Guarda é assassinado em festa com tema do PT no Paraná; atirador era bolsonarista, diz polícia

Marcelo Arruda comemorava seu aniversário de 50 anos quando um homem armado invadiu o local e disparou contra ele; a vítima reagiu , também com tiros

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Foto do author Thaís Barcellos
Atualização:

Um guarda municipal de Foz do Iguaçu (PR) foi morto a tiros no sábado, 9, durante sua festa de aniversário de 50 anos, que tinha decoração com o tema do Partido dos Trabalhadores (PT). Marcelo Arruda era filiado ao PT e foi candidato a vice-prefeito em Foz do Iguaçu nas eleições de 2020. Conforme o boletim de ocorrência registrado na Polícia Civil, o atirador, Jorge José da Rocha Guaranho, é agente penitenciário federal e apoiador do presidente Jair Bolsonaro. Arruda morreu e Guaranhos ficou ferido, em estado grave.

Arruda foi assassinado pelo homem identificado com o bolsonarismo, que, momentos antes do crime, havia interrompido a festa e ameaçado os presentes com uma arma na mão, na sede da Associação Esportiva Saúde Física Itaipu. Conforme nota do PT e declarações registradas no boletim de ocorrência, Marcelo Arruda foi abordado no estacionamento, quando o homem sacou a arma e começou a disparar. Arruda tentou se defender com sua arma funcional e houve troca de tiros.

O guarda civil Marcelo Arruda, de Foz do Iguaçu (PR), foi assassinado durante festa de aniversário com tema inspirado no PT. Foto: Reprodução

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) também se pronunciou em suas redes sociais. “Uma pessoa, por intolerância, ameaçou e depois atirou nele, que se defendeu e evitou uma tragédia maior. Duas famílias perderam seus pais. Filhos ficaram órfãos, inclusive os do agressor. Meus sentimentos e solidariedade aos familiares, amigos e companheiros de Marcelo Arruda.”

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Segundo imagens que circulam nas redes, a decoração da festa incluía uma bandeira com a foto de Lula com a faixa presidencial e os dizeres: “Pro Brasil voltar a sorrir”, além de um bolo decorado com a estrela do partido e outros adereços alusivos ao petismo. Arruda estava vestindo uma camisa com o rosto de Lula.

Em sua publicação, Lula também pediu “compreensão e solidariedade com os familiares” de José da Rocha Guaranho e sugeriu que ele foi influenciado pelo “discurso de ódio” do presidente Jair Bolsonaro.

O presidente, por sua vez, afirmou dispensar “qualquer tipo de apoio de quem pratica violência contra opositores” e disse que é “o lado de lá” que comete esse tipo de ato. Em sua publicação, Bolsonaro pediu “que as autoridades apurem seriamente o ocorrido e tomem todas as providências cabíveis, assim como contra caluniadores que agem como urubus para tentar nos prejudicar 24 hora por dia.”

Durante o dia, a Polícia Civil chegou a afirmar que Guaranho teria morrido em consequência dos ferimentos, mas em nota, no final da tarde, voltou atrás e destacou que ele segue internado “em estado grave”.

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De acordo com o boletim, Guaranho, que era desconhecido dos convidados, havia interrompido a comemoração e ameaçado os presentes com uma arma na mão momentos antes do crime, por volta de 23h20. Ele teria chegado ao local em um carro branco, acompanhado de uma mulher com uma criança no colo. Ao descer do veículo e se dirigir aos presentes dizendo aos gritos: “Aqui é Bolsonaro”, conforme relato descrito na ocorrência.

Guaranho deixou o local e 20 minutos depois retornou sozinho. Foi recebido por Arruda e pela esposa, a policial civil Pamela Suellen Silva, que se identificaram como agentes da segurança pública. O guarda civil sacou a arma ao mostrar o distintivo. Neste momento, conforme o registro policial, Guaranho efetuou os dois primeiros disparos, acertando a vítima. Imagens de uma câmera de segurança mostram quando o guarda municipal, mesmo ferido e já caído, dispara contra o agente penitenciário.

A presidente nacional do PT, a deputada federal Gleisi Hoffman (PR), destacou que é uma tragédia “fruto da intolerância dessa turma” bolsonarista. “Nosso companheiro e amigo Marcelo Arruda, guarda municipal em Foz do Iguaçu, foi assassinado ontem em sua festa de 50 anos. Um policial penal, bolsonarista, tentou invadir a festa com arma. Trocaram tiros. Ambos morreram. Uma tragédia fruto da intolerância dessa turma.”

O ex-juiz Sérgio Moro (União Brasil), que foi ministro de Justiça e Segurança Pública de Bolsonaro, também repudiou o que classificou como violência política, sem fazer qualquer referência direta ao caso, em manifestação na sua página oficial no Twitter. “Precisamos repudiar toda e qualquer violência com motivação política ou eleitoral. O Brasil não precisa disso.”

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O pré-candidato à Presidência da República Ciro Gomes (PDT) disse que o ódio político precisa “ser contido”, citando a morte de “dois pais de família” fruto de uma “guerra absurda, sem sentido e sem propósito”. “É triste, muito triste, a tragédia humana e política que tirou a vida de dois pais de família em Foz do Iguaçu. O ódio político precisa ser contido para evitar que tenhamos uma tragédia de proporções gigantescas.”

Simone Tebet, pré-candidata à Presidência pelo MDB, mostrou preocupação com o acirramento da polarização política no País. “Lamento profundamente as mortes violentas em Foz do Iguaçu. Me solidarizo com as famílias de ambos. Mas o fato é que esse tipo de situação escancara de forma cruel e dramática o quão inaceitável é o acirramento da polarização política que avança sobre o Brasil. Esse tipo de conflito nos ameaça enormemente como sociedade. É contra isso que luto e continuarei lutando. Tenho certeza que nós, brasileiros, temos todas as condições de encontrar um caminho de paz, harmonia, respeito, amor e dignidade humana suficientemente sólido para reconstruir o Brasil. Que o caso de Foz do Iguaçu faça soar o alerta definitivo. Não podemos admitir demonstrações de intolerância, ódio e violência política”, disse.

O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD), disse que o assassinato em Foz do Iguaçu é a “materialização da intolerância”. “A convivência com o contraditório deve ser mais do que respeitada. Deve ser preservada e estimulada, pois é dessa forma que podemos, por meio de diálogo e busca de consensos, evoluir para um país melhor”, disse.

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O pré-candidato ao governo de São Paulo Fernando Haddad (PT) também se manifestou sobre o “brutal assassinato” em Foz do Iguaçu. “Este domingo amanheceu de luto após o assassinato brutal do companheiro Marcelo Arruda em Foz do Iguaçu. Ele foi assassinado durante sua festa de aniversário de 50 anos. Minha solidariedade aos filhos, esposa e amigos. Esse não é o Brasil que conhecemos e amamos.”

Guilherme Boulos (PSOL), pré-candidato a deputado federal por São Paulo, afirmou que o episódio é consequência do “legado de Jair Bolsonaro para o País”, com violência, ódio e morte. “ABSURDO! Bolsonarista assassina líder do PT em Foz do Iguaçu durante sua festa de aniversário. Nossa solidariedade aos familiares de Marcelo Arruda. Esse é o legado de Jair Bolsonaro para o país: violência, ódio e morte”, disse, em sua página oficial no Twitter.

O ex-governador do Maranhão e pré-candidato ao Senado Flávio Dino (PSB) destacou em suas redes sociais o desafio da Justiça Eleitoral, do Ministério Público e das forças policiais para proteger a democracia diante dos episódios de violência política, disseminada, segundo ele, pelo “bolsonarismo armamentista”. “A Justiça Eleitoral, o Ministério Público e as polícias estão diante de um gigantesco desafio: ajudar a garantir que a violência política, espraiada pelo bolsonarismo armamentista, não destrua a democracia brasileira.”

O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), tomou o episódio como exemplo para condenar “a intolerância, a violência e o ódio” por motivação eleitoral. “A intolerância, a violência e o ódio são inimigos da Democracia e do desenvolvimento do Brasil. O respeito à livre escolha de cada um dos mais de 150 milhões de eleitores é sagrado e deve ser defendido por todas as autoridades no âmbito dos 3 Poderes”.

A deputada estadual Janaina Paschoal (PRTB) pediu serenidade e afirmou que, antes de bolsonaristas ou lulistas, “somos brasileiros”. Ela foi a primeira do círculo político mais próximo a Bolsonaro a comentar o episódio. “Amados, antes de sermos de direita ou de esquerda, bolsonaristas ou lulistas, somos brasileiros. E antes de sermos brasileiros, somos todos irmãos aos olhos de Deus. Peço ao nosso povo serenidade e tolerância para enfrentar os desafios desse ano difícil”, publicou.

O general da reserva Carlos Alberto dos Santos Cruz, ex-ministro da Secretaria de Governo do presidente Jair Bolsonaro (PL), afirmou que a violência vai aumentar na campanha eleitoral se quem estimula essa prática não for punido e preso. “O caminho natural do fanatismo político é a violência e vai ter mais, não vai parar aí, se a polícia, a Justiça e o Ministério Público não tomarem providência”, afirmou Santos Cruz. / Colaborou Daniel Weterman

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