Nova York está a cada dia mais suja. Falo com a vivência de quem morou lá por 5 anos. Tropeçar em colchões abandonados cheios de percevejos, pilhas de lixo nas laterais das ruas continua sendo o velho normal. Recentemente, a prefeitura de Nova York apresentou a "lixeira do futuro." Foi planejada para substituir o modelo antigo, um clássico de NY: cestos verdes de metal, pesados, pouco funcionais e que sempre acolheram bem os moradores mais detestados de Manhattan, os ratos.
A nova lixeira é resultado de um projeto que buscou ergonomia, menor esforço para os garis que recolhem o lixo e funcionalidade. É mais alta é leve. Tem duas divisões de plástico que ficam sobre uma base de metal. Foi desenhada para tornar menos difícil o trabalho de lixeiros, quando passam para recolher o lixo. A novidade traz não afasta velhos problemas. As novas lixeiras são menos largas. Se não houver uma mudança na escala para recolhimento de lixo, rapidamente ficarão ainda mais lotadas que as antigas. Não há espaço para compostagem. E falta consciência da população local sobre produção e descarte de resíduos, de lixo.
Nova yorquinos, brasileiros, difícil encontrar um cidadão que tenha consciência de que lixo é resultado de algo que foi consumido por ele mesmo. O lixo é do cidadão. E jogar o que é dele fora, é jogar no planeta, é encher ainda mais a Terra de plásticos, isopor, papel, latas, vidros. A falta de consciência contribui para uma baixa adesão à coleta seletiva. Na capital federal, a taxa da coleta seletiva na coleta total é de menos de 5 por cento. É baixa também a consciência de que lixo é dinheiro. Com ele, é possível gerar energia e poupar espaço dos aterros sanitários para onde ainda vão 90 por cento dos resíduos. Segundo a Associação Brasileira de Recuperação Energética (Abren) , 80 milhões de toneladas de lixo por ano poderiam ser aproveitadas como fonte de energia.
Investir em aproveitamento de resíduos sólidos é avançar no maior desafio mundial: crescer com sustentabilidade. Investidores estrangeiros estão particularmente interessados em projetos no Brasil que tenham como meta carbono zero, um equilíbrio entre emissões e captura de CO2 e outros gases de efeito estufa.
Amanhã, o presidente Lula abre a Assembleia Geral da ONU. A torcida de diplomatas e de investidores é para que Lula não saia do script que foi escrito para ser lido por ele na ONU. O sucesso se dará pela ausência de surpresas. Até os bebedouros da ONU conhecem a posição do governo brasileiro de defender uma reforma do Conselho de Segurança da ONU, com aumento no número de membros do Conselho de Segurança, multilateralismo, maior participação do chamado Sul Global, dos países em desenvolvimento. O que se espera é um compromisso mais enfático em cumprir as metas de carbono zero, com redução de desmatamento e agronegócio com tecnologia de ponta para reduzir emissões de gases de efeito estufa.
Lula também tem encontro com o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden. O assunto será a precarização do trabalho. Talvez seja o caso de aproveitar o tema para avançar em melhorias aqui no Brasil nas condições de trabalho dos catadores de lixo. Heróis da sustentabilidade, invisíveis na sociedade, catadores enfrentam adversidades que agridem vários dos 17 objetivos do desenvolvimento sustentável. Remuneração baixa, falta de EPI's, ausência de legislação específica para estruturar cooperativas, desengajamento de estados e municípios.
Ucrânia, Rússia, Cuba, Venezuela, países que levam a temas sensíveis e preocupantes. O Brasil terá sucesso e protagonismo se investir em Sustentabilidade.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.