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Opinião|Por que não é divertido ouvir secretário paulistano dizer que ‘o planeta se salva sozinho’

Declaração de secretário de clima da cidade de São Paulo soa como dizer que homem não foi à Lua

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Atualização:

A Sombra. Não está vendo que é luz de estúdio? E a bandeira tremulando?

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Um suposto físico aposentado, com aquele casaco de nylon azul vendido na lojinha do Kennedy Space Center, na Flórida, aparece em seguida, explicando que tudo foi filmado na área 51 e que o homem não foi à Lua.

Se você nunca assistiu a um “documentário” com teorias da conspiração sobre o homem na lua, não sabe o que é diversão.

Nada divertido foi ouvir o secretário-executivo de mudanças climáticas da cidade de São Paulo, Antônio Fernando Pinheiro Neto, dizer que o planeta se salva sozinho da crise climática. A fala foi em junho, no Fórum Permanente de Mudanças Climáticas e Desastres Ambientais da seção paulista da OAB, e viralizou agora em redes sociais.

A NASA tem mais o que fazer do que estudar o brasileiro. Em janeiro, o GISS, Goddard Institute for Space Studies- sim, da NASA- emitiu um alerta de que a temperatura da superfície da Terra bateu novos recordes. “A razão para essa dinâmica de aquecimento é que as atividades humanas continuam a lançar quantidades enormes de gases de efeito estufa na atmosfera, provocando impactos no planeta de longo prazo”, explicou o diretor do GISS Gavin Schmidt.

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O secretário Antônio Fernando ainda disse: “o planeta não será salvo por nós.”

É ingênuo pensar que salvaremos o mundo, trocando carros por bicicletas e evitando sacolas plásticas no supermercado. Ingênuo, porém, ético. A consciência individual leva à consciência coletiva. Sustentabilidade é ética. E, espero, cada um de nós já está fazendo muito mais.

Há também esforços globais, públicos e privados, para reduzir as emissões de CO2. O Japão trabalha obsessivamente para tornar economicamente viável a produção e uso de hidrogênio verde. A União Europeia, a cada ano, aperta metas e aperfeiçoa métodos para redução de gases de efeito estufa. Os Estados Unidos lançaram um plano para reduzir as emissões de usinas elétricas movidas a carvão e a gás. Por lá, a politização é tamanha que virou palavrão a sigla ESG que se refere a metas ambientais, sociais e de governança.

Mas sem xingar a mãe de ninguém, americanos já entenderam que é preciso avançar no que chamam de descarbonização. Os efeitos da crise climática estão cada vez mais evidentes. Na semana passada, num parquinho de crianças em Austin, Texas, a temperatura chegou a 54 C e ondas de calor devem afetar mais de 50 milhões de americanos neste verão.

Por aqui, a matriz energética é naturalmente linda, limpa, sustentável. O problema é o desmatamento e a agricultura que respondem por mais de 70% das emissões de carbono brasileiras.

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Seja por pressão, seja por consciência coletiva, seja por política internacional, está praticamente pronta uma proposta para regulamentar o mercado de carbono brasileiro. A coordenação é do Ministério da Fazenda, mas envolve outros ministérios. Assessores de ministros estão varando a noite para revisar a minuta de projeto. Ainda não sabem como e quando chegará ao Congresso.

Há outros projetos por lá sobre o tema. A aposta no governo é que a proposta entre na fila de votações, depois do que é prioritário na agenda econômica: a reforma tributária e o arcabouço fiscal.

A ideia é seguir o modelo da União Europeia, Califórnia, Canadá, o cap and trade system, um sistema de comércio de emissões: um teto para emitir gases de efeito estufa; quem emitir menos do permitido, pode comercializar os créditos de carbono excedentes. Tudo regulado pelo governo.

Alguns setores já sinalizaram que não vão aceitar a multa, prevista na minuta, de 5 por cento do faturamento, caso descumpram as metas. É ponto de partida, nas discussões da proposta.

O Brasil dará sinais de amadurecimento, se chegar à COP 28, no fim do ano em Dubai, com um mercado de carbono regulado.

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Ah, já vão dizer que mercado regulado de carbono é tão somente uma autorização para emitir gases de efeito estufa. Não, é oportunidade para o Brasil se alinhar a um novo paradigma tecnológico e econômico. O fio condutor é o da sustentabilidade. É fato que a Agência Internacional de Energia atestou que as emissões de CO2 continuam a crescer, ano após ano.

Mas é preciso fazer algo, porque quem está condenando o planeta somos nós.

Nada é de solução simples, como certamente não foi desenvolver a tecnologia para que Neil Armstrong fotografasse Buzz Aldrin na Lua.

Opinião por Giuliana Morrone

Giuliana Morrone nasceu no hospital da L2 Sul, em Brasíla. Para onde vai, leva a experiência de mais de 30 anos de jornalismo político e internacional. É especializada em ESG.

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