BRASÍLIA – A eleição que vai renovar o comando do PT ocorrerá somente em meados de 2025, mas a disputa já começou nos bastidores, dando sinais de racha no grupo majoritário do partido, liderado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A deputada Gleisi Hoffmann, presidente do PT, afirmou que trabalhará pela unidade, mas considerou justa a pretensão de José Guimarães (CE), líder do governo na Câmara, de concorrer à sua cadeira.
“Eu acho justo e natural ter um nome do Nordeste pela importância política da região para o PT”, disse Gleisi ao Estadão. “Foi lá que o presidente Lula teve a maioria dos votos em 2022 e é lá que temos quatro governadores”, emendou ela, referindo-se ao Ceará, Bahia, Rio Grande do Norte e Piauí, Estados administrados pelo partido.
Lula já manifestou preferência pelo prefeito de Araraquara, Edinho Silva, para presidir o PT e quer Gleisi no Ministério, possivelmente na Secretaria-Geral da Presidência. Está preocupado, no entanto, com os rumos do PT porque é essa nova direção que vai comandar a campanha nas eleições de 2026, quando ele pretende disputar mais um mandato.
No Palácio do Planalto, auxiliares de Lula avaliam que o embate de 2026 contra o candidato do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) tende a ser “duríssimo”. Embora Bolsonaro esteja inelegível até 2030 por decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), pesquisas indicam que ele ainda mantém força política.
É nesse cenário que a renovação da cúpula petista ganha ainda mais importância. Edinho tem o apoio do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, hoje o mais cotado para ser herdeiro político de Lula. São fiadores da candidatura de Edinho, ainda, o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu e o titular de Relações Institucionais, Alexandre Padilha.
José Guimarães é, atualmente, um dos vice-presidentes do PT e, a exemplo de Edinho, também integra a corrente Construindo um Novo Brasil (CNB), que aglutina a maioria do partido. Quando Lula foi eleito para o terceiro mandato, em 2022, o nome de Guimarães chegou a ser mencionado para a presidência do partido. Mas Lula pediu a Gleisi que continuasse à frente do PT por temer a mudança na condução da sigla logo no início do governo.
Foi a deputada que dirigiu o partido em sua pior crise política, durante todo o período em que Lula – à época condenado no processo da Lava Jato – ficou preso em Curitiba. A mais de um interlocutor o presidente já disse que tem uma dívida de gratidão com ela.
Presidente do PT pode assumir Secretaria-Geral e ficar no Palácio do Planalto
Agora, Gleisi é cotada para assumir a Secretaria-Geral da Presidência no lugar do ministro Márcio Macêdo, após deixar o comando do PT. A escolha da nova direção petista no Processo de Eleição Direta (PED), com voto dos filiados, deve ocorrer em junho de 2025. A ala mais à esquerda do PT também apresentará candidatos.
Situada no quarto andar do Planalto, um acima do gabinete de Lula, a Secretaria-Geral é o ministério que cuida da interlocução com os movimentos sociais. Após o fiasco da comemoração do 1.º de Maio, em São Paulo, Lula escancarou o descontentamento com Macêdo ao dizer que aquele ato havia sido “mal convocado”.
No diagnóstico do presidente, o PT precisa se reformular, pois perdeu interlocução com movimentos sociais e se afastou das periferias, onde as igrejas evangélicas ganharam terreno. Pesquisas em poder do Planalto indicam que as maiores taxas de rejeição de Lula vêm justamente do segmento evangélico.
A atual greve dos professores, que já dura mais de 40 dias, também mostra as dificuldades do governo em negociar com suas antigas bases. Apreensivo com o impacto desse distanciamento nas eleições, principalmente na disputa presidencial de 2026, Lula está em busca de um titular para a Secretaria-Geral que possa agregar os movimentos sociais. Gleisi, na sua avaliação, tem esse perfil, mas ele ainda não bateu o martelo sobre a escolha.
Tanto Gleisi como Edinho foram ministros na gestão de Dilma Rousseff. Ela chefiou a Casa Civil e ele, a Secretaria de Comunicação Social (Secom) da Presidência. Agora, além de ser o favorito de Lula para presidir o PT, Edinho também é citado para assumir a Secom, que tem o desafio de melhorar a divulgação das ações do governo. O ministério está nas mãos de um interino desde que Paulo Pimenta foi deslocado para a recém-criada Secretaria Extraordinária de Apoio à Reconstrução do Rio Grande do Sul.
Questionada se prefere Edinho ou Guimarães para ocupar sua cadeira, Gleisi abriu um sorriso e disse apenas que atuará para construir a unidade no PT. “Os dois são excelentes companheiros”, desconversou.
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