Haddad diz que houve ‘politização indevida’ sobre isenção fiscal a pastores e prevê regra definitiva

Ministro da Fazenda afirma que governo criou grupo de trabalho com parlamentares para analisar tributação sobre remuneração a líderes religiosos após se encontrar com representantes da bancada evangélica

PUBLICIDADE

Foto do author Amanda Pupo
Por Fernanda Trisotto e Amanda Pupo (Broadcast)
Atualização:

BRASÍLIA - O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que o governo criou um grupo de trabalho para discutir a isenção tributária sobre a remuneração de pastores. Segundo ele, houve uma ‘politização indevida’ sobre o tema.

Na quarta-feira, a Receita Federal havia suspendido uma medida da gestão Bolsonaro que ampliava a isenção de contribuições previdenciárias sobre a remuneração de líderes religiosos, além de livrar as igrejas de dívidas milionárias. A decisão gerou duras críticas da bancada evangélica.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

PUBLICIDADE

“Suspendemos um ato e criamos um grupo de trabalho, com União e TCU, para entender como interpretar a lei aprovada no Congresso de forma a prejudicar nem beneficiar quem quer que seja”, afirmou o ministro após encontro com representantes da bancada evangélica nesta sexta-feira, 19.

De acordo com o ministro, como há dúvidas acerca da interpretação, o grupo de trabalho com técnicos de órgãos de controle ajudará a estabelecer a interpretação definitiva da regra sobre isenção tributária para igrejas. “O papel da Receita e do governo é cumprir a lei, de acordo com o que foi estabelecido pelo Congresso”, disse.

Segundo Haddad, a Receita busca entendimento sobre extensão desse benefício e isso é fundamental para que os auditores tenham segurança jurídica ao interpretar e aplicar a regra sobre isenção tributária.

Publicidade

“Como houve ato não convalidado e há, por parte do TCU, questão que ainda não foi julgada, não podemos continuar convivendo com essa questão (de incerteza sobre interpretação). É para isso que a AGU foi acionada. Estamos aqui para atender a lei. A AGU foi acionada para por fim à discussão. Houve muita politização indevida, estamos discutindo regra e vamos despolitizar isso”, disse.

Após o encontro, os deputados Silas Câmara (Republicanos-AM) e Marcelo Crivella (Republicanos-RJ) confirmaram a criação de um grupo de trabalho entre parlamentares e governo para eliminar as dúvidas sobre a interpretação da lei, o que culminará na edição de um novo ato para regulamentação.

Câmara fez questão de dizer que não houve cancelamento, apenas suspensão de ato regulatório que tratava da isenção tributária concedida à remuneração de pastores, e que isso ocorreu por uma série de desencontros. Segundo o deputado, o questionamento feito a Haddad foi sobre a queda do ato que regulamentava a aplicação da lei.

Com o restabelecimento do diálogo, a expectativa é de que cessem os ruídos sobre a suspensão da regulamentação, que precisa refletir os apontamentos de órgãos de controle, como o Tribunal de Contas e Ministério Público da União. Ele também reiterou que a suspensão do ato não provoca perdas aos pastores e que essa é uma afirmação duvidosa, já que a lei não foi alterada.

Questionado sobre indícios de mau uso do instrumento por parte dos pastores, Câmara rechaçou as acusações e disse que não existe no segmento religioso, sobretudo evangélico, nenhum “jeitinho” para usar benefícios irregularmente.

Publicidade

Crivella, que também participou do encontro, afirmou que não há perseguição do governo em relação à lei que dá imunidade tributária a pastores e não há posição contrária a igrejas, já que a resolução suspensa apenas trazia as instruções aos fiscais no caso da aplicação da isenção.

Ele disse, ainda, que aproveitou o encontro para tratar com Haddad sobre a PEC apresentada por ele que prevê imunidade tributária para templos religiosos. Segundo o deputado, o ministro e o governo são favoráveis ao mérito do tema.

Ao revogar o ato, a Receita informou que estava atendendo a uma determinação do Tribunal de Contas da União (TCU). O TCU, no entanto, afirmou que ainda não há decisão sobre o processo que avalia a legalidade e legitimidade das prebendas – como é chamada a remuneração “especial” paga pelas igrejas a pastores e demais lideranças religiosas.

A Frente Parlamentar Evangélica do Congresso Nacional – que conta com 132 deputados e 14 senadores – emitiu uma nota de repúdio em que os parlamentares afirmam ver “com grande estranheza” a revogação da norma que, desde 2022, permite isenção tributária nos salários de líderes religiosos.

Contrariados, dizem na nota que “são ações como essa que, cada vez mais, afastam a população cristã” do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Publicidade

O segundo-vice-presidente da Câmara dos Deputados, Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), disse em vídeo publicado em seu perfil no X (antigo Twitter) que a medida foi uma “safadeza do governo Lula contra líderes religiosos”. /COLABOROU KARINA FERREIRA

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.