Estamos quase no meio do caminho entre a última e a próxima eleição presidencial. Mas o tema vira e mexe bate na porta do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ele próprio lembrou nesta terça-feira, 18, que em 2026 terá 80 anos. E, segundo diz, no auge de sua vida. Como reza a regrinha básica da política, não se fala em candidatura antes da hora. Então, o petista veste a camisa de meio candidato. Por lei, tem o direito de disputar a reeleição, mas para que falar publicamente disso agora?
Foi tentando se desvencilhar da pergunta durante entrevista à rádio CBN que o presidente declarou haver “muita gente boa” com condições de ser candidato na próxima disputa eleitoral. O gesto deve ter ouriçado uns e outros. Está cheio de político naquele dilema de admitir que Lula ainda é o nome mais forte da esquerda, mas torce para a fila andar.
Ao mesmo tempo em que tenta jogar para bem longe a discussão sobre sua eventual candidatura, o presidente da República deixa claro que seu nome pode ser lembrado para garantir que o passado bolsonarista não retorne ao comando do País. Assim, Lula se apresenta, de novo, como a melhor opção ao eleitor que não embarca nos desvarios do “mito”.
O petista, como até Jair Bolsonaro já sabe, retornou ao Palácio do Planalto pela soma de votos de quem estava saudoso do Lula 1 e 2 com quem queria se livrar do bolsonarismo a qualquer custo. Embarcaram na candidatura do petista até mesmo os desgostosos com o PT.
Sem meias palavras, Lula faz aquele papel de que pode se ver obrigado a disputar de novo a eleição presidencial só para impedir “nazistas, fascistas e trogloditas” de assumirem o poder. Jair Bolsonaro segue inelegível, mas sabe-se lá se o Judiciário ainda vai mudar de ideia. E como o ex-presidente anda percorrendo o País, abraçando gente e também fazendo pose de quem não está fora do páreo, a cena vira um convite para Lula se oferecer como o remédio, ainda que amargo para muita gente.
Há, no entanto, uma outra questão para o petista resolver: o resultado que sua administração pode obter. Ter apenas o tal “troglodita” para enfrentar não dá conta do dever de casa feito que precisará ser apresentado por Lula em 2026. O passado não servirá mais como dividendo e as cobranças de quem depositou nele suas esperanças em 2022 serão muitas.
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