O procurador-geral da República, Cláudio Fonteles, negou que tenha dito ser favorável à invasão de terras por movimentos sociais, esclarecendo ter sido mal interpretado pela imprensa quando se manifestou sobre o assunto. Entrevistado no programa Roda Viva, da TV Cultura, ele disse textualmente: "Sou contra todo e qualquer ato de violência. É condenável tanto o fazendeiro que interrompe o tráfego de uma estrada para impedir que servidores do Incra adentrem sua fazenda para ver se obedece os critérios de produtividade, e aí fundamentar um decreto de desapropriação ou não, como condenável as atitudes do movimento sem-terra de invadir, pela violência, prédios públicos.! Indagado se seria favorável à invasão de terras produtivas, Fonteles respondeu: "Eis aí um ponto que, espero, amanhã a imprensa brasileira não venha dizer que eu estou concordando ou não. Veja bem, a minha declaração foi produzida sem o devido exame (por parte da imprensa). Eu parto do seguinte: vamos refletir sobre o quê? Sobre o conceito constitucional de função social da propriedade. E o que eu disse? É muito bom que saia na televisão, porque aí sai toda a minha idéia. Eu peguei uma situação caracterizadamente de excepcionalidade. Esse o ponto. A imprensa escrita colocou como normalidade o que eu falei como excepcionalidade. E dei até um exemplo: um cidadão aqui, podre de rico, mora aqui em São Paulo, o centro pulsante deste País, tem terra sabe-se lá onde, ele nem sabe, cuja extensão nem ele sabe. Isso existe, isso existe. O sujeito nem sabe onde tem terra, o quanto ele tem de terra, e ao lado ali você tem famílias famintas, com crianças esquálidas, sem nenhuma educação. Então, eu perguntei: essas pessoas, sem nenhuma instrução, adentrando a área. E a área é improdutiva. Preste bem atenção: totalmente improdutiva. E o que ela faz? Ali planta e aí começa a educar seus filhos. Eu pergunto a todos os brasileiros: isso aí significa invasão? Não, não significa." Defesa do diálogo Para o procurador-geral da República os conflitos no campo só serão resolvidos através do diálogo entre as partes envolvidas, inclusive o governo. "O diálogo educa, o diálogo reforma, a violência destrói", pregou.
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