Fortaleza: Petista diz que partido precisa se aproximar de cristãos, empreendedores e da juventude

Prefeito eleito em Fortaleza, única capital em que o PT venceu, defende que o partido precisa se renovar e tratar das divergências internamente

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Foto do author Levy Teles
Foto: @evandroleitao via Instagram
Entrevista comEvandro LeitãoPrefeito eleito de Fortaleza

BRASÍLIA – Petista neófito, Evandro Leitão era do PDT e entrou no partido após a briga entre os irmãos Ciro Gomes e Cid Gomes, em 2022. Mesmo novato, ele foi quem trouxe o melhor resultado do PT nessas eleições. É o novo prefeito de Fortaleza, a quarta maior cidade do Brasil. Resultado da aposta do ministro da Educação, Camilo Santana, e do líder do governo na Câmara dos Deputados, José Guimarães (PT-CE), Leitão diz que o partido precisa se atualizar.

“Temos que dar um F5, nos atualizar, sobre segmentos importantes na sociedade, aproximarmos mostrando para essas pessoas aquilo que nós desejamos enquanto sociedade, Estado e País”, diz Evandro Leitão, em entrevista ao Estadão. Ele citou três públicos prioritários: os cristãos, os empreendedores e a juventude. “É importante que a gente tenha essa humildade para reconhecer e fazer essa reflexão.”

Evandro Leitão, com o microfone na mão, comemora a vitoria ao lado do ministro da Educação, Camilo Santana. Foto: Jarbas Oliveira

Ele também condenou a “lavação de roupa” pública entre dirigentes do PT após o fim das eleições municipais. A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, criticou o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha.

“Na vitória e na derrota, a gente tem que fazer as avaliações”, afirma Evandro. “Temos que fazer uma reflexão, e dessa reflexão, tirarmos algumas previsões. Mas isso tem de ser feito de forma interna, sem a gente ir a público, expor alguma situação para causar algum tipo de incômodo. É isso que penso.”

Nessa entrevista ao Estadão, o prefeito eleito de Fortaleza fala sobre a relação abalada com o PDT, de Ciro Gomes, afirma que Camilo, Guimarães e o governador do Ceará, Evandro Leitão, ganharam força dentro do PT. Guimarães é cogitado como novo presidente do partido e Camilo é um potencial sucessor de Lula. Ele também defendeu o ministro da Educação de ataques feitos pelo deputado federal Jilmar Tatto (PT-SP).

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Veja principais trechos da entrevista:

Ao quê o sr. atribui essa vitória em Fortaleza?

Vejo que a população conseguiu assimilar, se apropriar de aquilo que a gente deseja para Fortaleza nos próximos quatro anos. A segunda coisa tem a ver com as estratégias que nós utilizamos, de comunicação, fizeram que a população tivesse um diálogo mais próximo conosco. Foi um conjunto de fatores. Fortaleza tem uma seara política de enfrentar Arrogância e prepotência de alguns. O que nós acompanhamos na campanha foram pessoas extremamente arrogantes, que se acham donas de vontade, tentando impor suas vontades, aquilo que deseja, e não pensando na população.

O ex-prefeito Roberto Claudio apoiou a oposição no segundo turno, com pedetistas falando inclusive que Ciro Gomes e o prefeito José Sarto fizeram ‘apoio velado’ a André Fernandes. É possível trazer de volta o PDT à base do governo?

Depende. Se tiver falando de Câmara Municipal, acredito que sim, não vejo problema. Agora com outras lideranças do PDT, vejo como pouco provável, com atitudes que surpreenderam inclusive o universo político de Fortaleza, do Estado e do Brasil. Pessoas que se viam democratas, que se viam sempre com o pensamento no coletivo, pessoas que sempre respeitavam a população, a democracia como um todo, essas pessoas se aliaram que representaram o maior retrocesso na nossa cidade. Aquilo que representa o negacionismo e o desrespeito à população e às mulheres. Essas pessoas vejo como pouco provável, a menos que tenha mudança de 360 graus. Agora, com a Câmara Municipal, não tenho nenhuma dificuldade de procurar os vereadores e com o André Figueiredo, presidente do partido.

Como o senhor pretende atrair essa outra metade que não votou no sr.?

O que precisa é nos comunicarmos bem com a população, estamos próximos da população, a população sentindo um gestor presente nos bairros, e, em especial, a gente construir políticas públicas para aquilo que mais precisam. É isso que a população e espera de nós. Vamos trabalhar muito para estarmos próximos e apresentando soluções para os problemas que a população têm.

Qual a mensagem a campanha de Fortaleza pode trazer de lição para o PT no futuro?

Acho que a capacidade de mobilização do Partido dos Trabalhadores é enorme. Isso foi demonstrado agora nessa eleição, onde nossa militância foi às ruas e disse não ao bolsonarismo. Segundo, acredito que temos que fazer uma reflexão interna sobre a maneira de como temos que fazer para melhorar o diálogo com determinados segmentos da sociedade. É importante que a gente tenha essa humildade para reconhecer e fazer essa reflexão. Temos que dar um F5, nos atualizar, sobre segmentos importantes na sociedade, aproximarmos mostrando para essas pessoas aquilo que nós desejamos enquanto sociedade, Estado e País.

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Quais segmentos?

Segmentos como o dos cristãos, da juventude e dos empreendedores. São segmentos importantes, formadores de opinião. Precisamos nos aproximar mais, através do diálogo e apresentar políticas públicas para que eles possam ver que efetivamente temos o respeito e queremos a transformação.

O deputado federal Jilmar Tatto fez uma crítica que foi também endereçada ao ministro Camilo Santana, quando disse que havia casos de ministros que foram “tirar foto” com adversários em cidades que tinham candidatos do PT. O que o senhor pensa dessa fala?

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Temos que ver as circunstâncias de cada Estado, região e cidade. Em 2022, houve um rompimento político no nosso Estado. Com os rompimentos foram feitos compromissos com outros partidos. Esse compromissos são inegociáveis. Ou você compromisso com as pessoas e cumpre ou você não as tem. Ele, como bom estadista que é, como pessoa que honra com aquilo que se compromete, ele honrou com todos os compromissos em 2022. Todo caso é um caso. Nós não podemos analisar de maneira pontual, apartada do todo. Temos de analisar de forma sistêmica, especialmente tudo o que aconteceu em 2022, que teve repercussões em 2024. Eu concordo com o que ele fez. De certa forma, participei à distância de alguns entendimentos que aconteceram e tenho a compreensão que na vida a gente tem que honrar com aquilo que a gente acerta e que o mundo político é muito dinâmico. E quando a gente não honra, a gente tem uma resposta muito rápida e essa resposta não é aquela que queremos.

O resultado no Ceará foi o melhor do partido nesta eleição e o PT teve um bom resultado no Estado. O nome do Guimarães é um dos especulados para assumir a presidência do PT. Ele tem o seu apoio?

Importante que o Estado do Ceará, o PT fez 76 prefeituras, fez a única capital do País aqui no Ceará. É verdade que as pessoas se credenciam para ter um protagonismo maior. É fato. Qualquer posto que se deseja, tem que ser de uma forma dialogada e construída. Não acredito em nada que seja imposto. Acredito que Guimarães, Camilo, Elmano, se credenciaram dentro do partido, sim, Mas para questão de presidência nacional, a gente precisa ter um amplo diálogo, ouvindo as pessoas, o nosso líder maior, Lula, ouvindo Gleisi, que é uma figura muito importante. Essas pessoas têm que ser respeitadas e não deixar à margem do processo como esse. É isso que penso. É fato que o Estado do Ceará termina tendo uma importância maior, pelo protagonismo e resultado das urnas, mas temos que respeitar as nossas lideranças: a presidente Gleisi e o presidente Lula para construir o melhor nome que possa unificar o nosso partido.

O sr. esteve com o presidente Lula nesta terça-feira. Como foi a conversa?

Fui agradecer ao carinho dele, a forma como nos atendeu, a forma atenciosa que ele teve que conosco, indo a Fortaleza duas vezes. Fui dizer para ele que daqui para final do ano voltarei para Brasília, com um pires na mão.

É um momento de o PT se pacificar ou acredita que discussões como essa são salutares para o desenvolvimento e amadurecimento do partido?

Na vitória e na derrota, a gente tem que fazer as avaliações. Não é porque ganhou no caso do nosso Estado que nós acertamos acertamos em tudo, ou porque perdeu, como aconteceu em algumas cidades, que está tudo errado. Temos que fazer uma reflexão, e dessa reflexão, tirarmos algumas previsões. Mas isso tem de ser feito de forma interna, sem a gente ir a público, expor alguma situação para causar algum tipo de incômodo. É isso que eu penso. A gente precisa conversar internamente e ver aquilo que precisa melhorar, como aquilo que não está dando certo.

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