Um carro-bomba parcialmente queimado na Praça dos Três Poderes e um homem-bomba à porta do Supremo Tribunal Federal (STF) ressuscitam na capital os temores do 8 de Janeiro. A diferença entre o primeiro episódio, que resultou em vandalismo, prisões e condenações, e o segundo é um cadáver.
Segundo relatos de investigadores, o homem morto foi candidato a vereador pelo PL em Rio Sul, Santa Catarina em 2020, ano em que o então presidente Jair Bolsonaro ainda não tinha se juntado à legenda. Dos primeiros vestígios da apuração surgem pistas de que ele tinha pretensões de não só dar cabo à própria vida.
Antes de seu carro pegar fogo na Praça dos Três Poderes e correr em direção ao prédio do Supremo Tribunal Federal, o catarinense Francisco Wanderley Luiz praguejou contra a Corte e anunciou, ainda que com texto recheado de frases de aparente alucinação, que bombas iriam explodir neste dia 13 de novembro de 2024 em Brasília.
O ato tem vestígios de uma ação planejada. Há registros de Francisco Luiz nos prédios do Congresso e do STF. Neste último, tirou foto dentro do plenário e divulgou em rede social, zombando da sua própria presença ali. “Deixaram a raposa entrar no galinheiro (chiqueiro)”, escreveu.
As visitas prévias podem ser a preparação do atentado. Lembram, guardadas as devidas proporções, o caminho que Adélio Bispo percorreu por clubes de tiro frequentados pela família Bolsonaro antes de tentar matar o então candidato à presidência da República. Adélio conseguiu ferir e quase levar à morte Bolsonaro. Já Francisco Luiz morreu sem conseguir entrar no STF onde ainda havia ministros da Corte trabalhando.
Por muito tempo, mesmo com as investigações da Polícia Federal apontando que Adélio agiu como lobo solitário, o círculo ao redor do presidente eleito naquele 2018 insistiu que o criminoso vinha da esquerda e seu ato poderia ser parte de trama engendrada até por partido político.
Nesta quarta-feira, 13, dia que tem o mesmo número do PT, fez-se morto um homem que tem em seu histórico a filiação ao PL. O aparente suicídio fabrica a imagem de uma espécie de Adélio Bispo da direita. As postagens que deixou em redes sociais não deixam dúvida de que o discurso de ódio tomou conta da sua vida. O “Tiu França” que em 2020 pedia votos sob o número 22222 tornou-se, quatro anos depois, criminoso e vítima. Ele e Adélio parecem coincidir na loucura dos atos que ousaram perpetrar.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.