Após a retomada dos protestos contra o resultado da eleição presidencial em estradas, a Polícia Rodoviária Federal (PRF) tem identificado oscilação no número total de bloqueios desde a sexta-feira, 19, sendo que o último balanço, da tarde desde domingo,20, apontou queda. O boletim divulgado ontem lista 9 interdições totais e 12 parciais em estradas federais. Os bloqueios ocorrem em Mato Grosso e na Bahia. As manifestações, que se somam aos atos promovidos por apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL) em frente de quartéis, chegaram a 38 na manhã de ontem. A corporação também informou que foram desfeitas 1.236 manifestações.
Bolsonaristas organizaram novas interdições em estradas após o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinar o bloqueio de contas de empresários suspeitos de financiar os atos antidemocráticos do início de novembro. Segundo a PRF, não há obstruções em rodovias federais de São Paulo. A concessionária CCR Via Oeste informou não ter bloqueios nas rodovias Castello Branco, Raposo Tavares e Castelinho.
Na sexta-feira, manifestantes incendiaram um carro na rodovia BR-163, em Dourados, no Mato Grosso do Sul. O automóvel passava pelo local quando o grupo colocou fogo em uma barricada de pneus. O motorista não ficou ferido, mas o carro foi destruído pelo incêndio.
Após a divulgação do resultado das eleições, no dia 30 de outubro, manifestantes bolsonaristas fecharam rodovias em todo o País, causando diversos transtornos. Os bloqueios chegaram a afetar o fornecimento de supermercados e até o transporte de insumos de medicamentos e vacinas. A prefeitura de Limeira decretou situação de emergência pública devido à escassez de combustíveis acarretada pelos protestos. A PRF informou que no dia 9 de novembro já não havia mais nenhuma ocorrência de interdição em estradas.
Caminhoneiros bolsonaristas sugerem greve, mas representantes da categoria negam apoiar movimento
Áudios que circulam em grupos bolsonaristas dão conta de caminhoneiros que sugerem “trancar” as rodovias e, inclusive, resistir à eventual ação policial. Os áudios sugerem obstruir vias em municípios de Mato Grosso, como Sinop e Campo Novo do Parecis.
As ameaças, no entanto, têm sido vistas por muitos outros caminhoneiros como piada. Nem todos estão dispostos a entrar nessa briga, sobretudo porque são empresários que estão bancando o movimento. Um dos caminhoneiros diz em uma das mensagens: “Eles compraram muitos caminhões para não depender de terceiros. Enquanto isso, os heróis (autônomos) só têm uma casinha de lata para morar.”
O presidente da Associação Brasileira de Condutores de Veículos Automotivos (Abrava), Wallace Landim (conhecido como Chorão), afirmou ao Estadão que a categoria não apoia os bloqueios, que, segundo ele, são planejados por uma pequena parcela de caminhoneiros. “Não é um movimento dos caminhoneiros, é uma ala extremista (...) está sendo cometido um crime”, disse.
Há, ainda, a suspeita de que os bloqueios estejam sendo encorajados pelos empregadores desses motoristas, no caso daqueles que trabalham para as empresas que tiveram suas contas bloqueadas pelo STF. Se confirmada, a prática caracteriza locaute e prevê responsabilização legal.
A Abrava admitiu acionar a Justiça para pedir indenização aos caminhoneiros autônomos que sejam impedidos de circular pelas rodovias. “Eu já ouvi caminhoneiro autônomo falando que ‘vai passar por cima’, isso é perigoso”, afirmou Chorão.
Controvérsia
Nos grupos de caminhoneiros, há controvérsia em relação à paralisação. Alguns entendem que estão sendo usados para outros interesses que não o do setor. Muitos não querem aderir aos protestos com medo de multas e também dos prejuízos que se acumulam.
Entre os que estão convocando a greve de agora, está o presidente da Cooperativa de Transportadores e Profissionais da Área de Logística e Transporte de Cargas de Sinop (Cooperlog), Cleomar José Immich. Em vídeo que circula nas redes sociais, ele chama os caminhoneiros para aderir ao movimento.
Ele alega que foi protocolado um documento para “cancelar as eleições”. O prazo para darem um posicionamento seria na sexta-feira. “Se não tivermos resposta, temos de parar os caminhões até o STF julgar o assunto.” Ele e outro colega que fazem o vídeo pedem que os empresários deixem os caminhões no pátio para não tomar multa. “Deixem os caminhões em casa.”
A reportagem procurou Cleomar, que afirmou apenas que não é líder do movimento. /COLABOROU LAVÍNIA KAUCKZ
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