GSI e Polícia Federal vão reforçar proteção de Lula nas viagens de campanha a partir deste mês

Acirramento dos ânimos preocupa Planalto; general Amaro diz que colete à prova de bala não funciona sempre e Andrei Rodrigues vê cenário de disputa como ‘ponto de atenção’

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Foto do author Vera Rosa
Atualização:

BRASÍLIA – À primeira vista, elas parecem pastas de um executivo. Em caso de ataque, porém, viram rapidamente um escudo à prova de bala, com 1,70 m de altura. O equipamento é usado por homens à paisana para proteger o presidente Luiz Inácio Lula da Silva quando ele sai andando no meio do povo, faz visitas para entregar casas populares ou sobe num palanque.

A partir deste mês, na campanha eleitoral, o Gabinete de Segurança Institucional da Presidência (GSI) e a Polícia Federal vão reforçar os procedimentos de blindagem a Lula, que começou a percorrer dois Estados por semana.

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O acirramento dos ânimos verificado entre aliados de Lula e seguidores do ex-presidente Jair Bolsonaro preocupa o Palácio do Planalto. Embora a eleição seja municipal, a disputa é travada como se fosse a reedição do duelo de 2022, principalmente em São Paulo, onde Lula apoia o candidato do PSOL, Guilherme Boulos, e Bolsonaro está com o prefeito Ricardo Nunes (MDB).

O presidente sempre resistiu a usar colete à prova de bala por considerá-lo muito pesado e quente, além de impedir a flexibilidade de movimentos. Mas agentes responsáveis por sua segurança utilizam tanto a “vestimenta” quanto a pasta balística.

Foi assim na quarta-feira, 31, quando Lula entregou unidades do Minha Casa, Minha Vida em Várzea Grande (MT), na região metropolitana de Cuiabá.

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“Você é dona Simone?”, perguntou ele ao encontrar a moradora beneficiada pelo programa. Seguranças à paisana observavam a movimentação, olhando para todos os lados. Um deles portava a famosa pasta-escudo e outro, um colete que se destacava embaixo da camisa branca.

Lula visita conjunto habitacional em Várzea Grande, no Mato Grosso; ao fundo, com camisa branca, segurança munido de pasta usada como escudo protetor, à prova de bala. Foto: @lulaoficial via X

Durante as investigações dos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023, a Polícia Federal descobriu trocas de mensagens que sugeriam um plano para matar Lula. O tiro de fuzil seria disparado a longa distância na cerimônia de posse, em 1.º de janeiro.

“Havia atos preparatórios para a execução de um tiro, que ia ser um tiro no dia da posse de Lula”, afirmou ao Estadão o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Flávio Dino, quando ainda era titular da Justiça. O suspeito foi preso.

Uma dúvida que persiste até hoje, no entanto, é se a pasta e o colete à prova de bala conseguem proteger o presidente. Para o ministro-chefe do GSI, general Marcos Antônio Amaro dos Santos, esses equipamentos não funcionam em todas as situações.

O ministro-chefe do GSI, Marcos Amaro, diz que segurança de área será ampliada. Foto: Ricardo Stuckert/PR

“No caso do Trump, por exemplo, adiantaria ele estar usando colete?”, questionou Amaro, numa referência ao atentado sofrido no mês passado pelo ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump, hoje candidato do Partido Republicano à Casa Branca. Ele mesmo respondeu: “Não adiantaria porque o tiro foi na direção da cabeça. Passou na orelha.”

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Bolinha de papel virou crise na disputa de 2010

Na prática, diante do aumento da violência, as autoridades encarregadas de planejar a segurança presidencial têm sido obrigadas a mudar procedimentos. Cada vez mais entram em cena os drones e os snipers, atiradores de precisão.

“Eu me lembro que a grande crise da campanha de 2010 foi uma bolinha de papel jogada no Serra”, disse ao Estadão o diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Rodrigues, sobre o “artefato” que atingiu o então candidato do PSDB à Presidência, José Serra, à época adversário de Dilma Rousseff (PT).

“Agora o cenário é outro. Uma coisa é a disputa política no campo do debate das ideias. Outra é esse cenário desastroso que a gente vem enfrentando há algum tempo, que sai do mundo virtual e vem para o mundo real. Isso é, obviamente, um ponto de atenção”, avaliou o diretor-geral da PF.

Na campanha de 2022, a Polícia Federal chegou a prender 30 pessoas que tentaram atacar Lula. Na ocasião, o delegado Andrei era chefe da segurança do petista.

O diretor-geral da PF, Andrei Rodrigues, chefiou a segurança da campanha de Lula, em 2022, quando 30 pessoas foram presas. Foto: Wilton Junior/Estadão

“Desta vez, embora o presidente não seja candidato, vai participar de atos políticos. E nesse modelo híbrido de segurança, junto com o GSI, a Polícia Federal usará sua experiência de 80 anos na proteção de autoridades, agregada à atividade de inteligência e análise de risco”, descreveu Andrei.

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Atualmente, a segurança de Lula conta com 310 militares do GSI e do Comando Militar do Planalto. A PF não informa o efetivo que acompanha o presidente.

Os agentes do Gabinete de Segurança Institucional recebem treinamentos periódicos, que incluem de atuação em comboio e simulador de tiros a salvamento aquático.

“O que estamos reforçando agora é a segurança de área”, afirmou o ministro-chefe do GSI, que despacha no segundo andar do Planalto, um abaixo do ocupado pelo presidente. Questionado sobre qual será o contingente à disposição de Lula na campanha, Amaro manteve a discrição.

“Conforme o evento se estuda o efetivo”, despistou o general. “Todos os protocolos resguardam o presidente da possibilidade de atentado. Cada situação tem sua avaliação de risco e o planejamento é feito caso a caso. Não adianta se preocupar. A preocupação não é uma ação tática.”

O decreto n.º 4.332, de 12 de agosto de 2002, diz que a segurança de área deve “cobrir o espaço físico que ofereça riscos à autoridade e o necessário ao desdobramento dos recursos humanos e materiais empregados na atividade”.

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Presidente desconfiava de militares

No início deste terceiro mandato, a segurança de Lula era coordenada pela Polícia Federal, por meio da Secretaria Extraordinária de Segurança Imediata. A estrutura provisória tinha mais de 400 policiais e, conforme previsto, foi extinta em 1.º de julho de 2023.

A segurança presidencial sempre foi feita pelo GSI, no passado chamado de Gabinete Militar e, depois, Casa Militar. Mas, após os ataques golpistas, Lula decidiu mudar o modelo por desconfiar que houvesse uma infiltração de militares aliados a Bolsonaro no GSI.

Em abril daquele ano, o general Gonçalves Dias, então ministro do GSI, pediu demissão depois de aparecer em imagens do circuito interno do Planalto sem em nenhum momento confrontar invasores que depredavam o prédio, em 8 de janeiro.

G. Dias, como era conhecido, foi o primeiro ministro a cair em 109 dias de governo Lula. O general Amaro tomou posse em maio, após um período de “intervenção” no GSI, que teve à frente o então secretário executivo do Ministério da Justiça, Ricardo Capelli.

Um mês depois, em junho, Lula decidiu que o GSI comandaria a sua proteção e foi criada a Secretaria de Segurança Presidencial. Mesmo assim, a primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja, preferiu continuar somente com a Polícia Federal por não querer militares à sua volta.

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“É um modelo híbrido no qual todos, GSI e Polícia Federal, trabalham juntos para garantir a segurança do presidente e de seus familiares”, resumiu o ministro da Casa Civil, Rui Costa.

Apesar dessas mudanças, ainda há, nos bastidores, uma disputa entre o GSI e a Polícia Federal, que medem forças por causa da escolta presidencial. A polícia judiciária, por sua vez, é uma atribuição exclusiva da PF. Cabe a ela o poder de instaurar inquérito de ofício e apurar infrações eleitorais.

A portas fechadas, servidores do GSI alfinetam agentes da Polícia Federal. Lembram, por exemplo, que quando Bolsonaro sofreu uma facada, na campanha de 2018, a segurança estava com a PF, e não com o GSI, porque ele era candidato.

Na outra ponta, integrantes da Polícia Federal avaliam, em conversas reservadas, que o modelo usado pelo Gabinete de Segurança Institucional para proteger o presidente não tem o mesmo trabalho de inteligência empregado pela corporação. Além disso, muitos não escondem a desconfiança que mantêm até hoje sobre a atuação dos militares.