BRASÍLIA - O ministro da Defesa, Walter Braga Netto, e o comandante do Exército, Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, passam por novo teste ao participar, nesta quinta, 27, da inauguração de uma ponte na Amazônia com o presidente Jair Bolsonaro, que transforma todos os seus eventos em atos políticos.
O evento do presidente com os dois generais será exatamente no mesmo dia em que se completa o prazo de 72 horas para que o também general da ativa Eduardo Pazuello, de três estrelas e ex-ministro da Saúde, apresente sua defesa pela participação num trio elétrico, no Rio, domingo passado, durante uma manifestação de claro cunho político, ao lado de Bolsonaro.
Após a entrega da defesa de Pazuello, que vence no fim da tarde, o comandante Paulo Sérgio terá oito dias, até a sexta-feira da próxima semana, para decidir se haverá punição ao ex-ministro e qual será ela. A gradação vai de mera advertência até prisão de, no máximo, 30 dias, passando também pela possibilidade de suspensão.
Ao lado disso, há a expectativa de que Pazuello antecipe sua passagem para a reserva. Pelas regras, ele tem até agosto de 2022 para permanecer na ativa, mas, desde que assumiu o Ministério da Saúde, vem sendo instado a adiantar essa decisão. O ex-ministro da Saúde é general intendente e atingiu o máximo posto no serviço, ou seja, três estrelas.
Com a ida ao trio elétrico na manifestação política, a permanência de Pazuello na ativa é considerada inadmissível. O próprio vice-presidente Hamilton Mourão já admitiu publicamente que essa é uma saída inevitável para amenizar a situação do ex-ministro.
Há intensa pressão de oficiais-generais das três Forças para uma punição exemplar a Pazuello, porque a participação em atos políticos é proibida pelo Estatuto Militar e pelo Regimento Disciplinar do Exército, dois documentos que são ensinados aos alunos das escolas militares já na primeira semana de aula. Deixar passar a atitude de Pazuello em branco criaria um precedente considerado muito perigoso.
De outro lado, há um temor no Comando do Exército de que o comandante Paulo Sérgio determine, por exemplo, a prisão de Pazuello e seja desautorizado por Bolsonaro, que, como presidente, é comandante em chefe das Forças Armadas. Jamais ocorreu algo assim, já que se trata de uma decisão monocrática do comandante, mas, com Bolsonaro, tudo é tido como possível.
Desautorizar comandante do Exército, que acaba de assumir após a crise provocada com a demissão do ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, e de todos os três comandantes – do Exército, da Marinha e da Aeronáutica –, seria arriscado para o próprio Bolsonaro e poderia, inclusive, inviabilizar a permanência de Paulo Sérgio no Comando. Logo, o momento é de muitas conversas e muita tensão.
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