BRASÍLIA - Na reserva do Exército e em campanha eleitoral como vice na chapa de Jair Bolsonaro (PL), o general Braga Netto (PL) atuou para reverter decisão do Exército que proibia o chamado tiro recreativo e prejudicava interesses do eleitorado armamentista, em que há significativo apoio à reeleição de Bolsonaro. Braga Netto, que foi ministro da Casa Civil e da Defesa, atendeu ao pedido de um deputado governista incomodado com uma ação do Exército contra os atiradores.
A ação sobre assuntos do governo pelo vice na chapa de Bolsonaro foi exposta por representantes dos colecionadores de armas, atiradores profissionais e caçadores (CACs). Um deles postou em rede social uma conversa entre Braga Netto e o deputado Pedro Lupion (Progressistas-PR).
O parlamentar procurou o general às 12h do dia 2 de setembro para reclamar da ação do Exército que proibia o tiro recreativo. Três horas depois, Braga Netto o informa que a decisão foi revertida. “Lupion, resolvido. Estão corrigindo”, escreveu Braga Netto, pelo WhatsApp, às 15h.
A polêmica começou um dia antes, quando o site do Setor de Fiscalização de Produtos Controlados da 2.ª Região Militar, que abrange instalações do Estado de São Paulo, avisou que estava proibida a prática de tiro por pessoas não registradas no Exército. A medida foi baseada em liminar da ministra Rosa Weber, do Supremo Tribunal Federal (STF).
O comunicado dos militares provocou reação imediata dos CACs. Lupion foi acionado por um dos representantes da categoria. Candidato à reeleição e apoiado pelo Movimento Proarmas, o deputado pediu ajuda a Braga Netto. O resultado do lobby a favor dos atiradores foi registrado num print de conversa via Whatsapp que Lupion repassou a um representante dos CACs, César Mello (Progressivas-PR), candidato a deputado estadual. A imagem, porém, foi apagada logo em seguida.
Questionado sobre a mensagem a Lupion, Braga Netto negou ter exercido qualquer influência. Por meio da assessoria, disse ao Estadão que a própria Força identificou a “inconsistência” no ato publicado e ele “apenas repassou a informação para o deputado”. O comunicado do Exército sobre a proibição da prática de tiro recreativo foi excluído.
Lupion, por sua vez, confirmou ter levado o pleito ao ex-ministro para que o general resolvesse a demanda. “Eu pedi ajuda para o ministro Braga Netto, que poderia falar com o comandante do Exército para que essa interpretação não prosperasse. Seria o fim dos clubes de tiro do País”, disse, antes de prosseguir: “Essa interpretação foi revista. Não existe em lei a proibição de frequência em clubes”.
Quando questionado sobre o fato de ter pedido a outro candidato, durante a campanha, para tentar interferir em uma decisão institucional do Exército, Lupion disse não ver problema em “apresentar uma demanda a um militar”, de algo que julgou “equivocado”.
Alvo
O tiro recreativo é um serviço oferecido a quem não tem porte de arma e não é CAC. Acompanhado por um instrutor, é possível atirar contra um alvo em um ambiente controlado. Cabe ao Exército a fiscalização dos chamados produtos controlados, como armas e munições, e a fiscalização em clubes de tiro.
Procurada, a Força evitou responder aos questionamentos do Estadão. Disse apenas que “não é atribuição do Exército o registro de praticantes e/ou a fiscalização do chamado tiro recreativo ou tiro de natureza recreativa”.
Em transmissão ao vivo ontem, o líder do Movimento Proarmas, Marcos Pollon, candidato a deputado federal pelo PL de Mato Grosso do Sul, comparou o caso do tiro recreativo à decisão do ministro Edson Fachin, do STF, de suspender decretos de Bolsonaro que facilitam o acesso a armas. “Nós já estamos conversando com as pessoas que podem resolver o problema. Assim como a questão do tiro lúdico foi resolvida sem fazer alarde.”
Em reação a Fachin, o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) convocou os CACs a entrarem na campanha do seu pai. “Você comprou arma legal? Tem algum clube de tiro ou frequenta? Então você tem que se transformar num voluntário de Bolsonaro”, postou.
César Mello, que publicou o diálogo do deputado com o general nas redes sociais, chamou de criminosos os militares que autorizaram a publicação do comunicado vetando o tiro recreativo.
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