Forças Armadas pedem que TSE facilite auditoria de urnas por partidos, como quer Bolsonaro

Em ofício a Fachin, ministro da Defesa reclama de desprestígio dos militares e diz que observadores internacionais não bastam

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Foto do author Felipe Frazão
Atualização:

BRASÍLIA – Em sintonia com a proposta do presidente Jair Bolsonaro, as Forças Armadas defenderam nesta sexta-feira, 10, que seja facilitada a auditagem das urnas eletrônicas por partidos políticos. A proposta consta em ofício encaminhado pelo ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, ao presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Edson Fachin. O Estadão antecipou que o ministro preparava essa resposta ao TSE, em forma de tréplica.

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“A atuação de empresa especializada de auditoria, contratada por partido político, nos termos da lei eleitoral, completaria um rol de medidas aptas a aumentar a transparência do processo, caracterizando melhor a separação de responsabilidades entre auditor e auditado”, escreveu o ministro da Defesa, conforme ofício obtido pela reportagem.

O general também afirmou que “convém facilitar” o trabalho de fiscalização externa. No entender dos militares, é preciso segregar funções e quem promove as eleições não deve auditar. Isso, para eles, fortaleceria a confiança no sistema e melhoraria a percepção de segurança e transparência. “Entende-se que convém concitar e facilitar que entidades fiscalizadoras, entre as quais os partidos políticos, apliquem o previsto no art. 15 da Resolução TSE nº 23.673, de 14 de dezembro de 2021″, disse Paulo Sérgio.

A norma da Corte, reproduzida pela Defesa, diz que “as entidades fiscalizadoras poderão desenvolver programas próprios de verificação” e apresentá-los até 90 dias antes da realização do primeiro turno das eleições.

O ofício do general de quatro estrelas, antes comandante-geral do Exército, é uma resposta às considerações técnicas do TSE, que rejeitou a maioria das sugestões e questionamentos das Forças Armadas, apresentados no âmbito da Comissão de Transparência Eleitoral (CTE).

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Numa das reações ao conteúdo enviado pelo Exército à comissão, e também a manifestações de Bolsonaro – que propôs até mesmo uma contagem paralela de votos controlada pelos militares –, Fachin afirmou que “quem trata de eleições são forças desarmadas”.

O general disse que as Forças Armadas querem apenas “assegurar que o processo eleitoral, inclusive o de 2022, tenha a máxima segurança, transparência e confiabilidade e possa ser auditável em todas as suas fases”.

“A todos nós não interessa concluir o pleito eleitoral sob a sombra da desconfiança dos eleitores. Eleições transparentes são questões de soberania nacional e de respeito aos eleitores”, rebateu o ministro. “O que se busca com as propostas das Forças Armadas é aperfeiçoar a segurança e a transparência do processo eleitoral, mitigando ao máximo as possibilidades de ataques cibernéticos, falhas e fraudes, que podem comprometer as eleições.”

O ministro ainda questionou a proposta de Fachin de ampliar a presença de missões de observadores, principalmente internacionais, para respaldar e dar mais legitimidade às eleições de outubro.

O ministro do STF Edson Fachin, presidente do TSE 

“Por se tratar de uma eleição eletrônica, os meios de fiscalização devem seatualizar continuamente, exigindo pessoal especializado em segurança cibernética e de dados. Não basta, portanto, a participação de ‘observadores visuais’, nacionais e estrangeiros, do processo eleitoral”, argumentou Paulo Sérgio.

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Além disso, o general se queixou da participação da Defesa na Comissão de Transparência Eleitoral. Segundo Paulo Sérgio, “até o momento as Forças Armadas não se sentem devidamente prestigiadas por atenderem ao honroso convite do TSE para integrar a CTE”.

Em Los Angeles, Bolsonaro disse que tomou “conhecimento agora” sobre o documento. “Quero analisar melhor na viagem. Pelo que eu sei é um ofício técnico”, afirmou o presidente na saída de hotel, antes de embarcar para Orlando. “Se eu sou presidente do TSE, aceito todas as sugestões, discutimos e chegamos a um denominador comum”, disse.

Suspeitas

Bolsonaro continua a levantar suspeitas sobre o processo de votação adotado no País. Há um mês, anunciou que seu partido, o PL, contrataria uma empresa privada para fiscalizar o sistema de votação e contagem. A contratação foi autorizada pelo presidente do PL, Valdemar Costa Neto. A legenda deve contratar o Instituto Voto Legal, de São Paulo, embora nada tenha sido fechado. Há quatro empresas sob avaliação.

“Estive com o presidente do PL há poucos dias e nós contrataremos uma empresa para fazer auditoria nas eleições. A empresa vai pedir ao TSE algumas informações. O que pode acontecer? Essa empresa que faz auditoria no mundo todo, empresa de ponta, pode chegar à conclusão que, dada a documentação que se tem na mão, dado ao que já foi feito, ela pode falar que não foi auditável. Olha a que ponto vamos chegar”, afirmou Bolsonaro.

Nas duas eleições anteriores, em 2014 e em 2018, auditorias externas contratadas por partidos como PSDB e PSL não provaram fraudes. Investigações da Polícia Federal também não. Mesmo assim, o presidente continua a levantar dúvidas e lançar suspeitas.

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Os militares também insistem em que o TSE deve promover testes públicos de segurança específicos para um novo modelo de urna, a ser empregado nas eleições deste ano. Segundo eles, 39% das urnas serão do modelo de 2020, que não foi submetido ao escrutínio público.

A Defesa diz que, embora o TSE afirme que esse modelo traz aprimoramentos em relação ao de 2015, seria “fundamental” promover o teste das novas urnas, pois elas nunca foram usadas nas eleições e há evolução não só de " hardware e de software, mas, também, das capacidades dos códigos maliciosos (malwares)”.

Os militares reiteraram que o teste deve reproduzir de forma mais fidedigna as condições do dia de votação, com uso de biometria para identificação do eleitor, autorização do mesário e digitação dos números

A Defesa argumentou que os técnicos militares e civis têm divergências de interpretação e defendeu mais testes de integridade de urnas e a continuidade de discussões entre as equipes. “Fica evidente a necessidade de um diálogo mais aprofundado, que permita chegar a conclusões mais precisas”, afirmou o ministro. /COLABOROU BEATRIZ BULLA, ENVIADA ESPECIAL A LOS ANGELES

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