Governo Lula descumpre transparência e não divulga despesas com viagens

Casa Civil da Presidência da República nega acesso a dados referentes a deslocamentos de Lula dentro e fora do País

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Foto do author Natália Santos
Atualização:

O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem atuado de forma contraditória com o que foi prometido durante a campanha eleitoral em relação à transparência. Respostas via Lei de Acesso à Informação (LAI) de pedidos feitos pelo Estadão não respeitam pareceres já divulgados pela Controladoria-Geral da União (CGU) e direcionamentos previstos na legislação. Uma das negativas foi do Ministério da Economia, que se recusou a compartilhar a lista de entradas e saídas do prédio da pasta durante os primeiros meses de 2023. O Ministério da Economia foi extinto por Lula, mas sua estrutura de gestão permanece na plataforma Fala.BR, mesmo após a divisão entre as pastas da Fazenda, Gestão, Planejamento, Indústria e Povos Indígenas.

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Para a Casa Civil da Presidência, a reportagem pediu acesso aos gastos das viagens nacionais e internacionais de Lula. Mas o pedido foi negado também.

Para justificar a negativa ao compartilhamento de dados sobre quem visitou o Ministério da Economia, a pasta afirmou que o conteúdo dos registros é “informação que gira em torno do conhecimento sobre informações pessoais” e que, para processar esses dados, teria um trabalho adicional. A decisão destoa do posicionamento de outros órgãos do governo, como Defesa, Turismo, Infraestrutura e Vice-Presidência, que enviaram os dados após receberem o mesmo pedido da Economia, por exemplo.

O presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva (PT), durante reunião ministerial realizada na manhã desta segunda-feira, 3, no Palácio do Planalto em Brasília.  Foto: WILTON JUNIOR / ESTADÃO - 3/4/2023

Nos últimos anos, a CGU emitiu diversos pareceres favoráveis à divulgação dos registros de entradas e saídas dos prédios públicos, afirmando que essas informações são públicas. Em fevereiro deste ano, o órgão reiterou a decisão.

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A justificativa de trabalho adicional como negativa é amparada pelo artigo 13 da Lei de Acesso à Informação que define que não serão atendidas solicitações que exijam atividades a mais de análise, interpretação ou consolidação de dados. Entretanto, o mesmo artigo exige que, caso o órgão utilize dessa alegação, devem ser enviadas informações extras como a quantidade de horas necessárias para realizar o tratamento indicado. Na resposta ao pedido não foi enviado esse detalhamento.

O site do Fala.BR mostra que a primeira negativa foi respondida pela Coordenação-Geral de Terceirização, Transporte, Informação e Patrimônio. No dia 29, o Estadão entrou com recurso para que a resposta fosse revista. O período de reavaliação foi finalizado na última terça-feira e o retorno foi uma nova negativa, respondida dessa vez pelo Secretário de Gestão Corporativa. Ambos os cargos fazem parte do Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos que, segundo informação do Ministério da Fazenda ao Estadão, está responsável por fazer a gestão dos dados de entrada e saída de alguns prédios.

O Estadão entrou em contato com o Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos para saber mais informações sobre essa gestão de dados. Quando a resposta for recebida, ela será adicionada a essa reportagem.

Viagens

Para a Casa Civil da Presidência da República, o Estadão pediu, por meio da LAI, acesso aos gastos das viagens nacionais e internacionais de Lula. Em resposta, o órgão afirmou que não poderia enviar essas informações devido, principalmente, ao artigo 24 da Lei de Acesso à Informação que define que “as informações que puderem colocar em risco a segurança do Presidente e Vice-Presidente da República e respectivos cônjuges e filhos(as) serão classificadas como reservadas e ficarão sob sigilo até o término do mandato em exercício ou do último mandato, em caso de reeleição”.

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Entretanto, os gastos com viagens oficiais exigem prestação de contas, conforme a LAI, já que se utiliza de recursos oriundos de cofres públicos. No governo de Jair Bolsonaro, marcado por negar o acesso a centenas de informações públicas, os gastos com viagens eram divulgados, ao longo do mandato, pela Secretaria-Geral da Presidência.

Regra consolidada

Diretora de programas da organização Transparência Brasil, Marina Atoji avalia que a negativa em divulgar informações cujo acesso é garantido pela LAI evidencia dificuldades do governo em cumprir uma regra já consolidada. “Esse descompasso deixa a impressão de que a lei não está funcionando, seja por essa falta de padronização de entendimentos, seja pela negativa a dados básicos.”

Em nota, o Fórum de Direito de Acesso a Informações Públicas lembrou a publicação da CGU deste ano. “Exceção é reservada a informações pessoais sensíveis, como dados de visitantes de órgãos de defesa de direitos humanos ou hospitais.”

Cofundador da agência de dados especializada no acesso à informação Fiquem Sabendo, Bruno Morassutti defende um posicionamento mais enfático de Lula. “É importante que o presidente, na posição de chefe do Executivo, reitere a importância da transparência pública e tome as medidas para fazer com que as decisões antigas, contrárias ao acesso à informação, sejam revertidas, e, naqueles casos de órgãos que insistem em negar acesso à informação, punir esses agentes públicos”, disse. l

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O que diz a lei

Esferas

A Lei de Acesso à Informação é aplicável aos três Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos municípios. Na esfera federal, a Controladoria-Geral da União (CGU) é o órgão central do Sistema de Controle Interno do Poder Executivo Federal.

Regras

A lei institui como princípio fundamental que o acesso à informação pública é a regra, e o sigilo somente a exceção. Os pedidos de acesso à informação podem ser encaminhados por qualquer cidadão ou pessoa jurídica por meio de um sistema eletrônico.

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Prazos

As respostas precisam ser enviadas pelos órgãos competentes em até 20 dias, prorrogável por mais 10 dias, mediante justificativa.

Identidade

Os órgãos e entidades públicas devem proteger as informações pessoais dos cidadãos que pedem acesso a informações públicas.

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