BRASÍLIA - A tragédia climática que atinge o Rio Grande do Sul coloca a esquerda e a direita em posições opostas sobre o impacto das ações que já foram feitas pelo governo federal para ajudar as vítimas das enchentes. Enquanto a base do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foca em exaltar as ações do chefe do Executivo e do ministro do Apoio à Reconstrução do Estado, Paulo Pimenta, a oposição ao petista construiu uma rede de divulgação de vídeos onde civis aparecem ajudando uns aos outros.
Desde o início das fortes chuvas que causaram inundações no Rio Grande do Sul, os aliados de Lula estão compartilhando imagens dele em visitas ao Estado. Junto às fotos, os parlamentares fazem um contraponto à conduta adotada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no combate à pandemia de covid-19.
Um dos petistas que fez a comparação foi o senador Humberto Costa (PT-PI), que compartilhou registros da visita de Lula a um abrigo em São Leopoldo, uma das cidades mais atingidas pelos temporais. “Desde que as chuvas no Rio Grande do Sul começaram, Lula visitou o estado três vezes. Em todas elas, anunciou ações para ajudar a população. Que bom que agora o Brasil tem presidente”, disse o parlamentar.
Outro membro do governo federal que está sendo enaltecido pela base governista é Pimenta. Na última quarta, 15, ele deixou a Secretaria de Comunicação Social da Presidência (Secom) para chefiar a recém-criada Secretaria Extraordinária da Presidência da República para Apoio à Reconstrução do Rio Grande do Sul.
Nas redes sociais, os petistas passaram a exaltar o currículo de Pimenta como deputado federal e ministro da Secom. Os parlamentares classificaram o aliado como um político preparado para liderar as ações do governo para a reconstrução do Estado.
A presidente do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR), disse que a “atenção e os esforços” de Pimenta foram “essenciais” para a mobilização de recursos do Planalto para o Rio Grande do Sul. A dirigente também atacou os opositores da nomeação dele na Secretaria de Apoio à Reconstrução, afirmando que as críticas “partem de setores que tentaram explorar politicamente a crise”.
“As críticas ao fato de ser um político chegam a ser hipócritas, porque partem exatamente de setores que tentaram explorar politicamente a crise que atinge a população. E muitos deles fizeram isso espalhando mentiras e tentando desacreditar a ação do governo federal”, disse Gleisi.
A ex-presidente Dilma Rousseff (PT) também está na “vitrine” dos elogios feitos por aliados. A base governista repercutiu a “liberação” de seis operações de crédito do Banco dos Brics — presidido por Dilma — no valor total de US$ 1,115 bilhão (R$ 5,75 bilhões), para ajudar na reconstrução do Estado depois que as águas baixarem.
Porém, conforme apurou o Estadão, apesar de Dilma ter divulgado a “liberação” dos empréstimos como se fosse um feito seu, quatro das seis operações já estavam aprovadas pela instituição antes de ela assumir o comando do banco, em março de 2023.
O líder da Federação Brasil da Esperança (que inclui o PT, PCdoB e o PV) na Câmara, deputado Odair Cunha (PT-MG) agradeceu a Dilma pela “sensibilidade e solidariedade não só como ex-presidente do Brasil, mas como atual presidenta do banco dos Brics”.
A oposição do governo Lula, por sua vez, destaca as ações feitas por cidadãos comuns no resgate de pessoas atingidas pelas enchentes. Nas redes sociais, os parlamentares compartilham postagens com os termos “povo pelo povo” e “civil salva civil”, com críticas feitas por moradores ao governo federal e ao governador gaúcho Eduardo Leite (PSDB).
“A prova de que é o povo pelo povo. O que o governador do RS tem na cabeça para expressar “desconforto com o volume de doações, pois os donativos prejudicam o comércio local”? Que comércio local sobrou? Com que dinheiro as pessoas que perderam tudo vão comprar no comércio local?”, afirmou o deputado federal Daniel Freitas (PL-SC) ao criticar Eduardo Leite.
Leia também
O deputado Gustavo Gayer (PL-GO), que integra o “núcleo duro” do bolsonarismo, afirmou que a melhor coisa que o governo Lula poderia fazer pela população gaúcha é “sair do caminho e deixar o povo se ajudar”.
O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), filho do ex-presidente Jair Bolsonaro, foi um dos parlamentares que compartilhou vídeos de voluntários resgatando vítimas e de doações sendo recebidas por populares. “A solidariedade tem poder de mover o mundo e será pelas mãos estendidas que o Rio Grande do Sul vai ser reconstruído”, afirmou.
Pimenta é alvo de críticas por parlamentares aliados de Bolsonaro
Enquanto Pimenta é exaltado pela base governista, o ministro é alvo de críticas por parte da oposição ao governo Lula. Parlamentares afirmaram que a nomeação feita pelo presidente foi um ato eleitoral, tendo em vista que o chefe do Apoio à Reconstrução é cotado para disputar o governo gaúcho em 2026.
“Lula ao nomear Paulo Pimenta para cuidar dos recursos federais no Rio Grande do Sul esquece que o Estado tem um governador eleito pela população. É muita mesquinhez fazer política em um momento de calamidade, afirmou o senador Plínio Valério (PSDB-AM).
Pimenta também foi criticado por ter dito nesta sexta-feira, 17, que o governo federal “não sabe nem para que lado se mexer”, ao falar sobre os estragos causados pelas enchentes no território gaúcho.
Os parlamentares questionaram a capacidade de Pimenta para coordenar a articulação entre o governo federal e o Executivo do Rio Grande do Sul para a reconstrução do Estado. “Primeira vez que vejo um petista falando a verdade e assumindo incompetência. Mas infelizmente quem sofre é o povo gaúcho, que merece, no mínimo, alguém preparado e com vontade de resolver o problema”, afirmou o senador Flávio Bolsonaro.
Petistas denunciam fake news, e deputados da oposição defendem liberdade de expressão
Nos últimos dias, a base governista também criticou as fake news veiculadas sobre o resgate de vítimas no Rio Grande do Sul. No último dia 7, Pimenta enviou ao ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, um ofício denunciando a existência de “narrativas desinformativas e criminosas” e que contém postagens feitas por Eduardo Bolsonaro, o senador Cleitinho Azevedo (Republicanos-MG) e o coach e pré-candidato à Prefeitura de São Paulo Pablo Marçal (PRTB).
“Aqueles e aquelas que espalham fake news para prejudicar os trabalhos de socorro, resgate e ajuda ao Rio Grande do Sul são como abutres em busca de curtidas e visualizações, sem a menor empatia pelo povo gaúcho que está sofrendo”, afirmou o líder da Federação Brasil da Esperança na Câmara, Odair Cunha.
A oposição ao governo Lula, por sua vez, endossou que o ofício de Pimenta foi um ataque à liberdade de expressão e à imunidade parlamentar. “Os dois ministros de Lula acionaram a Polícia Federal contra críticos nas redes sociais, mas opinião não é crime e todos os brasileiros têm direito de criticar o governo sem medo de punição”, afirmou o ex-deputado federal Deltan Dallagnol (Novo-PR), ao anunciar a protocolização de uma notícia-crime feita pelo Novo contra o ex-ministro da Secom e Lewandowski.
A Polícia Federal (PF) abriu um inquérito para investigar as supostas desinformações compartilhadas pelos parlamentares e outras contas levantadas pelo ministro do Apoio à Reconstrução do RS. Em reunião com deputados do PL nesta quarta-feira, 15, Lewandowski disse que não poderia deixar de enviar as denúncias de fake news para a corporação. O ministro da Justiça também disse que não fez juízo de valor sobre o conteúdo das denúncias protocoladas por Pimenta.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.