Pedro Nascimento, Cientista Político, Mestre em Ciência Política pela UFCG e Doutorando em Ciência Política pela UFPE, onde desenvolve pesquisas sobre transparência, accountabilty, democracia e políticas públicas
Ana Tereza Duarte Lima de Barros, Doutoranda em Ciência Política na UFPE. Pesquisadora do Consórcio de Pesquisa sobre Crises e Poder Local - CPL (UFPE/UFPR/UFABC) e membro da rede de cientistas políticas "Red de Politólogas"). Atualmente, Pesquisadora Visitante de Doutorado no Instituto Alemão de Estudos Globais e de Área (GIGA).
É inegável que, nos últimos anos, o brasileiro tem se interessado mais pela política. Desde o ano de 2013, a política brasileira vem passando por grandes transformações. Em grande parte, devido às constantes denúncias de corrupção, à má gestão pública e à insatisfação social com os governos, o que resultou em manifestações populares.
Se por um lado esses eventos promoveram o despertar do interesse da sociedade pela política, por outro, eles também revelaram uma triste constatação: a falta de conhecimento dos brasileiros sobre política e as regras do jogo eleitoral.
Essa constatação revela duas questões importantes. A primeira é a de que a maioria dos brasileiros passaram a participar da política motivados por uma euforia do momento, por influência de outras pessoas (muitas vezes mal-intencionadas) e sem as devidas informações. O outro ponto que merece ser ressaltado é que muitos daqueles que passaram a ter interesse pela política de forma repentina desconhecem os princípios que regem um Estado democrático de Direito, chegando a exigir do governo uma postura antidemocrática. Além disso, outros desconhecem as funções atribuídas a cada cargo público e passam a exigir demandas que a eles não competem.
Esses fatos, contudo, não causam tanta supressa. Um país em que, tradicionalmente, os governos reduzem o orçamento da educação (nos últimos anos com mais frequência) só evidencia o desprezo e a falta de compromisso do Estado com a área de maior importância para a formação da sociedade.
Em se tratando, especificamente, da educação política, a situação é bem mais delicada. Ao longo de décadas criou-se uma cultura de desinformação social e a mensagem disseminada foi a de que "pessoas boas, honestas e de bom caráter não se envolvem com política". Discursos como este, que desestimulam a sociedade a participar da política, fazem com que a população não busque informações sobre as devidas funções dos políticos, sobre a atuação do governo, sobre o gerenciamento dos recursos públicos e sobre a implementação das políticas públicas. Para além disso, a cultura da desinformação acaba por gerar desconfiança da sociedade em relação às instituições, conforme revelado pesquisa divulgada em 2020 pelo Latinobarómentro.
Segundo a pesquisa acima referenciada, mais de setenta por cento dos brasileiros confiam pouco ou não confiam no governo. Em se tratando especificamente do Presidente da República, mais de sessenta por cento dos brasileiros também afirmaram confiar pouco ou não confiar. Por fim, a pesquisa também revela a desconfiança dos brasileiros em relação aos partidos políticos. Dos entrevistados, mais de oitenta por cento revelaram confiar pouco ou não confiar nos partidos.
Diante dessa realidade, a coletânea "Ciência Política: uma proposta educativa" surge com o objetivo de contribuir com a disseminação do conhecimento, através de artigos produzidos incialmente dentro do âmbito acadêmico. Nossa proposta é promover o diálogo entre universidade e sociedade, reduzindo as barreiras na comunicação entre especialistas e cidadãos, e assim fomentar a educação política da população.
O primeiro volume da coletânea, publicado em 2022, reuniu um total de 20 autores (as), entre cientistas políticos (as) e juristas, e contemplou temas como democracia, a relação entre Executivo e Legislativo, presidencialismo de coalizão, participação social, função e atuação do Poder Judiciário, regimes políticos, transparência, opinião pública, cultura política, confiança nas instituições, compra de votos e a questão dos refugiados nos Estados Europeus.
Nesse segundo volume o tema central são as políticas públicas no âmbito nacional e na América Latina. Para tanto, reunimos um total de 26 autores (as), que discutem as políticas públicas com abordagens teóricas e empíricas.
Como é característico da coletânea, este 2º volume visa ao público em geral, embora também possa ser de muita utilidade para cientistas políticos (as) e acadêmicos, principalmente os (as) que estiverem no início da carreira. Está dividido em 10 capítulos que majoritariamente tratam da análise e da implementação de políticas públicas.
Dessa forma, como é o intuito da coletânea, esperamos que este volume seja de utilidade tanto para o grande público, como para os acadêmicos em busca de referências para o seu marco teórico. Acreditamos que um maior conhecimento a respeito do processo de criação, implementação e avaliação de políticas públicas deixe os cidadãos melhor informados, independentes e empoderados para tomarem decisões e participarem mais ativamente na sociedade.