O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) reuniu 18,3 mil pessoas em Copacabana, no Rio de Janeiro, em um ato no qual defendeu a anistia aos condenados pelos atos golpistas de 8 de Janeiro e afirmou que, mesmo “preso ou morto”, continuará sendo um “problema” para o Supremo Tribunal Federal (STF).
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Veja o que dizem os colunistas do Estadão sobre a manifestação.
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Para Ricardo Corrêa, se o objetivo principal da mobilização era mostrar força ou reforçar que se Bolsonaro for preso poderá acontecer “tudo”, como sinônimo de caos social, como afirmou Silas Malafaia no mesmo palco, o resultado não veio como o esperado.
“O ex-presidente que prometeu receber 1 milhão de pessoas, depois 500 mil, reuniu bem menos gente que nos atos anteriores. Foram 18,3 mil, segundo o Monitor do Debate Político do Cebrap/USP. O de 7 de setembro na Paulista reuniu 45 mil. O de fevereiro, 185 mil. O da mesma Copacabana em 21 de abril do ano passado, 32,7 mil. E, mesmo online, a transmissão oficial deste domingo não passou de 29 mil pessoas simultâneas assistindo no ápice de seu discurso. Bem abaixo dos padrões alcançados pelo ex-presidente no passado. Há um sinal de que até seus apoiadores estão cansando, o que pode sugerir um incômodo com uma pauta distante da realidade do brasileiro.”

Fabiano Lana: Funeral político de Bolsonaro ocorrido em Copacabana inclui chamá-lo de candidato
O colunista Fabiano Lana disse que o ex-presidente Jair Bolsonaro é um cadáver político por decisão da justiça eleitoral e que o evento deste domingo foi uma espécie de sepultamento em que o futuro morto teve o direito da fala quase final. Para Lana, a manifestação deste domingo, oficialmente, foi em prol da anistia dos condenados do 8/1. “Mas, na prática, o evento de hoje não mudará em nada o verdadeiro objetivo: mudar o destino do ex-capitão, que já está traçado.”
Lana ainda apontou a busca pelo espólio de Bolsonaro, cujos votos estarão em disputa em 2026. “Por isso, seria impossível para quem está de olho no espólio de Bolsonaro, como o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, não comparecer ao evento de hoje em Copacabana”.
“O ex-presidente, por sua vez, sabe que o antipetismo pode apoiar qualquer um que apoie tirar o Lula do poder e teme ser abandonado pelos seus. Precisa desse tipo de manifestação como a de hoje para se manter vivo”, disse Lana.
Francisco Leali: Ato no Rio prega anistia, mas é usado para tentar resgatar Bolsonaro do título de inelegível
Para Francisco Leali, a praia de Copacabana, a praia mais notória do País, não encheu como os bolsonaristas queriam. Mas o recado está dado. “O projeto da anistia aos condenados pelo Supremo Tribunal Federal por participação nos atos antidemocráticos de 8 de Janeiro torna-se a linha de frente, o primeiro passo, para manter de pé a chama pró-Jair Bolsonaro.”
“Ao final, a foto de Copacabana calibrada no enquadramento para preencher todos os espaços com camisetas amarelas poderá ser espalhada pelas redes mundo afora”, menciona Leali, e destaca que, junto dessa foto, “vão algumas mensagens aos Estados Unidos”.
“O presidente dos EUA, Donald Trump, estava ali lembrado num cartaz afixado no carro de som pregando luta em inglês: “Fight, fight, fight”. Ao norte-americano, foi atribuído o posto de última esperança externa dos bolsonaristas", acrescentou.

Diogo Schelp: Tarcísio se afunda em contradições em ato pró-Bolsonaro
O colunista Diogo Schelp avalia que a manifestação, por mais que tenha sido convocada com o mote de defender a anistia para os condenados pelo 8 de janeiro, “não passou de mais um ato pró-Bolsonaro”. E, para ele, o discurso do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, é exemplar para mostrar isso.
“O curto discurso do governador Tarcísio de Freitas expôs a lógica que começa com a promessa de fazer justiça para ‘inocentes humildes’ e termina com um chamado pela volta de Jair Bolsonaro ao poder. Minuto após minuto, Tarcísio afundou em contradições.”, avalia o colunista.
Schelp acrescenta que o governador é “o nome mais forte para suceder Bolsonaro como candidato presidencial”, e foi “o único candidato potencial que pegou no microfone neste domingo”. Enfim, nas palavras do colunista, “quando ele pediu a volta de Bolsonaro, era como se estivesse pedindo voto em si mesmo.”
Sergio Denicoli: Depois do amor e ódio, fadiga e indiferença rodeiam Bolsonaro e Lula
Para Sergio Denicoli, colunista do Blog Conectado, no Estadão, a “cena em Copacabana neste domingo foi emblemática” por representar a fadiga e a indiferencia que rondam tanto Bolsonaro quanto Lula, seu principal rival político.
“A grande mobilização em favor da anistia, esperada por apoiadores de Jair Bolsonaro, se transformou em um evento morno, quase melancólico. O ex-presidente, que arrastava multidões com discursos inflamados, agora parece enfrentar o mesmo fenômeno que atinge seu arquirrival, Luiz Inácio Lula da Silva: a fadiga do eleitorado”, avalia Denicoli.
Para ele, “há um cenário de desencanto, que talvez seja a semente de uma mudança positiva. As próximas eleições têm potencial para consagrar um voto mais racional e bem menos emocional, como há muito tempo o Brasil não vivencia”. É o que o colunista chama de um “esgotamento” que agora “cria terreno para novas lideranças”.