“O Brasil pode ser o grande protagonista da mudança energética,” disse hoje o presidente em exercício, Geraldo Alckmin, na reunião do comitê gestor do Fundo Clima.
Pode, mas...
Como vice-presidente, presidente em exercício, ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio e Serviços (mdic) e cotado para substituir José Múcio no ministério da Defesa, Alckmin é retratado por assessores como o protagonista do Dragon Ball.
No Dragon Ball, Son Goku é um herói que treina artes marciais e busca as sete esferas do Dragão. Com todas as esferas reunidas, terá o desejo realizado.
As esferas estão espalhadas pelo território brasileiro, mas... o desafio é juntá-las.
Como quem não quer nada, a advocacia-geral da união deu parecer favorável à exploração de petróleo na foz do Amazonas e ainda encaminhou o caso para uma mediação entre o ministério de Minas e Energia e o Ibama. O governo Lula “mordeu” quem está na linha de frente em busca do protagonismo no desenvolvimento sustentável. Agora, caberá ao Ibama suportar a pressão e dar a última palavra sobre o pedido de licença da Petrobrás para explorar petróleo na foz do Amazonas.
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Hoje, o governo Lula assoprou. “O combate à crise climática não virá do mercado”, disse o presidente do BNDES, Aloízio Mercadante, que defendeu maior participação de bancos públicos no desenvolvimento de ferramentas para enfrentar a crise climática. A retomada do Fundo Clima é estratégica para quem se propõe a ser protagonista na mudança energética. O Fundo financia empreendimentos, equipamentos, tecnologia para reduzir emissões de gases efeito estufa e mitigar efeitos das mudanças climáticas. O problema é que falta dinheiro para investimentos.
O morde e assopra tem sido uma constante na área ambiental.
Assessores do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, vão tentar nos Estados Unidos e na Europa atrair investidores para os primeiros bônus verdes ou sustentáveis soberanos, que poderão capitalizar o Fundo Clima.
As esferas estão todas por aqui, mas ainda faltam instrumentos e recursos para reunir tanta riqueza.
A Raízen é a primeira produtora de etanol a receber certificação no mundo para produzir SAF, o combustível sustentável para aviação. O mundo inteiro quer SAF, para reduzir emissões de gases de efeito estufa no setor de transportes.
No Paraná, a Earth Renewable Technologies desenvolveu um plástico 100 por cento biodegradável e compostável. Também tem como matéria-prima a cana de açúcar. Na composteira, em 180 dias vira adubo. É compostável de verdade, ao contrário de peças de marketing verde, como o bioplástico não compostável que pode levar centenas de anos para ser degradado, ou o plástico oxibiodegradável que se fragmenta em microplásticos.
O diesel verde é outra esfera preciosa. É diesel, mas feito de oleaginosas. Já foi até batizado de combustível do futuro.
O agro é pop, o agro é tech, e pode ter papel fundamental no desenvolvimento sustentável. Tanto no caso do diesel verde, do saf, do plástico biodegradável faltam leis federais que regulem o mercado e estimulem a economia verde.
A transformação será possível, mas não na base do morde e assopra.
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