Apoio de funkeiros paulistas a Nunes e Marçal racha movimento e gera debate sobre voto da periferia

Donos de duas das principais produtoras do gênero com forte penetração na periferia sinalizaram apoio a candidatos de fora do segmento à esquerda; artistas criticaram as manifestações e resgataram vídeo em que Pablo Marçal associa funk a ‘vagabundos e assassinos’

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Foto do author Vinícius Valfré

BRASÍLIA - Duas das maiores produtoras musicais de artistas de funk de São Paulo, gênero com forte penetração nas periferias da capital paulista, sinalizaram apoio à reeleição do prefeito Ricardo Nunes (MDB) e ao ex-coach Pablo Marçal (PRTB). As manifestações renderam críticas aos empresários por trás das produtoras e deflagraram um debate sobre preferências políticas de jovens moradores de comunidades. Artistas, inclusive alguns contratados por esses estúdios, repudiaram os apoios.

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A polêmica alcançou um novo patamar na última semana, mas começou a ser trilhada ainda em fevereiro. O fundador da GR6, Rodrigo Oliveira, que se anuncia como “o maior produtor de funk do Brasil”, fechou uma parceria com a Prefeitura de São Paulo para reforma de quadras esportivas. As inaugurações contariam com MCs da produtora.

A foto ao lado do prefeito resultou em comentários negativos à atitude e à gestão de Nunes. No Instagram, a GR6 tem 1,9 milhão de seguidores. No YouTube, 41 milhões.

O tema escalou na última quarta-feira, 14, depois que o candidato Pablo Marçal foi recebido nos estúdios da Love Funk, na zona leste, pelo empresário Henrique Viana, conhecido como Rato da Love. A produtora tem 12 milhões de inscritos em seu canal principal no YouTube.

Ambos posaram para fotos e gravações e ironizaram o candidato Guilherme Boulos (PSOL) ao reproduzirem a tentativa de tomar uma carteira de trabalho da mão de Marçal, como ocorreu durante o debate eleitoral realizado pelo Estadão. Um registro do encontro, com ataques de Marçal ao adversário, foi publicado no canal oficial da Love Funk.

O apoio a Marçal virou um debate dentro do movimento funk. Pouco depois, funkeiros resgataram vídeo no qual o candidato, em uma de suas apresentações como coach, faz duras críticas ao gênero musical.

“As músicas antigas eram poesia. Agora, são ‘drives mentais’ para psicopatas, assassinos. Esses caras destruíram a música, a arte, a religião, a família. E vocês caem como patos. Admiram obras lixo. Esse povo é doente, acabaram com as músicas. Instala ‘drive mental’ de corno, de preguiçoso, de estuprador, de vagabundo”, disse.

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Entre os funkeiros, uma das críticas mais duras partiu de MC Hariel. Aos seus quase 16 milhões de seguidores no Instagram, ele disse que o apoio não fazia sentido, pois seria como “o lobo falando para os carneiros que vai virar vegetariano depois que se eleger”.

“Sou funkeiro com orgulho. Amo esse movimento que mudou a minha vida, mas não compactuo e fico triste em ver esse tipo de pessoa tendo abertura tão fácil no nosso movimento”, disse o artista.

O rapper Filipe Ret disse lamentar que movimentos “marginalizados” estivessem apoiando “posições políticas decadentes”.

Até Mano Brown, líder dos Racionais MCs, o maior grupo de rap nacional, se manifestou sobre o tema ao comentar um vídeo com críticas aos apoios oferecidos a Ricardo Nunes e Pablo Marçal.

“Eu falei para vocês que os bagulhos estavam mudando e que nós tínhamos que antecipar os caras. E que os nossos iam tomar decisões contrárias às nossas muitas das vezes”, escreveu.

O comentário do rapper Mano Brown sobre os apoios políticos que geraram polêmica no cenário do funk e do rap nos últimos dias Foto: @jrfreitas_oficial via Instagram

Com 4,1 milhões de seguidores no Instagram, o rapper Djonga também criticou os apoios políticos das produtoras. “Tem político fingindo que gosta de funk, tem político fingindo que gosta de rap, tem até político fingindo que é da política e é bizarro pensar que nossa galera do funk e do rap está simplesmente apoiando esses caras”, escreveu. “O vexame está aí, passa quem quer”, publicou.

Após as críticas, Rato usou a própria rede social para rebatê-las. “A Love Funk já mudou a vida de um monte de artista. Já ‘empresariei’ artista que veio do zero. Nossa pegada é pegar gente que veio do zero e dar oportunidade. Acorda cedo e vai trabalhar em vez de acordar e ficar pensando na minha vida”, disse.

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Segundo uma reportagem do portal Metrópoles, Rato da Love é apontado pela Polícia Federal como suspeito de envolvimento com o Primeiro Comando da Capital (PCC). A facção estaria financiando artistas com o dinheiro do tráfico de drogas. Ainda de acordo com a reportagem, a Love Funk teria sido usada para lavagem de dinheiro da organização criminosa. O empresário se manifestou nas redes sociais sobre a investigação. Disse que o caso já está “esclarecido” e que “o dinheiro é totalmente lícito”.

O voto de moradores das comunidades periféricas de São Paulo é cobiçado por todos os candidatos à Prefeitura. Na convenção do MDB que confirmou sua candidatura à reeleição, no início de agosto, Ricardo Nunes citou o Racionais MCs e usou a expressão “a quebrada venceu”.

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