“O político Lula, depois que se tornou presidente, sempre que esteve em situação de vítima saiu lucrando.”
Foi o que declarou o então marqueteiro dele, João Santana, em 2006, à Folha de S.Paulo, ao explicar a conquista do segundo mandato do petista com a teoria da figura dupla que ele encarna: o “fortão” humilde que virou poderoso e o “fraquinho” sob ataque das elites: “Quando Lula é atacado, o povão pensa que é um ato das elites para derrubar o homem do povo que está lá. ‘Só porque ele é pobre’, pensam. Nesse caso, vira o bom e frágil ‘fraquinho’ que precisa ser amparado e protegido”.
Lula nunca deixou de explorar esse papel, nem mesmo após ter enchido os cofres do seu instituto e de sua empresa de palestras com doações e pagamentos milionários feitos pelas empreiteiras de elite envolvidas no petrolão, duas das quais (Odebrecht e OAS) proporcionaram mordomias de que ele usufruiu pelo menos 111 vezes no sítio de Atibaia, que tinha a mesma cozinha do triplex do Guarujá, os pedalinhos com nomes dos netos e o barco com seu nome e de sua então esposa, entregue na propriedade sob encomenda. A Odebrecht ainda doou R$ 4 milhões ao instituto e pagou R$ 2,8 milhões à empresa, que também recebeu R$ 1,9 milhão da OAS; R$ 1,9 milhão da Andrade Gutierrez; R$ 1,4 milhão da Camargo Corrêa; R$ 1,1 milhão da Queiroz Galvão; e R$ 357 mil da UTC Engenharia.
Mas Lula foi amparado e protegido por advogados de elite e manobras jurídicas de ministros do STF que levaram à prescrição dos casos dos imóveis, de modo que suas relações financeiras e imobiliárias com empresários que faturavam contratos públicos bilionários nos governos do PT, inclusive no esquema de corrupção da Petrobras, não lhe deixaram pendências na esfera judicial, apesar do desgaste moral de sua imagem; apenas o ódio e o desejo de vingança contra uma “elite” muito específica, encarnada por Sérgio Moro, o ex-juiz que teria tentado derrubar o “homem do povo” que “chegou lá”.
Questionado sobre os planos do PCC para sequestrar o atual senador, que, na cadeia, ele só pensava em “foder” para se “vingar”, como confessara dois dias antes, Lula afirmou, por um motivo simples, que “é visível que é uma armação do Moro”: o presidente sabe, há pelo menos 17 anos, da força eleitoral da condição de vítima e não admite que logo Moro a assuma em seu lugar; então abstraiu a facção criminosa e acusou o senador de ter feito o que Lula sempre fez: forjar essa condição, para obter lucros políticos.
Haja amparo e proteção para o bom e frágil “fraquinho”.
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