Tucanos e petistas convergem na avaliação de que o primeiro debate entre os candidatos a governador de São Paulo, que foi exibido domingo, 7, na TV Bandeirantes, foi polarizado entre Fernando Haddad (PT) e Rodrigo Garcia (PSDB) e que o ex-ministro Tarcísio de Freitas (Republicanos), candidato do presidente Jair Bolsonaro (PL), foi um coadjuvante no evento.
Esse cenário foi comemorado entre os tucanos, que tentam justamente quebrar a polarização entre PT e Bolsonaro, lamentado por petistas, que preferem enfrentar Tarcísio no segundo turno, e minimizado pela campanha do ex-ministro bolsonarista. A única convergência de análise nos três comitês é de que a irritação de Haddad foi um dos destaques do debate.
Interlocutores da campanha de Tarcísio ouvidos pela reportagem dizem que quem saiu perdendo “e muito” no debate foi o candidato do PT, que teria se “desestabilizado” no início com a crítica do ex-ministro de Bolsonaro, que o chamou de “pior prefeito da história” da capital. Tucanos e bolsonaristas dizem que Haddad ficou “visivelmente nervoso e irritado” e que o petista saiu contrariado do estúdio da Band logo após o fim do debate.
O tom exaltado de Haddad surpreendeu os tucanos. “Haddad tem uma característica parecida com o Rodrigo, de ser calmo e moderado. Ele não é explosivo, mas estava exaltado. Não estava em um bom dia”, disse o presidente do PSDB paulistano, Fernando Alfredo, que estava na plateia tucana.
O presidente do PSDB paulista, Marco Vinholi, que estava na claque tucana, afirmou que Tarcísio estava nitidamente desconfortável e usando uma “cola”, o que mostraria falta de preparo. “O Haddad queria confronto com o Tarcísio e não esperava que fosse ficar entre ele e Rodrigo”, disse o dirigente tucano.
Guilherme Afif Domingos, coordenador do programa de governo de Tarcísio, disse que o ex-ministro “cresce” na polarização com Haddad e que Garcia vai ficar fora desse confronto. “Quem não tem padrinho morre pagão”, brincou Afif. “A polarização da campanha será entre Tarcísio e Haddad. Rodrigo Garcia vai ficar fora e será sempre absolutamente ligado ao Doria”.
Sobre a “cola” do ex-ministro, justificou: “Conheço o Tarcísio. Ele é um engenheiro e toda vida trabalhou com anotação. É o apoio mental dele, mas vai precisar diminuir isso. em debate é preciso ficar mais solto”.
Avaliação
Na manhã desta segunda-feira, 8, a avaliação de petistas próximos a Lula era de que Haddad mordeu a isca jogada por Tarcísio de Freitas muito facilmente. Segundo eles, Haddad poderia ter rebatido o ataque à sua gestão como prefeito sem demonstrar tanta irritação com o rival logo de cara. “Haddad é o mais preparado de todos, mas passou a imagem de irritação”, diz um aliado reservadamente.
Segundo fontes do partido, no entanto, as pesquisas qualitativas a que o PT teve acesso após o debate foram positivas para Haddad, exceto em Ribeirão Preto, onde Garcia foi considerado vencedor.
O fato surpreendeu um grupo de aliados próximos ao presidente Lula. A hipótese dos petistas após o acesso às pesquisas é de que, apesar de ter virado vidraça e ficar na mira das críticas, Haddad se manteve como um dos nomes dominantes no debate, assim como Rodrigo Garcia (PSDB) e a exposição o ajudou.
Com relação ao desempenho dos adversários, petistas dizem que Tarcísio errou ao não embarcar na “dobradinha” com Haddad, pois acabou “esquecido” durante o debate.
Em reunião da coordenação da campanha de Lula nesta segunda-feira à tarde, alguns dos presentes comentaram que preferiram assistir ao evento em comemoração ao aniversário de 80 anos de Caetano Veloso, que aconteceu no mesmo horário do debate.
Lula não foi um deles - e acompanhou o desempenho de Haddad no enfrentamento com os adversários. A mulher do ex-presidente, Janja, se queixou aos demais por ter perdido a apresentação de Caetano na televisão. Segundo um presente na reunião, a avaliação foi de que o debate foi “válido para um primeiro debate”.
“Haddad foi muito bem no debate e cravou na testa do Tarcísio o símbolo de forasteiro. Acho um erro dos adversários Rodrigo e Tarcísio ter centrado fogo nele. Ambos disputam no mesmo campo. Mas isso comprovou o favoritismo do Haddad”, disse o advogado Marco Aurélio Carvalho (PT), coordenador do grupo Prerrogativas, que estava na plateia no estúdio da Band.
“É natural que o debate tenha ficado mais entre Haddad e Garcia. O primeiro lidera as pesquisas, o segundo é governador”, disse Emídio Souza, coordenador de programa de governo do Haddad.
Ainda segundo Emídio, Haddad foi o mais atacado e o único que discutiu ideias. “Ele se saiu bem no embate com o Rodrigo Garcia sobre saúde a o Covas, de quem o governador se diz herdeiro. E respondeu bem as agressões do Tarcísio”, disse Emídio.
“Tarcísio estava incompreensivelmente muito fraco nos conteúdos. Por outro lado, o Haddad não pode levar desaforo para a casa, se o Rodrigo chama para dançar, ele tem que responder”, afirmou o ex-ministro Luiz Marinho (PT).
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