Se dependesse da vontade de 1,6 milhão de eleitores de São Paulo, o ex-coach que se lançou candidato pelo PRTB deveria estar no segundo turno da disputa pela Prefeitura da cidade. Mas os votos, embora de larga proporção, não foram suficientes para levar Pablo Marçal até lá e ele está fora da corrida eleitoral.
Seu destino político parecia projetado a não ter limites. Tanto que não se importou em apresentar um documento falso envolvendo o candidato do PSOL Guilherme Boulos. A fraude foi atestada pela Polícia Civil e escancarada publicamente. Marçal dela não pode se desvencilhar. O documento forjado fora postado por sua conta pessoal em rede social. Sua digital está, portanto, associada ao delito.
O crime ficou tão explícito que o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, foi categórico: “se o Brasil fosse sério, Marçal seria preso”. O governador chama a campo a instituição que tem responsabilidade de agir: o Poder Judiciário.
Cabe à Justiça Eleitoral julgar o político pelo delito com finalidade de abalar o resultado da votação. E a punição possível é condenação que o torne inelegível por alguns anos. Marçal poderá recorrer e levar o caso ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE). É difícil acreditar que alguém lhe dará ouvidos. No mundo político, o ex-coach conseguiu virar unanimidade que inclui o atual prefeito Ricardo Nunes, Boulos e ainda seus dois padrinhos: respectivamente, Jair Bolsonaro e Luiz Inácio Lula da Silva.
O desembargador Silmar Fernandes, presidente do Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo (TRE-SP), já antecipou que, se ficar prova a falsidade do documento publicado por Marçal, o destino dele pode estar marcado. “Quem desrespeita a legislação, tem punição. Ela pode demorar, mas ela chega”, declarou o magistrado. A falsificação documental pode levar Marçal também para responder por crime na Justiça Federal. E ai a pena possível não é mais a inelegibilidade, mas a cadeia.
Arrivista político, o ex-coach pode ter dificuldades de conseguir aliados que se mantenham firmes em sua defesa, mesmo que passe a desfiar nas redes sociais a cantilena do perseguido pelo sistema. E uma punição a Marçal pode ser entendida nas Cortes como medida exemplar. E servir de recado a novos pretendentes à disputa eleitoral que optem por ultrapassar os limites da civilidade e das leis.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.