto disponível ao público estão nomes como Roberto Setubal, Candido Bracher e Pedro Moreira Salles (Itaú Unibanco), Pedro Passos e Guilherme Leal (Natura), Walter Schalka (Suzano) e Horácio Lafer Piva (Klabin).

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Ao Estadão, Schalka disse que nunca viu uma mobilização como a atual no meio empresarial. Piva afirmou ao Estadão/Broadcast que a democracia é “uma fênix que renasce exatamente por ser o único sistema político que tem no seu cerne a liberdade”. “Mas nossa história já provou que ela pode ser nocauteada”, disse.

Jantar

No mesmo dia dos atos na unidade da USP, quando serão comemorados 195 anos de fundação da faculdade, Bolsonaro terá jantar na capital paulista com empresários do Esfera Brasil, coordenado pelo empresário João Camargo. O grupo tem liderado encontros com políticos de diferentes partidos. Entre os nomes que costumam ser convidados para as reuniões estão Abilio Diniz (Península Participações) e Flávio Rocha (Riachuelo). Até agora, nenhum dos três consta da lista de signatários do manifesto em defesa da democracia.

Para Bolsonaro, a carta da USP é “manifesto político”. “Vivemos em um país democrático, defendemos a democracia, não precisamos de nenhuma cartinha para dizer que defendemos a democracia. Dizer que queremos cumprir e respeitar a Constituição, não precisamos de apoio ou sinalização de quem quer que seja”, afirmou o chefe do Executivo na convenção do PP que selou o apoio do partido à sua candidatura à reeleição. COLABORARAM MURILO RODRIGUES ALVES, FRANCISCO CARLOS DE ASSIS, EDUARDO GAYER E IANDER PORCELLA