A operação que a Polícia Federal pôs na rua nesta terça-feira, 19, com autorização do Supremo Tribunal Federal, não parece mirar no ex-presidente Jair Bolsonaro. Mas ele é, de novo, o maior afetado. Se não aparecerem indícios que estabeleçam seu envolvimento pessoal com os militares golpistas, politicamente, lá vai Bolsonaro para o canto do corner.
Posto nas cordas, o ex-presidente vai ter que arrumar uma versão para explicar até onde foi sua conexão com um general da reserva – seu ex-ministro–, e oficiais militares que, segundo a PF, teriam elaborado o plano “punhal verde amarelo”. A ação com todas as características de ato ato terrorista planejava matar, no final de 2022, o petista Luiz Inácio Lula da Silva, já eleito presidente, seu vice Geraldo Alckmin e o ministro do STF Alexandre de Moraes.
A PF incluiu em seu rol de indícios apresentados ao Supremo para deflagrar a nova operação o nome do general da reserva Braga Netto. Ministro da Defesa, chefe da Casa Civil e candidato a vice na chapa de 2022, o militar, para quem não se lembra, deixou-se gravar, em dezembro daquele mesmo ano na porta do Alvorada, pronunciando frases de duplo ou triplo sentido dirigidos àqueles que esperavam um gesto divino para não deixar Lula assumir o governo. É mais um do entorno de Bolsonaro arrastado para o apuratório sobre a ação golpista.
O estoque de dossiês, planos, quarteladas e conspiratas desenhados naquele 2022 expõe o lado obscuro da gestão Bolsonaro, onde até oficiais generais consideravam normal cogitar não ver cumprida a escolha das urnas. Se o atentado na frente do STF pelo ato tresloucado de um chaveiro catarinense já havia jogado na gaveta articulações por anistia a toda a turma golpista, agora então, da gaveta o tema deve ir para debaixo da terra. Pelo menos este ano.
Virou assunto indigesto falar em poupar populares descontrolados que invadiram os prédios da Praça dos Três Poderes. Ainda que as penas já impostas ao pessoal do 8 de Janeiro possam parecer pesadas, o timing político não é agora.
O plano terrorista não afeta só Bolsonaro. Também põe o próprio Exército, de novo, em situação delicada. Ainda que saibamos hoje que a maioria do Alto Comando não embarcou em minuta do golpe e outras coisas que tais, o envolvimento de militares treinados na caserna cobra da Força militar um posicionamento claro.
Relatório da PF indica que os oficiais usaram o conhecimento adquirido nos quartéis para rascunhar um projeto de assassinato de um presidente eleito, seu vice e um ministro da Suprema Corte. Calar-se é falar muito nessas horas. E dar sinal trocado sobre de que lado o Exército está atualmente.
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