O ano que vai chegando ao fim tem o ineditismo de um general quatro estrelas detido. Vice na chapa de Jair Bolsonaro em 2022, Walter Braga Netto vem sendo mantido sob custódia em quartel do Exército no Rio de Janeiro e não tem data para sair. Passou o Natal preso e, muito provavelmente, verá a passagem do ano na mesma condição.
A eventual soltura do oficial da reserva, neste momento, depende do imponderável. O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), já deu mostras de que só revê ordens coercitivas se fartamente convencido de que não há motivos para a medida dura que impôs. E isso parece ser raríssimo.
O motivo da prisão preventiva foi o de uma suposta tentativa de atrapalhar as investigações. Segundo o relato da Polícia Federal, o general da reserva teria usado sua força e poder para tentar ter acesso à delação do tenente-coronel Mauro Cid. Quem contou isso foi o próprio Mauro Cid.
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Há juristas que andam lembrando que só a palavra de um delator não serve de prova suficiente para mandar prender alguém. Lição aprendida nos tempos da Lava Jato e que virou jurisprudência no STF. Ocorre que no processo, além do relato de Mauro Cid, a PF incluiu informações sobre registros de ligações do telefone de Braga Netto para o pai de Mauro Cid. Ouvido, o pai do delator confirmou ter conversado com o general, mas preferiu não dar detalhes sobre o que se falou.
Se forem examinados os precedentes de prisão relaxada por Moraes, tem-se que o magistrado já liberou, mediante uso de tornozeleira, gente com problema de saúde ou em idade avançada. Isso no caso do pessoal que participou dos atos extremistas de 8 de Janeiro.
Como a prisão de um general é inédita, tudo que a circunda, incluindo como dono da ordem de prisão vai se portar, também guarda esse condão. Para além do que está nos autos, o caso Braga Netto ainda envolve o desconforto de setores das Forças Armadas em ter um quatro estrelas detido.
Mas também parece haver aqueles que consideram que o ex-candidato à vice passou dos limites. Trocou o rigor da farda pela sedução da política a qualquer custo. Assim, Braga Netto chega ao final de 2024 sem padrinhos fortes o suficiente que peçam por ele e, muito provavelmente, seguirá nessa condição em 2025. O ano que chega vem repleto de expectativas de que a preventiva se transmute em condenação.
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