Governo ‘abandona’ Mendonça e evangélicos tentam salvar indicação ao Supremo

Vaga está aberta há dois meses; presidente da CCJ, senador Davi Alcolumbre, vê maioria contrária a Mendonça e quer indicação de Aras

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 BRASÍLIA – Sem defensores entusiasmados e diante da falta de interlocução do governo com o Senado, o ex-ministro André Mendonça conta apenas com o apoio dos evangélicos para se viabilizar como a segunda indicação de Jair Bolsonaro ao Supremo Tribunal Federal (STF). O Estadão apurou que o líder da bancada evangélica, Cezinha Madureira (PSD-SP), procurou nesta quarta-feira o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), para tentar destravar a indicação.

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"Pacheco vai ajustar a pauta com Alcolumbre. Vai pautar rápido", afirmou o deputado em tom otimista. Logo após o encontro com o presidente do Senado, Cezinha e líderes evangélicos também foram até o Palácio do Planalto cobrar empenho de Bolsonaro. Em seguida, o próprio Mendonça foi até à sede do Executivo se reunir com o presidente.

Num movimento incomum e que expõe a crise na articulação política do governo, o presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), senador Davi Alcolumbre (DEM-AP), se recusa a colocar na pauta a indicação de Mendonça desde o dia 13 de julho. Sem a sabatina e a votação na CCJ, o processo não anda.

André Mendonça, ex-AGU, foi indicado pelo presidente Jair Bolsonaro ao STF em julho; desde então, aguarda aval do Senado para ser conduzido à Corte. Foto: Gabriela Biló / Estadão

Alcolumbre tem dito a interlocutores que não há votos para aprovar o nome do ex-ministro e sugere ao Palácio do Planalto que troque a indicação pelo procurador-geral da República, Augusto Aras. Mas, na prática, o ex-presidente do Senado tem usado essa agenda para dar um troco no governo após ter sido preterido em indicação para ministérios e ver seu irmão perder a eleição em Macapá por causa da demora do governo em resolver uma crise energética no Estado, no fim do ano passado.

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A preferência por Aras, contudo, não é apenas de Alcolumbre. O Estadão apurou que entre ministros do Supremo o nome do PGR também é considerado “mais robusto” para ocupar uma cadeira na mais alta Corte do País. Para um ministro do STF, o governo não está “preocupado” com Mendonça.

O presidente da Câmara, Arthur Lira (Progressistas-AL), também já se colocou contra a indicação de Mendonça em rodas de conversas em Brasília. Nos encontros reservados, Lira costuma dizer que Mendonça seria “o Fachin de Bolsonaro”, numa referência ao ministro Edson Fachin, indicado pela ex-presidente Dilma Rousseff, relator da Operação Lava Jato. Além de Aras, no meio político os nomes do presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), Humberto Martins, e do ministro Luis Felipe Salomão, também do STJ, são mais aceitos.

Bolsonaro sabe disso, mas optou por Mendonça devido a sua promessa de indicar um nome “terrivelmente evangélico” para a vaga. Segundo fontes do Planalto, o presidente prefere que o Senado faça o papel de “derrubar” a indicação. Dessa forma, ele pode dizer que tentou pagar a conta, mas politicamente o nome não se viabilizou. “O presidente se obrigou a indicar um evangélico. Se quiserem fazer safadeza com o André, isso não desobriga o presidente, vai ter que indicar outro evangélico”, afirmou o pastor Silas Malafaia, da Assembleia de Deus Vitória em Cristo.

Nesta quarta-feira, os senadores Alessandro Vieira (Cidadania-SE), Alvaro Dias (Podemos-PR), Esperidião Amin (Progressistas-SC) e Soraya Thronicke (PSL-MS) fizeram um apelo público para que Alcolumbre paute a indicação. Como resposta foram informados pelo senador do Amapá que não há previsão para essa agenda. Nenhum dos atuais ministros do STF teve que esperar tanto para a sabatina.

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"Quais as razões republicanas para que se tenha o maior retardo numa sabatina na história do senado?", cobrou Alessandro. "Fica registrado seu questionamento", esquivou-se Alcolumbre.

A reunião de hoje para tratar sobre a agenda de sessões do Congresso Nacional também teve como um dos assuntos a sabatina de Mendonça. Os senadores e líderes do governo no Senado, Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE), e no Congresso, Eduardo Gomes (MDB-TO), pretendem cobrar de Pacheco uma sinalização de data para que a indicação seja votada. "Não esgotamos ainda as conversas com o presidente Davi", afirmou Coelho.

André Mendonça tem o apoio declarado das bancadas do PSD e PL, que juntas somam 15 senadores. De acordo com levantamento do Placar do Estadão, 25 senadores declararam apoio público ao indicado por Bolsonaro.

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