‘Vamos ampliar uso de câmeras na Polícia Militar’, diz secretário de Segurança de Tarcísio

Secretário diz que policiais de trânsito, rodoviários e ambientais também vão adotar equipamento

PUBLICIDADE

Foto do author Gustavo Côrtes
Foto do author Marcelo Godoy
Atualização:
Entrevista comGuilherme DerriteCapitão da Polícia Militar de São Paulo e deputado federal reeleito pelo PL, é o novo secretário da Segurança Pública

Apontado como um dos integrantes do secretariado do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) mais próximos do bolsonarismo, o capitão Guilherme Derrite, de 38 anos, afirmou que vai ampliar o uso de câmeras corporais na Polícia Militar. Deixando para trás as críticas que fez ao equipamento na campanha eleitoral, o novo titular da Segurança Pública paulista disse que os policiamentos de trânsito, rodoviário e ambiental serão os próximos a usá-lo. Ele quer que as câmeras passem a identificar veículos roubados e indiquem a localização do policial.

No domingo, Derrite enfrentou a primeira situação de crise no cargo: teve de mobilizar seus homens para proteger as sedes de Poderes no Estado contra a ameaça de invasão. E repudiou a violência em Brasília. O ex-capitão da Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar decidiu formar uma equipe com acadêmicos e policiais para aprofundar o uso da tecnologia contra o crime.

Leia trechos da entrevista.

Na campanha houve polêmica sobre as bodycams da PM. Afinal, o que a secretaria planeja para esse programa e quais mudanças o sr. pretende fazer?

Publicidade

Primeiro, não vamos acabar com o programa. Vamos ampliar o uso das câmeras. Ela é uma ferramenta tecnológica que veio para ficar. Quando disse que ia revê-lo, isso foi interpretado como se fosse acabar com o programa. Não é o que acontecerá. Vamos ampliá-lo, trazendo novas funcionalidades às câmeras. Elas foram instaladas como ferramenta de fiscalização e controle. Agora, serão empregadas na leitura de placas de veículos furtados e roubados. E vamos usar – como o Corpo de Bombeiros já faz – a telemetria para acompanhar a distância, por georreferenciamento, a exata posição do policial. Temos atividades, como o policiamento ambiental e o rodoviário, com área de atuação muito grande, em que é necessário que saibamos onde os policiais estão, pois pode ocorrer uma situação de risco para o PM. Vamos proteger o policial.

Secretário Guilherme Derrite: planos para expandir câmeras corporais e defesa de polícia apartidária. Foto: Taba Benedicto/ Estadão

Como o sr. vai convencer o PM que resiste à câmera de que ela será boa?

Como sempre fiz na minha vida: conversando, dialogando. A câmera não foi bem explicada ao policial sobre sua real finalidade. Com as câmeras, temos de entregar o pacote de valorização do policial. Hoje enfrentamos a maior crise de efetivo da história das forças de segurança. Temos defasagem de efetivo de 14,4% na PM, de 32,2% na Polícia Civil e, na Polícia Técnico-científica, de 25%. E uma recomposição salarial que não é feita há anos. Temos um compromisso de valorização, que começa pelo salário, passa pelo plano de carreira e chega à carga horária, que é a maior do País. Ao explicar que a câmera servirá para aprimorar o trabalho policial, ela será aceita pela maioria.

A questão, então, é como aprimorar a câmera?

Publicidade

É isso: aprimorar o uso da tecnologia para combater o crime e proteger as pessoas e o policial. Vamos ampliar seu uso para os policiamentos de trânsito, rodoviário e ambiental.

Como o sr. pretende lidar com a politização das forças de segurança?

O que a gente tem de entender é que há 15 anos só se falava de futebol. A politização aumentou na sociedade, e o policial é um ser humano que acompanhou a evolução da sociedade. Eu sou fruto disso. As polícias são órgãos de Estado e não de governo. Têm de cumprir o que está no regulamento. Se existe um regulamento que proíbe manifestações político-partidárias, a gente vai fazer com que seja cumprido, mas sem colocar o policial como cidadão de segunda categoria.

O crime é uma atividade econômica como outra qualquer, como mostrou o Gary Becker. Vamos ampliar parcerias com instituições bancárias para combater os sequestro do Pix.

Sua indicação é tida como parte da cota bolsonarista no secretariado. Como o sr. vê essa classificação?

Publicidade

PUBLICIDADE

Uma posição equivocada, mas natural. Fui vice-líder do governo anterior e o apoiei em pautas importantes, como a reforma da Previdência e a autonomia do Banco Central. É natural que o vice-líder, que viajava com Bolsonaro ao Estado, tenha sido classificado dessa maneira. Fui escolhido por Tarcísio por ele conhecer meu outro lado, que as pessoas estão começando a conhecer agora, o de um estudioso do crime como um fenômeno de atividade econômica, como alguém que, após a academia militar, cursou Direito e é pós-graduado em Direito Constitucional. O que fez o governador me escolher foi o caráter técnico, sem ignorar a questão política. Com o tempo, isso vai ser desmitificado.

Na gestão do sr., a polícia de São Paulo será apartidária, isenta e imparcial?

Sem dúvida. Nosso compromisso será combater o crime e proteger as pessoas. A gente sabe da gravidade em que se encontra a segurança pública no País e dos fatores que influenciam isso, como a fragilidade e a impunidade em nosso sistema criminal. Mas aqui nós não vamos transferir responsabilidades. A gestão da secretaria será pautada pelo uso da tecnologia no combate ao crime e pela integração entre as polícias. Não vou tomar nenhuma medida que vá desagradar e criar desunião entre as polícias.

Ao cumprir a decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes para desfazer os acampamentos nos quartéis, o sr. anunciou que ia conduzir a operação com diálogo. Não teme que, quando a PM agir contra manifestantes, seja cobrado por ser condescendente com os bolsonaristas?

Não, porque o objetivo da polícia é sempre resolver sem o uso da força e fazer a lei ser cumprida da melhor maneira possível. Quando soubemos dos atentados em Brasília, fui ao encontro do governador e determinei o reforço do policiamento nas sedes dos Poderes: na Assembleia Legislativa, com viaturas da Força Tática, no Tribunal de Justiça com viaturas da Força Tática e no Palácio dos Bandeirantes com pelotão de choque. Posicionamos outro pelotão na sede do Comando de Policiamento de Área-1, de fácil mobilização até a Assembleia. E deslocamos policiamento para a sede de alguns veículos de comunicação. Por fim, usamos as bodycams dos PMs para ter imagens em tempo real no gabinete de crise. Essas providências fizeram com que qualquer ação fosse dissuadida. Os manifestantes aqui não agiram como em Brasília. É preciso diferenciar manifestante de quem extrapola a lei.

Guilherme Derrite, novo secretário de segurança de São Paulo, promete ampliar o uso das câmeras na PM. Foto: Taba Benedicto/ Estadão

Qual o prejuízo para a direita, grupo político que o sr. representa, causado pela invasão em Brasília?

A gente vai dimensionar isso com o tempo, mas, de imediato, perde toda a razão quando parte para a violência. Acho inaceitável o que aconteceu lá.

O sr. acha que a ação dos radicais em Brasília foi um tiro no pé?

Publicidade

Creio que sim. Foi uma falha inaceitável o que aconteceu lá.

Qual comportamento o sr. espera da esquerda em relação ao seu governo?

Acho que a oposição é natural em qualquer governo. O que tenho certeza que vai ocorrer é diálogo. O governador é aberto a quem discorda dele. Quero ter diálogo com toda a Assembleia Legislativa. E conversar com quem ainda tiver alguma dúvida das políticas que vamos adotar. Tudo se resolve com diálogo para encontrar políticas públicas de qualidade.

Daqui a quatro anos, o sr. acha que as pessoas vão poder sair de casa sem deixar o celular do Pix em casa?

Publicidade

Sem dúvida. Hoje vivemos casos graves de roubos de celular e de motos porque esses roubos alimentam uma cadeia da economia ilícita, que nós vamos combater. Não adianta só focar no crime do roubo. É preciso ver quem está lucrando com isso. O crime é uma atividade econômica como outra qualquer, como mostrou o (economista) Gary Becker. Vamos ampliar parcerias com instituições bancárias para combater os sequestros do Pix. Vamos monitorar, no programa Muralha Paulista, por meio do IMEI (dos celulares), a localização exata do aparelho. E usar tecnologia. Espero entregar, após quatro anos, uma segurança muito melhor do que a de hoje.