Gabinete de Flávio Bolsonaro empregou mãe e mulher de PM suspeito de comandar milícia

Raimunda Veras Magalhães e Danielle Mendonça da Costa da Nóbrega trabalharam na Alerj até ano passado e recebiam R$ 6,4 mil; Mãe do PM, Raimunda aparece no relatório do Coaf por ter repassado R$ 4,6 mil ao ex-assessor Fabrício Queiroz

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RIO - O deputado estadual e senador eleito Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) empregou em seu gabinete na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) até novembro do ano passado a mãe e a mulher do ex-capitão do Batalhão de Operações Especiais (Bope) da PM Adriano Magalhães da Nóbrega. O ex-policial é acusado de comandar uma das principais milícias do Estado, em Rio das Pedras, comunidade pobre na zona oeste.

Nóbrega, acusado de homicídio e expulso da Policia Militar, teve mandado de prisão expedido na Operação Intocáveis, desencadeada nesta terça-feira pela Polícia Civil e pelo Ministério Público do Rio, e está foragido. O parlamentar atribuiu a indicação das familiares do ex-PM a seu ex-assessor Fabrício Queiroz, apontado como autor de movimentações suspeitas de R$ 1,2 milhão em treze meses. A defesa do ex-servidor confirmou por nota que seu cliente indicou as duas para os cargos.

Flávio Bolsonaro, senador eleito pelo PSL-SP Foto: Sergio Moraes/Reuters

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Segundo a Assembleia Legislativa do Rio, a mulher do ex-capitão, Danielle Mendonça da Costa Nóbrega, trabalhou no gabinete de Flávio de 6 de setembro de 2007 até 14 de novembro do ano passado. Já a mãe de Nóbrega, Raimunda Veras Magalhães, esteve lotada no mesmo gabinete de 11 de maio de 2016 até 14 de novembro de 2018. Ambas recebiam salário mensal de R$ 6.490,35. Raimunda é citada no relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) feito na Operação Furna da Onça, que investiga corrupção no Legislativo fluminense. Raimunda repassou R$ 4.600 para a conta de Queiroz.

A Operação Intocáveis cumpriu cinco mandados de prisão (de 13 expedidos) contra milicianos que atuam nas comunidades de Rio das Pedras e Muzema, na zona oeste. Eles são acusados de grilagem de terras; construção, venda e locação ilegais de imóveis; receptação de carga roubada; e extorsão, entre outros crimes.

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Entre os presos, está o major da PM Ronald Paulo Alves Pereira, que chefiaria a milícia com o ex-capitão Nóbrega. Os dois testemunharam no inquérito que investiga o assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL) e seu motorista Anderson Gomes. Eles são suspeitos de integrar o grupo de extermínio conhecido com Escritório do Crime, que estaria relacionado à execução da parlamentar. O Estado não localizou seus advogados para que se pronunciassem.

Nóbrega e Pereira foram homenageados por Flávio em 2003 e 2004 na Alerj por sua atuação como policiais. Nóbrega foi agraciado com a Medalha Tiradentes, considerada a maior honraria do Estado. Pereira recebeu uma menção honrosa. 

Em nota, Flávio afirmou que a mãe e a mulher do ex-capitão da PM foram contratadas por indicação de Queiroz. A defesa de Queiroz confirmou que ele conheceu Adriano da Nóbrega quando ambos trabalhavam no 18.º Batalhão da PM. Afirmou também que foi ele quem solicitou a homenagem ao policial. Queiroz confirmou ainda que indicou a mãe do ex-capitão e também a sua mulher para trabalharem no gabinete de Flávio.

O ex-assessor é investigado pelo Ministério Público Estadual desde que o Coaf identificou as movimentações atípicas em sua conta. Flávio, como outros 21 deputados, é investigado na esfera cível, por improbidade administrativa, por causa das movimentações bancárias do ex-auxiliar.

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“O sr. Fabrício solicitou a nomeação da esposa e da mãe do sr. Adriano para exercerem atividade de assessoria no gabinete em que trabalhava, uma vez que se solidarizou com a família que passava por grande dificuldade pois à época ele estava injustamente preso, em razão de um auto de resistência que foi, posteriormente, tipificado como homicídio, caso este que já foi julgado e todos os envolvidos devidamente inocentados”, informou a nota assinada pelo advogado de Queiroz, Paulo Márcio Ennes Klein. 

Flávio já defendeu atuação de grupos armados nas favelas

Com a notícia da ação policial, circularam na internet trechos de discursos sobre milícias feitos pelo deputado Flávio Bolsonaro (então no PP). Um deles ocorreu quando Flávio votou a favor da criação da CPI das Milícias, em 2008. Nele, apesar do voto favorável à proposição, defendeu a atuação dos grupos armados nas favelas, para combater o domínio do tráfico de drogas.

“Sempre que ouço relatos de pessoas que residem nessas comunidades, supostamente dominadas por milicianos, não raro é constatada a felicidade dessas pessoas que antes tinham que se submeter à escravidão, a uma imposição hedionda por parte dos traficantes e que agora pelo menos dispõem dessa garantia, desse direito constitucional, que é a segurança pública”, afirmou o deputado no discurso.

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Segundo ele, muitas acusações feitas aos policiais que, afirmou, moram em comunidades e são chamados de milicianos, eram sem fundamento.

“Não se pode, simplesmente, estigmatizar as milícias, em especial os policiais envolvidos nesse novo tipo de policiamento, entre aspas. A milícia nada mais é do que um conjunto de policiais, militares ou não, regidos por uma certa hierarquia e disciplina, buscando, sem dúvida, expurgar do seio da comunidade o que há de pior: os criminosos ”, disse Flávio, em discurso de 7 de fevereiro de 2007.

'Estado' mostrou que PMs denunciados trabalharam na campanha de Flávio 

Esta é a segunda vez nos últimos meses que policiais denunciados pelo Ministério Público acusados de ligação com o agora senador eleito pelo PSL têm prisão decretada por suposta ligação com milícias. Em setembro do ano passado, o Estado mostrou que outros dois PMs presos haviam trabalhado na campanha dele foram para a prisão, sob a mesma suspeita. 

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Na ação desta terça, os denunciados são apontados como integrantes de uma milícia que atua nas comunidades de Rio das Pedras, Muzema e adjacências, todas na zona oeste. Os agentes também estiveram em endereços dos denunciados e de algumas empresas relacionadas ao grupo criminoso.

Em dezembro passado, o general Richard Nunes, então secretário estadual de Segurança Pública do Rio, revelou ao Estado que milicianos ligados à grilagem de terras e que atuam na zona oeste da capital haviam ordenado a morte da vereadora Marielle Franco (PSOL). No crime, ocorrido em março, morreu também o motorista Anderson Gomes.