Governo Lula exonera 56 militares que cuidavam do Palácio da Alvorada e da residência do Torto

Presidente já declarou ter perdido a confiança em parte dos militares e evita indicar oficiais para a função de ajudante de ordem

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Foto do author Felipe Frazão
Atualização:

BRASÍLIA – Depois de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva declarar que “perdeu a confiança” em parte dos militares da ativa, o governo federal dispensou 56 praças e oficiais das Forças Armadas e da Polícia Militar do Distrito Federal. O contingente exercia funções de confiança no Gabinete de Segurança Institucional (GSI) e na Secretaria-Geral da Presidência (SGP). Do total, 45 atuavam nas residências que serão usadas por Lula e a primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja, e 11 desempenhavam outras tarefas.

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Os atos de dispensa dos militares da ativa foram publicados no Diário Oficial da União desta terça-feira, 17. A lista de demissões dos cargos comissionados traz militares da Marinha, Exército e Aeronáutica. A maior parte trabalhava nos cuidados nas residências oficias da Presidência da República, como o Palácio da Alvorada e a Granja do Torto. Mas havia também militares na estrutura do GSI, um deles ao escritório de representação da Presidência no Rio de Janeiro.

O ministro da Casa Civil, Rui Costa, disse que as exonerações atingiram cargos de “extrema confiança” e serão ainda mais intensas a partir da semana que vem, sejam militares ou civis. “O grosso das nomeações e exonerações será feito a partir do dia 23 até fim do mês. Tem muita gente para sair e entrar”, disse Costa, ao sair de almoço com os comandantes das Forças Armadas no Ministério da Defesa. “O governo que saiu tem pouca ou nenhuma sintonia com o que entrou, o pensamento em todas as áreas é muito diferente, portanto não poderíamos conviver com os mesmos assessores. Alguém achava que íamos manter os assessores do governo anterior? Não é razoável que fosse assim. O regime de governo mudou. Se mudou a filosofia, mudou o conteúdo, então tem que mudar quem está implementando isso.”

As demissões ocorrem num contexto de queixas e críticas públicas do presidente a militares das Forças Armadas. Decisões e declarações de Lula foram recebidas negativamente na caserna. O presidente prepara um encontro com os três comandantes-gerais até sexta-feira, articulado pelo ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, com apoio da Casa Civil.

As evidências de falhas na segurança do Palácio do Planalto durante a invasão de extremistas que tentavam um golpe de Estado no dia 8 de janeiro aumentaram a pressão sobre o ministro do GSI, general Marcos Edson Gonçalves Dias. Mesmo internamente no governo houve questionamentos à atuação do GSI e do Batalhão de Guarda Presidencial. O próprio Lula verbalizou queixas. “Teve muita gente da Polícia Militar conivente, muita gente das Forças Armadas aqui dentro conivente. Estou convencido de que a porta do Palácio do Planalto foi aberta para que gente entrasse, porque não tem porta quebrada na entrada. Significa que alguém facilitou a entrada deles aqui”, afirmou Lula, cobrando investigações.

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Ministros que despacham no Planalto, como o titular da Casa Civil, passaram a defender abertamente mudanças na equipe do GSI. Além disso, sugeriram uma rotina de treinamentos de evacuação do edifício tombado para servidores e autoridades, em situações de ataque ao prédio.

Lula foi o primeiro chefe do Executivo a retirar os militares da ativa da função de ajudantes de ordens, um assessor militar de estrita confiança dos presidentes da República, com acesso a informações reservadas. Ao Estadão, o petista afirmou que “perdeu a confiança” nos militares da ativa que costumam ser designados para a função. O presidente citou casos de indisciplina de praças da ativa, da antiga equipe do GSI bolsonarista - um deles pregou a execução de petistas.

Como o Estadão mostrou, o presidente promove desde o primeiro dia de governo uma “desbolsonarização” da máquina pública, primeiro focada em cargos de chefia, mas que agora atingiu civis e militares do menor escalão. Ele afirmou na semana passada que nenhum “bolsonarista raiz” deveria permanecer no governo, sobretudo na Presidência da República. Determinou uma “triagem profunda” no Planalto e a preferência por civis em cargos políticos ocupados por militares no governo Jair Bolsonaro.

O presidente já havia excluído os militares do GSI de sua segurança imediata. Lula entregou a função, popularmente conhecida como guarda-costas, a policiais federais. Desde a campanha eleitoral os agentes da PF escoltam Lula. O delegado Andrei Passos Rodrigues, então responsável pela segurança de Lula, assumiu a direção-geral da PF.

No Planalto, o petista criou a Secretaria Extraordinária de Segurança Imediata do Presidente da República. A nova unidade agora passou a ser responsável pela segurança no círculo mais próximo do presidente, vice-presidente e familiares de ambos, em Brasília, em eventos e viagens.

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Com a mudança, o GSI perdeu atribuições e poder, ficando com a segurança dos palácios presidenciais, escritórios regionais e residências usadas por Lula e o vice, Geraldo Alckmin. Por decreto, a previsão é que a secretaria extraordinária seja extinta no fim de junho, quando as competências voltarão a ser exercidas “privativamente” pelo GSI. Mas o plano pode mudar.

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“O presidente pediu que nós estamos estudássemos o modelo de segurança institucional feito em outros países do mundo. Estamos analisando isso para ver o melhor formato, mais moderno e perene, para que ele bata martelo sobre o modelo que ele quer”, afirmou Rui Costa. “Foi dado um prazo limite de seis meses para esse modelo híbrido, da segurança mais direta e pessoal ser da PF e a mais distante ser do GSI, mas vamos apresentar uma proposta para que ele tome a decisão do modelo que quer implementar.”

Por enquanto, os militares no GSI vem sendo substituídos por outros militares. Há na equipe Exército, Marinha e Aeronáutica, além de policiais e bombeiros militares. Eles costumam ser requisitados para as funções no GSI. O processo de mudanças vinha em curso desde 1º de janeiro, com dispensas e designações pontuais.

Nas desta terça, a maioria era formada por cabos, sargentos, soldados, capitães e tenentes. Parte deles trabalhava na Secretaria de Segurança e Coordenação Presidencial, chefiada pelo general Carlos Feitosa Rodrigues. Uma mais maiores foi a do tenente-coronel da PMDF Marcelo de Oliveira Ramos, coordenado na Diretoria de Apoio às Residências Oficiais do GSI.

O detentor da patente mais alta dispensado foi tenente-coronel Marcelo Ustra da Silva Soares. Ele é parente do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, morto em 2015, ex-chefe do DOI-CODI, centro de torturas da ditadura militar. Marcelo Ustra servia no GSI desde 2020, depois de ter sido major no 8º Regimento de Cavalaria Mecanizada, em Uruguaiana (RS).

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Na Presidência, fez viagens internacionais com autoridades. Era desde maio de 2021 assessor técnico militar na Coordenação-Geral de Operações de Segurança Presidencial. Nas redes sociais compartilhou apoio às campanhas eleitorais de Jair Bolsonaro e Hamilton Mourão, em 2022. Ele republicou uma mensagem com imagem do coronel Brilhante Ustra: “Ressuscitem esse homem urgente. Faria Alexandre de Moraes voltar a usar fraldas. Era só Moraes passar uma noite conversando com Ustra no DOI-CODI”.

Em café com jornalistas no dia 12 de janeiro, o presidente Lula admitiu que perdeu a confiança em parte dos militares Foto: Wilton Junior / Estadão

Na semana passada, Lula admitiu ao Estadão que perdeu a confiança em parte dos militares. Por conta disso, continuava sem ajudante de ordem, função tradicionalmente ocupada por oficiais de uma das três Forças.

“Eu perdi a confiança, simplesmente. Na hora que eu recuperar a confiança, eu volto à normalidade”, admitiu Lula à reportagem, quando questionado sobre se se sentia ameaçado. O presidente dissera, durante um café da manhã com jornalistas, que entregaria o cargo aos seguranças que já trabalham com ele desde 2010, entre eles militares aposentados, como o capitão Valmir Moraes.

Durante a campanha eleitoral, o presidente teve sua proteção pessoal realizada por agentes e delegados da Polícia Federal. Depois que foi eleito, preferiu manter a PF executando a função. Tradicionalmente, o Gabinete de Segurança Institucional (GSI) cuida da segurança do presidente e vice-presidente da República e seus familiares. Até momento, no entanto, a proteção ainda estaria sob a responsabilidade de policiais federais. Quando serviço é executado pelo GSI, os agentes destacados são militares.

No café da manhã com jornalistas na semana passada, Lula mandou recados às Forças Armadas. Declarou que elas não têm o “poder moderador que pensam que têm”. Esse poder que não está previsto na Constituição foi defendido publicamente por seguidores e auxiliares do ex-presidente Jair Bolsonaro.

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