EXCLUSIVO PARA ASSINANTES

A política sem segredos

Opinião | Ato no Rio prega anistia, mas é usado para tentar resgatar Bolsonaro do título de inelegível

Manifestação não reuniu o público que os bolsonaristas queriam, mas serviu para explicitar que o projeto da anistia é o primeiro passo para manter vivo o desejo daqueles que querem recuperar os direitos políticos do ex-presidente

PUBLICIDADE

Foto do author Francisco Leali
Atualização:

Copacabana, a praia mais notória do País, não encheu como os bolsonaristas queriam. Mas o recado está dado. O projeto da anistia aos condenados pelo Supremo Tribunal Federal por participação nos atos antidemocráticos de 8 de Janeiro torna-se a linha de frente, o primeiro passo, para manter de pé a chama pró-Jair Bolsonaro.

PUBLICIDADE

O líder do PL na Câmara, Sóstenes Cavalcante, fez juras de que, até a próxima quinta-feira, seu partido e outros aderentes vão pedir regime de urgência ao projeto que libera da condenação os envolvidos nos ataques aos prédios do Planalto, STF e Congresso em 2023.

A oposição espera contar com a simpatia de quem, mesmo acreditando que houve extremismo no 8 de Janeiro, viu nas penas impostas aos condenados uma mão para lá de pesada.

Ato Anistia Já , com a presença do ex-presidente Jair Bolsonaro em Copacabana, no Rio de Janeiro Foto: Pedro Kirilos / Estadão

Coube ao presidente do PL, o ex-mensaleiro do PT, Valdemar Costa Neto, expor o verdadeiro motivo que levou o grupo do ex-presidente a organizar um ato no Rio de Janeiro neste domingo, 16: insistir no nome de Bolsonaro como candidato a 2026 tentando resgatá-lo do título de inelegível.

Valdemar repetiu por algumas vezes como mantra opor o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao capitão que já foi chamado de ‘mito’. " Se a carne está cara, volta Bolsonaro” gritou no palanque.

Publicidade

Mais explícito do que ele, foi o filho 01 do ex-presidente. O senador Flávio praguejou contra o “Alexandrismo”, puxou coro de “Lula Ladrão” e foi além. Falou de anistia e na sequência indicou o verdadeiro beneficiado por ela: seu pai. “Tenho uma boa notícia a dar a todos: nós vamos aprovar a anistia muito em breve, sim. O próximo presidente é Jair Bolsonaro, sim”, disse o filho senador.

O pastor Malafaia pregou na mesma linha. Discursou como se fosse o 12º ministro do STF e fez o voto dele sobre o que é ou não constitucional em toda a história recente do País. Concluiu dirigindo-se aos ministros da corte suprema: “Aonde vamos parar se Bolsonaro for preso?”

Para não deixar dúvidas, o próprio Bolsonaro tratou de falar de si mesmo. Primeiro, cumpriu o protocolo de citar o caso dos condenados do 8/1 e até posou ao lado da viúva de um preso morto na prisão. Mas dedicou-se a falar das acusações que pensam contra ele no Supremo num ato que reuniu vaias ao ministro Alexandre de Moraes, lembrado pelos bolsonaristas como o algoz que definiu essas penas, chanceladas até aqui pela maioria dos ministros do STF. “O que eles querem? Uma condenação. Se é 17 anos para pessoas humildes, é para justificar 28 anos (de cadeia) para mim”.

Ao final, a foto de Copacabana calibrada no enquadramento para preencher todos os espaços com camisetas amarelas poderá ser espalhada pelas redes mundo afora. Junto com ela, vão algumas mensagens aos Estados Unidos.

O presidente dos EUA, Donald Trump, estava ali lembrado num cartaz afixado no carro de som pregando luta em inglês: “Fight, fight, fight”. Ao norte-americano, foi atribuído o posto de última esperança externa dos bolsonaristas. Afinal, se nada der certo, e uma condenação por tentativa de golpe vier, Bolsonaro ainda pode tentar uma escapada batendo na porta da embaixada dos EUA em busca de refúgio.

Publicidade

Opinião por Francisco Leali

Coordenador na Sucursal do Estadão em Brasília. Jornalista, Doutor em Comunicação e pesquisador dedicado a temas de transparência pública.

Comentários

Os comentários são exclusivos para cadastrados.