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Como a conjuntura do País afeta o ambiente público e o empresarial

Novas tecnologias e a criminalidade: o crime do futuro e a polícia do passado.

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Por Redação

Rafael Alcadipani, é Professor Titular da FGV-EAESP e membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

 

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Há cerca de um mês, a Polícia Civil prendeu uma quadrilha que furtava caixas-eletrônicos utilizando um dispositivo tecnológico que abria o cofre do caixa de forma fácil e sem alarde. Imagens mostraram os criminosos, bem vestidos, entrando pela porta da frente do banco como se funcionários da agência fossem, abrindo o cofre e saindo sem serem notados. Tal modus operandi é muito mais rápido, chama menos a atenção e é muito menos violento do que utilizar fuzis e explosivos como é frequente em roubos a instituições financeiras em nosso país.

O caso específico mostra que a tecnologia faz com que seja mais fácil, mais rápido e mais eficiente realizar o crime do dia a dia. Há inúmeros relatos da utilização de drones por criminosos e os smartphones e aplicativos de troca de mensagens criptografadas tem criado muita dificuldade para que a polícia monitore criminosos e quadrilha. Estes mesmos smartphones tem facilitado a comunicação dos bandidos localizados em regiões geográficas distantes em tempo real.

Como criminosos sempre buscam minimizar o risco de serem presos ao praticar o delito e maximizar o seu retorno, os atuais desenvolvimentos tecnológicos serão incorporados cada vez mais na prática cotidiana dos que praticam crimes. Nossas forças de segurança precisam estar preparadas para isso. Há uma possibilidade real de que com o uso de tecnologias por parte dos criminosos precisamos ter mais policiais que dominem a lógica da tecnologia digital.

O policial operacional do futuro, possivelmente, precisará de menos fuzis e mais domínio de ferramentas tecnológicas. Novas tecnologias estão abrindo e seguirão a abrir oportunidades para que crimes sejam praticados. Isso fica evidente ao notarmos o aumento exponencial dos crimes que acontecem na internet. Dados da Safernet dão conta do aumento de 109,95% dos cyber-crimes no Brasil em 2018 em relação ao ano anterior. Além disso, o Brasil foi o segundo país do mundo em que as pessoas mais perderam dinheiro com cyber-crimes, apontou relatório da Norton Cyber Security.

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Apesar do crescimento vertiginoso dos crimes no mundo virtual, o Estado brasileiro é incapaz de registrar este tipo de crime que fica diluído nas estatísticas de crimes tradicionais como estelionato, extorsão, etc. Ou seja, se quer temos dados oficiais para se conhecer o tamanho do problema.

Se invadem uma casa é possível rapidamente ligar 190, mas quem chamar quando tentam invadir um computador privado? Muitas polícias do mundo possuem unidades tecnologicamente bem estruturadas e organizadas que realizam tanto o patrulhamento constante da internet quanto a investigação do cyber-crime. Em nosso país, este tipo de iniciativa é ainda bastante incipiente e atrai pouca atenção do trabalho policial. Hoje, a prevenção e o grosso do enfrentamento ao cyber-crime estão nas mãos das empresas privadas, uma indústria que cresce ano após ano.

Uma terceira dimensão importante das tecnologias contemporâneas e o crime está nas possibilidades abertas pelos últimos desenvolvimentos em ferramentas de análise de dados. Eventos criminais registrados possibilitam o emprego de ferramentas de análise de big data e o desenvolvimento de algoritmos que preveem comportamentos criminosos em uma dada população. Toda esta informação precisa ser gerida em tempo real, algo que tem acontecido em diversas forças policiais mundo a fora. Se por um lado há questões éticas e sociais ligadas ao emprego destas novas tecnologias de dados, por outro elas facilitam a utilização mais eficaz e eficiente dos recursos do Estado no combate ao crime.

Uma das características centrais da contemporaneidade é a velocidade das mudanças e rapidez do surgimento de novas tecnologias. Infelizmente, as políticas de segurança pública no Brasil quase nunca levam em conta a questão do crime no ambiente digital e muito pouco tem sido feito para que as polícias estejam preparadas para lidar com todos os grandes desafios decorrentes da associação entre crime e tecnologias. Novas tecnologias significam novas oportunidades para práticas criminosas e novas habilidades dos policiais para lidar com o crime.

O fato de não termos indicadores de cyber-crimes é um claro sinal da falta de preocupação com um tipo de crime que aumenta exponencialmente no Brasil. Para nos adequarmos aos novos tempos, é preciso revolucionar a formação policial brasileira, ainda bastante doutrinadora, pouco científica e pouco antenada as mudanças do mundo. Poucas academias de polícia no Brasil ensinam seus policiais a lidarem com a questão da tecnologia. Além disso, boa parte das polícias brasileiras possuem infraestrutura digital que deixam a desejar.

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Os sistemas de inteligência policial são pouco integrados. Grande parte dos operadores da polícia tem ainda conhecimento elementar de como gerir base de dados e de como trabalhar com números, estatísticas e grandes bases de dados, habilidades centrais para a análise criminal efetiva.

Se por um lado há uma preocupação em investir em tecnologias para os policiais, por exemplo a Polícia Civil de São Paulo comprou recentemente um bom número de extratores de dados de celular para investigação e a PM está desenvolvendo um extensivo programa de aplicação de drones para o trabalho policial, por outro há pouca preocupação em todo o Brasil em formar e treinar policiais para lidar com os desafios do futuro. Nossos gestores de segurança pública e das polícias precisam estar mais atentos, pois corremos o risco de termos que enfrentar o crime do futuro com as velhas receitas do passado.

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