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Governo Lula enfrenta críticas e insiste em ‘posição construtiva’ com regime de Ortega na Nicarágua

Gestão petista não apoiou declaração de 55 países contra violações de direitos humanos na nação da América Central

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Foto do author Beatriz Bulla
Atualização:

Após ser alvo de críticas pelo silêncio e não adesão à declaração conjunta de 55 países que condena crimes cometidos pelo regime de Daniel Ortega, na Nicarágua, o Brasil deve se pronunciar nesta terça-feira, 7, no Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas, em Genebra. A linha do governo Luiz Inácio Lula da Silva, segundo diplomatas envolvidos no caso, será a de demonstrar preocupação com as violações de direitos humanos, mas ainda defender uma “posição construtiva” do Brasil no trato com o regime.

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Na sexta-feira passada, o Brasil não aderiu à declaração que denunciou crimes contra opositores de Ortega apurados por especialistas independentes. Há governos de esquerda latino-americanos que estão entre os signatários do documento, como o chileno e colombiano. O silêncio do Brasil gerou incômodo na comunidade internacional e nesta segunda-feira, 6, repercutiu no País.

Ao longo da semana passada, houve um esforço por parte do Brasil para que o texto e as discussões contemplassem a perspectiva de uma tentativa de saída negociada para a crise na Nicarágua. A diplomacia brasileira diz se incomodar com a indicação de aumento de pressão máxima internacional – quando os países começam a adotar sanções, por exemplo, ou outras medidas unilaterais – sem previsão de mediação. Integrantes do governo Lula afirmam que a medida adotada contra o regime de Nicolás Maduro, na Venezuela, em 2020, não surtiu efeito.

Lula visitou o presidente da Nicarágua, Daniel Ortega, em 2007 Foto: CELSO JUNIOR/ESTADÃO - 08/08/2007

A opção dentro do Itamaraty tem sido a de colocar Lula como um potencial negociador com esses regimes. Críticas e condenações a ditadores e autoritários de esquerda na América Latina inflamam a militância do PT. Durante a campanha eleitoral, Lula evitou condenar o regime Ortega e chegou a dizer que seu adversário, o ex-presidente Jair Bolsonaro, era “infinitamente pior”.

Desde domingo, 5, o membro do Diretório Nacional do PT Alberto Cantalice vem sofrendo críticas de petistas por ter publicado no Twitter que Cuba, Venezuela e Nicarágua são ditaduras. Nesta segunda-feira, Cantalice voltou a tratar dos regimes, também na rede social. “Para fazer frente ao fascismo autoritário e excludente precisamos recalibrar o pensamento de certa ‘esquerda’. Não dá para criticar o autoritarismo da extrema direita e ignorar os autoritarismos ditos de “esquerda”. É incoerente. A esquerda tem de ser democrática integralmente!”, afirmou.

A repercussão negativa dentro e fora do País pelo silêncio do governo Lula foi debatida em Brasília e Genebra nesta segunda-feira. O País deve afirmar que decidiu se posicionar de maneira individual.

Uma possível resolução a respeito da situação na Nicarágua ainda pode ser levada a votação nesta semana, a partir de quinta-feira. Diplomatas brasileiros apostam que ainda há margem para debater os termos da resolução.

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Um grupo de especialistas divulgou, no âmbito do Conselho de Direitos Humanos da ONU, na semana passada, relatório no qual pede a imposição de sanções internacionais contra Ortega. Divulgado em Genebra, o documento menciona execuções extrajudiciais, detenções arbitrárias, estupros, tortura e privação arbitrária da nacionalidade e do direito de permanecer no próprio país. “A população nicaraguense vive com o temor das ações que o próprio governo pode tomar contra ela”, afirmou o especialista independente Jan Simon.

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