“Se eu quiser vencer uma batalha, eu preciso construir uma narrativa para destruir o meu potencial inimigo.” A frase dita por Lula ao lado de Nicolás Maduro, durante visita do ditador venezuelano ao Brasil, é uma confissão do método usado e recomendado pelo presidente.
Ela passou quase despercebida, porque as reações nacionais e internacionais focaram na aplicação dele ao caso do sucessor de Hugo Chávez:
“Companheiro Maduro, você sabe a narrativa que se construiu contra a Venezuela, de antidemocracia e do autoritarismo. Acho que cabe à Venezuela mostrar a sua narrativa, para fazer as pessoas mudarem de opinião... É preciso que você construa a sua narrativa. E eu acho que, por tudo que nós conversamos, a sua narrativa vai ser infinitamente melhor do que a narrativa que eles têm contado contra você... Nossos adversários vão ter que pedir desculpa pelo estrago que eles fizeram na Venezuela.”
Lula, porém, já havia aplicado o mesmo método ao caso de José Dirceu. O presidente declarou, em fevereiro, que o mensaleiro petista também condenado pelo petrolão “não tem que andar escondido, tem que colocar a cara para fora e brigar”.
“Você tem que brigar para construir uma outra narrativa na sociedade brasileira.”
Dirceu está condenado em três instâncias por corrupção, com pena fixada pelo Superior Tribunal de Justiça em 4 anos e 7 meses em regime semiaberto. Ele recebeu suborno de R$ 2 milhões em caso envolvendo compra de tubos da Petrobras, segundo a acusação.
Já as agências de inteligência militares e civis do estado venezuelano implementam um “plano orquestrado nos mais altos níveis do governo para reprimir a dissidência através de crimes contra a humanidade”, segundo uma missão estabelecida pela ONU. Lula ainda tentou se explicar sobre o afago na ditadura que ajudou a sustentar com dinheiro dos brasileiros, via BNDES e Odebrecht:
“Desde que o Chávez tomou posse, foi-se construindo uma narrativa... Em que você determina que o cara é um demônio. A partir daí, você começa a jogar todo mundo contra ele. Foi assim que aconteceu com Chávez, foi assim que aconteceu comigo.”
Quando Lula se coloca junto a ditadores como vítima de narrativas falsas, ele só reforça a certeza sobre a falsidade de suas próprias narrativas, usadas para destruir seus inimigos. Lula crê que corrupção e abusos de poder – do passado, presente ou futuro – podem ser esquecidos, se houver narrativa “infinitamente melhor”. Para legitimar as dele, indicou seu próprio advogado para o Supremo Tribunal Federal.
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