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Como a conjuntura do País afeta o ambiente público e o empresarial

"Somos diferentes, mas não desiguais". Aham, sei...

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Por Redação

Ingrid Graziele Reis do Nascimento, Doutora em Engenharia do Território - Instituto Superior Técnico de Lisboa, Diretora de Assuntos Regulatórios e Novos Negócio da empresa DAE/Jundiaí - SP

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Essa frase, proferida pelo Professor Mário Sérgio Cortella, quando aplicada em contextos reais e do cotidiano, principalmente no universo feminino, é difícil de ser assimilada.

Vejamos apenas um relato: Apesar da crescente concentração de mulheres nos mais diversos espaços, as feiras promovidas pelo setor de saneamento básico ainda são, tipicamente, ambientes masculinos. Uma ressalva nesse contexto é a relevante presença feminina ocupando posições de vitrines ou, popularmente, "jarros de mesa", reforçando a perpetuação da exploração da imagem da mulher pelos seus atributos físicos.

Muitas vezes, nesses locais, a mulher tem um papel servil, cabendo a ela oferecer bebidas e distribuir pequenos agrados, como forma de atrair a atenção dos visitantes a passarem pelo "stand", visitantes esses, na sua grande maioria, do sexo masculino. Infelizmente, ouso dizer que pouco vejo homens com roupas justas, aliás justíssimas, tal como vejo mulheres nesse mesmo papel. E sinceramente, a permuta de mulheres por homens no quesito de atração dos visitantes até poderia ser um nicho a ser explorado.

No que se refere aos visitantes, a desigualdade, em termos quantitativos, é notória. Mulheres no saneamento ainda são minoria, assim como em muitas outras áreas historicamente tidas como ambientes masculinos. Será que um dia alcançaremos a tão sonhada equiparidade?

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É interessante assumir os fatos e refletir sobre eles. Durante a visitação de um evento, conheci uma empresa fundada exclusivamente por mulheres. Elas relataram que muitos dos homens que paravam no "Stand" perguntavam quem estava por trás do empreendimento, admirando-se, na maioria dos casos, quando elas diziam: "somos nós as idealizadoras do projeto, apenas nós".

Parece mais um relato banal, mas sabe a tortura do pingo d'água? É isso. Todo dia temos que fingir que não entendemos algo ofensivo para evitar fadigas, provar que somos tão boas quanto eles, e isso, por vezes, cansa. Até agora estou querendo saber qual a justificativa de empresas oferecerem catálogos de modelos para compor os "stands"? Seria para potencializar venda de alguma peça do booster? Ou para agregar valor à estação compacta de tratamento de lodo? Ou talvez para explicar o dimensionamento de poços de visita. É, caro leitor, parece que existem fatos que estão explicados na subjetividade. Talvez, tudo isso seja cultural e apenas um padrão que vem sendo repetido ao longo do tempo. Se sim, talvez caiba a nós como sociedade (re)calcular rotas e perceber onde existe objetividade em tanta subjetividade.

O fato é que as mulheres são profissionais que podem e devem cada vez mais ocupar quaisquer espaços, seja no âmbito da tomada de decisão ou nos contextos operacionais do dia-a-dia. Já passou da hora de deixarmos de ocupar espaços restritos à atração de clientes. O que faz a ostra produzir a pérola é o incômodo do corpo estranho, ou seja, o desconforto produz mudanças por mínimas que sejam. O meu desconforto com determinadas realidades e fatos, somado ao seu e ao de outras mulheres, talvez seja o caminho para novos cenários no contexto de saneamento básico.

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