Golpista que ameaçou ‘colapsar o sistema’ ainda vê Bolsonaro como chefe de Estado

Ana Priscila revela não se arrepender de ter apoiado Bolsonaro e critica condenações, pelo STF, de golpistas que participaram do ataque no dia 8 de janeiro

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Foto do author Tácio Lorran
Atualização:
Foto: WILTON JUNIOR
Entrevista comAna Priscila AzevedoExtremista presa pelo 8 de Janeiro

BRASÍLIA - A golpista Ana Priscila Azevedo, apontada pela Polícia Federal (PF) como uma das organizadoras do ataque à Praça dos Três Poderes no dia 8 de janeiro, afirma com orgulho, em entrevista exclusiva ao Estadão, ter sido uma das primeiras bolsonaristas do País. Por uma questão de semântica, ela nega que hoje ainda seja uma “bolsonarista”, mas diz apoiar e reconhecer Bolsonaro como chefe de Estado – apesar da vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas eleições.

Presa desde o dia 10 de janeiro, Ana Priscila diz também ser injusto que os “patriotas” sejam condenados a cerca de 15 anos de prisão pelo ataque. Agora ela se recusa, porém, a falar um ‘pio’ sobre o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes.

A apoidora do ex-presidente da República Jair Messias Bolsonaro ( PL) Ana Priscila Azevedo presa desde o dia 10 de janeiro, presta depoimento na Comissão Parlamentar de Inquérito CPI dos Atos Antidemocráticos da Câmara Legislativa do Distrito Federal ( CLDF). FOTO WILTON JUNIOR/ESTADÃO Foto: WILTON JUNIOR

Ela tem poupado palavras numa tentativa de não piorar sua situação, uma vez que é apontada como organizadora. E se nega a reconhecer os próprios atos. Disse que jamais convocou a população para um golpe de Estado, que não invadiu prédios públicos e que, tampouco, participou da depredação no dia 8 de janeiro. Os fatos revelam o contrário. Vídeos publicados pelo Estadão mostram Ana Priscila, nas vésperas da tentativa de golpe, anunciando que iria “colapsar o sistema”, “sitiar Brasília” e “tomar o poder de assalto”. Ela também aparece comemorando a baderna, inclusive, dentro do prédio do STF.

O Estadão conversou com Ana Priscila em uma sala reservada da Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF). A golpista prestou depoimento nessa quinta-feira, 28, à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Atos Antidemocráticos. Trata-se da primeira entrevista à imprensa de uma golpista do 8 de janeiro que se encontra atrás das grades. A conversa durou cerca de seis minutos, antes de ela retornar à Penitenciária Feminina do DF, conhecida como Colmeia.

Veja a íntegra da entrevista:

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Durante o depoimento a senhora negou ser bolsonarista. Disse que era patriota e conservadora, mas negou a se dizer bolsonarista. A senhora já foi bolsonarista algum dia?

Fui.

E por que a senhora não é mais? O que te fez mudar de opinião?

Assim, no começo, de 2016 até 2017, eu fui uma das primeiras bolsonaristas. Mas depois, com o passar do tempo, estudando, eu não gosto do termo bolsonarismo, porque remete a um messianismo político. Então, hoje eu confio na pessoa do ex-presidente Bolsonaro, vejo ele, reconheço ele como um chefe de Estado. Eu só não gosto do termo bolsonarismo porque remete a um messianismo político que vai de encontro aos meus princípios.

Hoje a senhora vê falhas do ex-presidente Jair Bolsonaro sobre o 8 de janeiro? A senhora falou no depoimento que não teve um soldado para dizer para vocês recuarem. O Bolsonaro poderia ter dito isso. A senhora vê, então, alguma falha nisso?

Não, não vejo falha.

A senhora se arrepende de ter apoiado ele?

Não, não me arrependo.

O plenário do STF tem julgado os primeiros presos do 8 de janeiro e as condenações ultrapassam os 10 anos. A senhora teme que essa medida seja adotada contra a senhora também? Tem medo?

Com certeza. Todos nós temos. É uma prisão injusta. Pelo que temos acompanhado são condenações que não condizem porque não houve golpe de Estado, não houve abolição do Estado democrático de direito, então para mim não condiz.

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Qual a sua avaliação ao ministro Alexandre de Moraes?

Eu prefiro não opinar nada.

No depoimento a senhora cita que ficou oito meses sem tomar banho de sol e ficou numa espécie de solitária. Teve algum outro tipo de maltrato, ou algo nessa linha?

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Não. Por parte da penitenciária eu não tenho nada o que falar. Pelo contrário, eu tenho que agradecer todo o quadro das policiais ali que me trataram assim com muita generosidade. Agora, as condições sob as quais eu fui colocada, são condições de tortura. Essa é a questão que dá o tipo de prisão que eu fui submetida. Então assim, é um espaço que é destinado para a disciplina, um isolamento disciplinar. Então não tem banho de sol. É um lugar onde as presas vão para passar 15 dias e eu fiquei lá oito meses. Um local completamente inadequado e sem acesso ali ao sol. Então teoricamente tem o banho de sol, mas na prática não bate o sol.

Como a senhora avalia o depoimento de hoje na CPI da CLDF?

Avalio de forma extremamente positiva, pois desde o começo, desde fevereiro, quando foi ventilada essa hipótese do meu depoimento, sempre fiz questão de vir depor, pois é a minha oportunidade de falar a verdade. Até então eu fui acusada de várias coisas e nunca tive a oportunidade de me defender então eu avalia de forma muito positiva.

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