Gleisi defende ‘cargo honorífico’ para Janja: ‘É importante ela ter condições de atuar’

Ministra afirma que governo vai entrar no debate contra o projeto de anistia e defende frente ampla para a candidatura de Lula em 2026

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Foto do author Geovani Bucci
Atualização:

BRASÍLIA – A ministra de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, defendeu que a primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja, tenha um “cargo honorífico” no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Na sua avaliação, é “injustiça” o que se faz com a primeira-dama em relação aos pedidos de informação sobre sua agenda, e ataques.

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“Defendo, sim, que [Janja] tenha um cargo honorífico, [então] ela não vai receber nada, seja isso legalizado, porque é importante até que ela possa prestar contas, falar, não vejo problema nenhum”, disse a ministra em entrevista à CNN Brasil.

Como mostrou o Estadão, apesar de não ter cargo formal no governo, Janja, na prática, tem uma equipe de ao menos 12 pessoas à sua disposição. O grupo inclui assessora de imprensa, fotógrafos, especialistas em redes sociais e um militar como ajudante de ordens. O jornal também mostrou que Janja viajou para Roma com passagens na classe Executiva, em possível desacordo com as regras para emissão de passagens no Poder Executivo federal. O caso está em apuração no Tribunal de Contas da União.

A ministra Gleisi Hoffmann disse que Janja deve ter cargo "honorífico" no governo Foto: WILTON JUNIOR

Para Gleisi, a primeira-dama tem peso político. “Acho que é importante ela ter condições de atuar. Ela é a companheira do presidente da República, ela tem um peso social importante”, completou. “Não vejo problema nenhum ela ter essa atuação pública e acho importante essa destinação de um cargo honorífico para a primeira-dama.”

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Governo vai entrar no debate contra anistia

Gleisi Hoffmann afirmou ainda que o governo irá “encarar” o debate envolvendo o projeto de lei da Anistia no Congresso. Ela considera que a defesa sobre o tema se enfraqueceu, especialmente depois da baixa adesão registrada à manifestação do ex-presidente Jair Bolsonaro no último domingo, 16.

“Somos contra a anistia, esse debate nós vamos encarar e não pode ter, porque o que aconteceu no País foi muito sério”, afirmou a ministra. “A tentativa de golpe deles foi muito séria, não foi uma brincadeira não, culminou no 8 de janeiro”, completou.

Na avaliação de Gleisi, não há maioria para votar o projeto. “Especialmente depois da manifestação que Bolsonaro chamou no Rio de Janeiro, acho que enfraqueceu bastante essa posição no Congresso Nacional”, citou. “Mas é óbvio que vão tentar votar, fazer obstrução [de pauta]. Não conseguem fazer obstrução sozinhos, só o PL, teria que ter apoio de outros partidos, mas é a tentativa que vão fazer.”

O projeto de lei de autoria do deputado federal Major Vitor Hugo (PL-GO) trata da anistia aos participantes do 8 de janeiro e reuniu outros semelhantes que foram apresentados na Câmara dos Deputados. É o texto mais avançado no Legislativo hoje. O projeto também pode beneficiar Bolsonaro, já que diz que as pessoas que participaram de eventos antes ou depois de 8 de janeiro de 2023 que tenham conexão com os atos daquele dia também são alvos da anistia.

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O PL, partido de Bolsonaro, avalia que já tem os votos necessários para aprovar a proposta. Por ser um projeto de lei, é necessário ter a aprovação da maioria da Casa, que tem 513 deputados.

PEC da Segurança vai ao Congresso

A ministra afirmou que a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Segurança Pública será enviada ao Congresso Nacional em abril. “Quando Lula voltar do Japão, vamos apresentar junto com o ministro Ricardo Lewandowski (Justiça) apresentar o projeto aos líderes partidários para depois enviar formalmente”, disse.

Na semana passada, o ministro da Justiça disse que se pretende criar um “Sistema Único de Saúde (SUS)” da Segurança Pública. De acordo com o novo texto, a corporação municipal deve atuar de forma integrada com as polícias civil e militar, sem exercer funções de polícia judiciária - o que foi determinado pela Corte. A PEC destaca a necessidade de regulamentação por meio de legislação municipal e da fiscalização por parte do Ministério Público.

Gleisi criticou a conduta do presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab. Para ela, Kassab está sendo “muito injusto” com o presidente Lula. “O governo tem uma composição muito mais ampla que a que o elegeu em 2022, com MDB, PSD, União e PP”, disse.

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O PSD possui três ministérios no governo federal - Minas e Energia, Pesca e Aquicultura, Agricultura e Pecuária - mas Kassab é secretário de Governo e Relações Institucionais do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), potencial candidato ao Planalto em 2026. Durante seminário na Fundação Fernando Henrique Cardoso desta quinta-feira, 20, Kassab afirmou que Lula está cometendo o mesmo erro que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e que está “cada vez mais à esquerda”.

“Também discordo que ‘qualquer um ganharia a eleição de 2022 de Bolsonaro’”, continuou a ministra. “Foram dez candidatos e não foi qualquer um que ganhou, foi Lula. Foi uma eleição muito difícil em que Bolsonaro estava na cadeira da Presidência da República, com muito dinheiro e programas sendo liberados. Muita fake news.”

Frente ampla para 2026

Responsável pela articulação política do governo, a ministra defendeu que seja construída uma frente ampla para as eleições de 2026 maior do que aconteceu no pleito de 2022. Em meio às incertezas sobre a saúde do presidente, Gleisi enfatizou que o petista terá disposição para ser candidato.

“Não estou discutindo 2026, minha relação com os partidos e lideranças, principalmente no Congresso Nacional, é para a governabilidade do presidente Lula. Claro que a qualidade da convivência que nós estabelecermos, a forma e as relações políticas que nós tivermos vão ser importantes para a criação de uma aliança para 2026″, afirmou a ministra.

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“Quero estabelecer a melhor convivência possível, porque defendo que a gente tenha uma frente ampla para a eleição do presidente Lula, maior até do que a gente teve em 2022″, acrescentou. Ela pontuou, no entanto, que isso é um processo em construção: “Essa construção que vamos fazer daqui para frente é o que vai qualificar a construção dessa frente ampla.”

A ministra voltou a defender o nome de Lula para o próximo pleito eleitoral e disse esperar que o petista seja candidato. “O presidente está muito disposto, com energia, com vontade”, pontuou. “Tenho certeza que ele tem disposição para isso [ser candidato em 2026].”

Gleisi evitou fazer previsões sobre o possível adversário do petista no ano que vem. Segundo ela, “qualquer um que seja, vamos enfrentar”.