Haddad quer Marina na vaga de vice para atrair eleitor moderado em SP

Pré-candidato ao governo paulista, petista se aproxima de ex-ministra, mas estratégia esbarra na resistência de aliados

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Foto do author Pedro  Venceslau
Foto do author Beatriz Bulla
Atualização:

Pré-candidato ao governo de São Paulo, o ex-prefeito e ex-ministro Fernando Haddad (PT) tem se aproximado da ex-ministra Marina Silva (Rede). Segundo pessoas próximas do petista, ele quer a ex-senadora na vaga de vice. A ideia é tentar reduzir o antipetismo no interior do Estado e, assim, atrair o eleitorado de centro, mas a estratégia esbarra na resistência de membros da coligação e do próprio PT.

Marina já foi petista, fundou a Rede Sustentabilidade e está cotada para ser candidata a deputada federal por São Paulo. A Rede fechou aliança com o PT no plano estadual. Até agora a ex-ministra do Meio Ambiente do governo Luiz Inácio Lula da Silva não manifestou publicamente apoio à pré-candidatura do ex-presidente ao Palácio do Planalto, apesar da insistência do petista.

Haddad e Marina em debate em 2018; petista ‘sonha’ tê-la como vice. Foto: Gustavo Cabral/A12

O passado pesa para Marina. Na disputa presidencial de 2014, ela foi atacada pela campanha de reeleição de Dilma Rousseff (PT). No segundo turno daquele pleito, manifestou apoio a Aécio Neves (PSDB-MG). Dois anos depois, a petista, reeleita, foi cassada em processo de impeachment.

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Líder nas pesquisas de intenção de votos, Haddad diz em conversas reservadas com aliados e pessoas mais próximas que considera Marina a “vice dos sonhos” na coligação. Hoje, além da Rede, ele tem o apoio de PCdoB, PSOL e PV. Os dois ex-ministros mantêm boa relação desde que trabalharam juntos em Brasília no governo Lula e conversam com regularidade.

“Marina Silva tem capacidade para ocupar qualquer um desses cargos (deputada federal ou vice) por sua experiência. Nosso convite para Marina foi para ela ser deputada federal, inclusive por causa de uma definição partidária nacional de focarmos nas candidaturas à Câmara. É inegável que uma candidata como ela, em qualquer uma dessas posições, agregaria demais a São Paulo e ao Brasil. Vamos construir em conjunto o que for melhor para o Brasil, para a Rede e para o governo Haddad, mas entendo que, sobretudo, essa é uma decisão dela”, disse Mariana Lacerda, porta-voz da Rede.

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RELAÇÃO

Pessoas próximas de Marina relataram que a ex-ministra estabeleceu uma relação com Haddad diferente da que tem com Lula e confirmaram que eles estão próximos. O partido dela vai se engajar na campanha do petista, mas a ideia de Marina ser vice esbarra na necessidade da legenda de superar a cláusula de barreira para sobreviver, o que a deixa na condição de “puxadora de votos”. Procurada, Marina não se manifestou.

A ex-ministra teve papel decisivo nos debates da Rede que culminaram no apoio por unanimidade do partido à pré-candidatura de Haddad. Petistas que endossam a articulação do ex-prefeito para tê-la como vice avaliam que a ex-ministra cumpriria em São Paulo o mesmo papel de Geraldo Alckmin (PSB) na chapa de Lula – o ex-presidente também deseja ter Marina no palanque nacional. Alckmin foi encarregado de fazer a interlocução da campanha com setores do centro.

ENTRAVE

A escolha de Haddad, porém, é uma equação complexa na coligação que o apoia. A federação partidária formada por PSOL e Rede reivindica uma das posições majoritárias: Senado ou vice. Se o PSB apoiar Haddad e indicar o ex-governador Márcio França ao Senado, como propõe Lula, as outras duas legendas teriam a prerrogativa de indicar o candidato a vice – França, no entanto, insiste em concorrer ao Palácio dos Bandeirantes, a despeito das tentativas de convencimento do ex-presidente.

A ex-ministra teve papel decisivo nos debates da Rede que culminaram no apoio por unanimidade do partido à pré-candidatura de Haddad. Foto: Wilton Junior/Estadão

O nome de Marina seria natural nesse cenário, mas no âmbito da federação, o PSOL, que é maior do que a Rede, exige um nome da sigla. Na próxima semana, o presidente do PSOL, Juliano Medeiros, e o líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), Guilherme Boulos, vão se reunir com Marina. A ideia é tratar dos planos políticos da ex-ministra. Assim como ela, Boulos busca uma vaga na Câmara para puxar votos.

Há impasses, porém, em torno da exigência do PSOL. Para Haddad, ter um nome identificado com a esquerda tradicional como vice não amplia o arco de alianças. Ao contrário. Reservadamente, aliados do ex-ministro veem essa escolha como um entrave no plano de convencimento do eleitorado mais moderado.

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O convite a ela (Marina Silva) parte principalmente da necessidade de termos uma voz com a envergadura dela para combater os retrocessos ambientais.”

Marina Helou, deputada estadual de São Paulo pela Rede

3 perguntas para Marina Helou (deputada estadual pela Rede)

Qual a avaliação da Rede sobre Fernando Haddad? O partido vê com entusiasmo o nome dele?

O apoio ao Haddad foi consensual na instância estadual do partido por enxergamos nele a possibilidade da tão importante alternância de poder no Estado de São Paulo.

Qual a importância da candidatura de Marina para a Rede superar a cláusula de barreira?

A importância de ter Marina Silva de volta ao Congresso vai muito além do apoio ao partido na superação da cláusula de barreira. O convite a ela parte principalmente da necessidade de termos uma voz com a envergadura dela para combater os retrocessos ambientais que o País está vivendo.

A Rede vai apoiar o Lula?

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A direção nacional da Rede decidiu liberar os membros no envolvimento e apoio para eleição das candidaturas de Lula ou Ciro.

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