BRASÍLIA - O procurador-geral da República, Paulo Gonet, terá como um de seus primeiros atos de gestão definir o novo responsável pelo Grupo Estratégico de Combate aos Atos Antidemocráticos (GEAA), que coordena as investigações dos ataques golpistas às sedes dos Três Poderes no dia 8 de janeiro. Existe a possibilidade de o novo PGR não delegar a chefia da equipe a um subordinado e manter consigo a supervisão desses processos para facilitar a interlocução com o Supremo Tribunal Federal (STF).
Gonet deve decidir o futuro do grupo nos próximos dias em reunião com novo o vice-procurador-geral da República, Hindemburgo Chateaubriand. O antigo coordenador do GEAA, subprocurador Carlos Frederico, entregou o cargo nesta segunda-feira, 18, mesmo dia em que Gonet assumiu o comando do Ministério Público da União (MPU).
A reportagem apurou que o novo procurador-geral não procurou Frederico para discutir os rumos do grupo durante o curto período de transição na PGR, entre a sua aprovação pelo senado na última quarta-feira, 14, e a posse nesta segunda-feira. O antigo coordenador do GEAA optou por se afastar do cargo para dar “liberdade” a Gonet na montagem da equipe.
Antes de deixar o posto, Frederico recuperou e incluiu no inquérito do 8 de janeiro o vídeo excluído pelo ex-presidente Jair Bolsonaro com alegações de fraude nas eleições presidenciais de 2022. A publicação era tida como peça fundamental para arrolar o ex-chefe do Executivo como incitador de atos golpistas. O ex-chefe da GEAA também pediu ao relator do caso no Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Alexandre de Moraes, que a investigação do ex-presidente tramite separadamente.
O Estadão apurou que Frederico e seus auxiliares consideram que o material probatório reunido até o momento dá condições ao futuro coordenador da GEAA de decidir se apresentará denúncia ou arquivará as investigações relacionadas a Bolsonaro. Em pouco mais de onze meses de trabalho, o grupo denunciou 1.156 pessoas. É por esses motivos que esse núcleo é hoje visto como uma das “joias da coroa” na PGR.
O grupo foi criado no dia 11 de janeiro deste ano pelo ex-procurador-geral da República, Augusto Aras, numa tentativa de dar respostas pelos atos golpistas. O antecessor de Gonet foi duramente criticado por seus colegas no Ministério Público e políticos na Praça dos Três Poderes pela atuação insuficiente em conter arroubos autoritários durante os quatro anos de governo Bolsonaro.
Aras delegou a função de coordenar o grupo a Frederico, embora coubesse ao próprio procurador-geral o papel de denunciar as pessoas indiciadas pelos crimes cometidos no dia 8 de janeiro perante o STF. Por isso, ressurgiu a discussão de que Gonet poder manter em seu gabinete o GEAA.
O novo PGR chegou ao cargo com o apoio dos ministros Gilmar Medes e Alexandre de Moraes. A manutenção do grupo sob sua alçada é vista como uma maneira de facilitar a interlocução com o relator dos inquéritos, sobretudo após o desgaste entre o Ministério Público e o STF causado pela gestão distanciada de Aras.
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