O vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin (PSB), desconversou ao ser questionado sobre a manifestação de apoio à deputada federal Tabata Amaral (PSB-SP) na disputa pela Prefeitura de São Paulo, nas eleições de outubro. A definição das candidaturas, segundo Alckmin, se dará em julho, nas convenções partidárias.
“Os apoios são importantes, porque são um aval, mas não decidem eleições”, disse o vice-presidente no programa WW, da CNN Brasil, na noite desta terça-feira, 2. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) vai endossar o nome do deputado federal Guilherme Boulos (PSOL-SP) na disputa na Capital paulista.
Alckmin afirmou ainda que a população “separa totalmente as eleições estaduais, municipais e federais”. O vice-presidente acrescentou que considera “natural que os partidos optem por ter candidaturas próprias no primeiro turno”.
Em outubro, Alckmin sinalizou apoio a Tabata em discurso na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp). Ele afirmou que a deputada era a “verdadeira mudança”. “Nós, do PSB, vamos representar a mudança, a mudança para mudar a vida da população de São Paulo. Vamos criticar sim, não criticar pessoas, respeitamos as pessoas. Mas criticar o que precisa ser melhorado”, afirmou o vice-presidente na ocasião. Três dias depois do discurso na Alesp, Alckmin fez um “afago” a Boulos, chamando o parlamentar de “companheiro” durante uma reunião partidária na Câmara dos Deputados.
O vice-presidente é uma figura forte na política do Estado e seu apoio tem relevância na disputa eleitoral. Ele foi governador quatro vezes e, para seu último mandato (que durou entre 2015 e 2018), foi eleito no primeiro turno com mais de 12 milhões de votos, o que representava 57% do eleitorado paulista. Em 2022, Lula o procurou para compor sua chapa à Presidência para atrair o eleitorado de centro durante uma disputa polarizada contra Jair Bolsonaro (PL).
Alckmin diz que democracia saiu ‘fortalecida’ do 8 de janeiro
Alckmin também foi questionado sobre os atos golpistas de 8 de janeiro. O vice-presidente contou que estava em uma missa na catedral de São Miguel Paulista quando foi informado sobre a depredação na capital federal.
“Quando terminou a missa é que fui verificar a gravidade da situação. É crime, né? Na realidade, você atentar contra a Constituição brasileira, atentar contra o Estado Democrático é inacreditável. Patriota é quem defende a lei, quem defende a democracia, defende a Constituição. O contrário disso é golpista”, disse ele à CNN.
O vice-presidente opinou que a “democracia saiu fortalecida” do episódio e defendeu a resposta do governo aos ataques. “A resposta do 8 de janeiro foi rápida e foi decisiva. Os três Poderes, Executivo, Legislativo e o Judiciário, todos unidos na defesa da democracia. E no Executivo nos três níveis”, afirmou.
Alckmin criticou o ex-presidente Jair Bolsonaro por ter contestado o resultado das eleições em que saiu derrotado. “Quando você perde uma eleição, agradece os votos recebidos, cumprimenta os vencedores e bola para frente. Não é possível você se eleger pela urna eletrônica, eleger um filho senador pela urna eletrônica, eleger outro filho deputado pela urna eletrônica, outro filho vereador pela urna eletrônica, e, na hora que perde, não vale? É inacreditável”, disse o vice-presidente.
Alckmin defende vetos de Lula à LDO
Durante a entrevista, Alckmin comentou os vetos impostos por Lula à Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2024 nesta terça-feira. Entre os dispositivos vetados pelo presidente estão trechos do calendário para a distribuição de emendas parlamentares impositivas, ou seja, de pagamento obrigatório. Alckmin negou que os vetos representem um desgaste entre os Poderes Legislativo e Executivo. “É natural que pontos do texto orçamentário sejam modificados. Isso faz parte da regra da democracia”, argumentou.
Alckmin afirmou ainda que os Poderes são independentes, mas devem ser harmônicos. “A relação com o Legislativo deve ser pautada pelo diálogo”. A boa relação com o Congresso resultou, por exemplo, nas aprovações do arcabouço fiscal e da reforma tributária, segundo o vice-presidente.
Alckmin reconheceu, no entanto, que o excesso de partidos políticos em atuação no Parlamento é um problema. “A fragmentação parlamentar dificulta a governabilidade, mas com o tempo isso será corrigido”, disse.
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